Há 97 anos, chegava ao fim a greve geral no Reino Unido, maior paralisação do tipo já registrada em solo britânico
Igor Natusch
Durante nove dias de 1926, cerca de 1,7 milhão de trabalhadores cruzaram os braços no Reino Unido, naquela que é, até hoje, a maior greve já registrada naquela região. Encerrada no dia 12 de maio, a paralisação não teve sucesso no alcance de suas principais reivindicações, mas muitos enxergaram na mobilização a semente para um novo sentimento de solidariedade na classe trabalhadora – um “brilhante fracasso”, na descrição de Walter Milne-Bailey, que era à época secretário de pesquisa do Trades Union Congress (TUC), federação que até hoje reúne a maioria dos sindicatos nacionais do Reino Unido.
A greve esteve centralizada na indústria de carvão, que vinha enfrentando uma série de dificuldades econômicas desde o início da Primeira Guerra Mundial. Em julho de 1925, os proprietários de minas de carvão britânicas anunciaram a intenção de reduzir salários, ameaçando um lockout (no caso, impedir os trabalhadores de irem às minas) se suas demandas não fossem atendidas. O governo concedeu subsídio a esses patrões, pelo período de nove meses, e formou uma comissão de lordes para analisar a questão. Essa comissão publicou, em março de 1926, um relatório no qual recomendava uma série de medidas para controlar a crise no setor – entre elas, a retirada do subsídio e a redução dos salários em 13,5%, sem aumento de jornada. Os proprietários, contudo, anunciaram reduções de até 28%, além de mais horas de trabalho – uma medida não aceita pela TUC, que decidiu pela greve em uma assembleia geral, no dia 1° de maio de 1926.
Iniciada dois dias depois, a paralisação rapidamente lançou a Inglaterra no caos, tendo efeitos também em outros países da Grã-Bretanha. Trens e ônibus pararam de circular, cargas ficaram retidas nas docas, e serviços de correspondência e navegação foram seriamente comprometidos. O Partido Trabalhista, que ainda buscava consolidar-se como força política, foi contrário à greve e promoveu uma série de esforços de negociação, tentando interromper o movimento com rapidez. Foi inútil: a adesão surpreendeu até a própria TUC, que praticamente perdeu o controle da paralisação.
A greve foi fortemente denunciada como uma tentativa de revolução e de destruição da democracia britânica; então primeiro-ministro, o conservador Stanley Baldwin afirmou que os grevistas estavam criando “uma trilha para a anarquia e a ruína”. Após uma decisão da Alta Corte, que considerou protegida pela lei apenas a paralisação concernente aos mineiros, a participação de outros setores passou a ser vista como uma contravenção, o que tornava os sindicatos envolvidos passíveis de punições e até de sequestro de seus bens. Nesse cenário, a impressionante adesão inicial perdeu força, e o TUC concordou em encerrar a greve em 12 de maio de 1926, a partir da promessa governamental de que as medidas propostas pela comissão seriam seguidas e que os grevistas não seriam perseguidos.
Os trabalhadores das minas ainda resistiram até novembro, mas as dificuldades de sobrevivência forçaram o retorno ao trabalho, sem reverter a redução salarial e precisando trabalhar mais horas por dia. Muitos viram a iniciativa como um erro, que apenas piorou a situação dos mineiros e reforçou a posição de patrões e políticos conservadores – não por acaso, o Reino Unido nunca mais vivenciou uma greve geral em sua história. Leituras mais recentes, contudo, têm buscado ressignificar esse ato coletivo de revolta, tratando-o como um símbolo de união capaz de inspirar as disputas trabalhistas do presente e sugerir novas abordagens ao modelo institucional vigente.
Muito esclarecedor, já q no seriado The Crown, na Netflix, muitos detalhes foram omitidos. Na verdade, o objetivo do seriado era mostrar a greve do ponto de vista da monarquia. Aqui ficou mais fácil de entender o contexto geral. Muito obrigado pelas informações..
[…] A saúde pública britânica, o país mais rico da época, ainda estava em mau estado e com altos níveis de mortalidade infantil, além da pobreza generalizada. A Vegetarian Society enviou cestas básicas para comunidades mineiras durante a Greve Geral de 1926 no Reino Unido. […]
[…] A saúde pública britânica, o país mais rico da época, ainda estava em mau estado e com altos níveis de mortalidade infantil, além da pobreza generalizada. A Vegetarian Society enviou cestas básicas para comunidades mineiras durante a Greve Geral de 1926 no Reino Unido. […]