12 de novembro de 1912: acontece a “terça-feira negra”, confronto em meio a uma greve de mineiros que marcou o movimento sindical da Nova Zelândia

Há 110 anos, ocorreu a greve dos mineiros na cidade de Waihi, Novo Zelândia, longa mobilização que marcou o imaginário trabalhista no país.

Greve de mineiros em Waihi, Nova Zelândia, 1912. Fotografia: Te Ara

Igor Natusch

Na história de resistência dos trabalhadores na Nova Zelândia, a greve dos mineiros na cidade de Waihi, ocorrida em 1912, está entre as iniciativas mais importantes e significativas. A longa mobilização, iniciada em maio daquele ano e com várias inflexões nos meses seguintes, chegou ao ponto de maior violência em 12 de novembro de 1912: após um confronto que ficou conhecido como a “terça-feira negra”, o trabalhador sindicalizado Fred Evans acabou morrendo enquanto estava em custódia policial, incidente trágico que marcou de forma significativa o imaginário trabalhista no país.

As disputas em torno das minas de ouro em Waihi se deram em um cenário de exploração de trabalhadores – e, em paralelo, de rápida expansão do sindicalismo no país da Oceania. Tensões entre os mineiros e a Waihi Goldmining Company, que controlava a extração de ouro na região, eram comuns, incluindo frequentes situações em que os trabalhadores cruzavam temporariamente os braços, geralmente após acidentes em meio ao extenuante trabalho nas minas. A falta de cuidado com as condições de trabalho também resultava em trabalhadores doentes ou incapacitados pelo acúmulo de poeira nos pulmões. 

A escalada de tensões virou greve a partir de um rompimento dentro da Waihi Trade Union of Workers, entidade sindical que representava os mineiros locais e tinha conexões com o então Partido Socialista neozelandês. Trabalhadores que transportavam o maquinário entre as minas decidiram formar uma dissidência – o que foi interpretado, pela maioria dos trabalhadores, como uma ação encorajada pelos patrões para esvaziar o sindicato. Depois dos primeiros dias, a greve ganhou novos contornos, passando a representar também um grito por mudanças profundas no modo de trabalho nas minas. Apesar da reação do Partido Reformista, de caráter conservador e então no poder, a paralisação conquistou apoio da classe trabalhadora em boa parte da Nova Zelândia.

A repressão policial em Waihi foi intensa, com dezenas de trabalhadores presos – uma situação que ampliou a revolta entre os grevistas, gerando núcleos radicalizados que já não respondiam às decisões da Federation of Labour, central sindical neozelandesa à qual a Waihi Trade Union of Workers estava ligada. A partir de outubro de 1912, quando as minas de Waihi reabriram a partir da contratação de trabalhadores não-sindicalizados, parte desses grupos passaram a promover ações de sabotagem por conta própria, além de atacarem os “fura-greve” em várias ocasiões. Os recém-contratados (em sua maioria pessoas precarizadas, que aceitavam a situação como uma necessidade de sobrevivência) se ressentiram de serem acusados de traidores da classe trabalhadora e passaram a se aliar às forças policiais em algumas situações – um gesto movido parte por ressentimento, parte por um sentido de proteção em meio à violência crescente. 

Esse tenso caldeirão transbordou em 12 de novembro daquele ano. Um grupo formado por policiais e trabalhadores não-sindicalizados promoveu um ataque à sede do sindicato em Waihi, com o objetivo de desalojar os grevistas que lá estavam. Mesmo em menor número, os sindicalizados resistiram à ação, e um breve tiroteio teve início. Fred Evans, um grevista que havia se radicalizado nos últimos meses, teria disparado contra os invasores, ferindo dois deles. Um dos atingidos, porém, conseguiu derrubá-lo, e Evans acabou sendo espancado e pisoteado na confusão que se seguiu. Mesmo severamente ferido, ele ainda ficaria durante mais de uma hora em uma cela policial antes de ser levado ao hospital, onde faleceu no dia seguinte. 

Por um lado, a “terça-feira negra”, como passou a ser conhecida, sinalizou o fim da greve, com vários trabalhadores simplesmente fugindo de Waihi. No fim das contas, o movimento acabou não alcançando, originalmente, as metas que almejava. Em paralelo, porém, Fred Evans tornou-se um mártir do movimento sindical neozelandês: seu funeral, na cidade de Auckland, foi um enorme ato político, e uma ampla campanha recolheu recursos para a viúva, May Evans, ela mesma uma figura significativa durante todo o movimento grevista. Essas ações dispararam um movimento de aglutinação no cenário sindical da Nova Zelândia, com uma fusão de entidades que resultaria, em 1916, na fundação do ainda ativo Partido Trabalhista do país.

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