Há 211 anos, operários destruíam máquinas de costura em Arnold, na Inglaterra, marcando o começo do movimento ludita
Igor Natusch
Histórica e violenta reação de trabalhadores britânicos ao advento do maquinário na indústria têxtil, o movimento ludita tornou-se, com o passar dos anos, um sinônimo (tanto intelectual quanto, por vezes, pejorativo) de insatisfação diante de tecnologias voltadas à redução da presença humana em postos de trabalho. Antes de alastrar-se pelo Reino Unido, a destruição de equipamentos como gesto organizado de revolta teve início, segundo historiadores, em um protesto ocorrido em Arnold, subúrbio da cidade inglesa de Nottingham, no dia 11 de março de 1811.
Ataques contra a propriedade dos patrões não eram inéditos na história britânica, com registros de moinhos incendiados e equipamentos de trabalho destruídos pelo menos desde o século XVIII. Mas a situação econômica do começo do século XIX, agravada pela envolvimento inglês nas Guerras Napoleônicas, resultou em uma dramática precarização das condições de vida da classe trabalhadora.
Com o crescente advento de máquinas nos ambientes de trabalho, os operários temiam que sua especialização em determinadas tarefas se tornasse obsoleta – ou levando à substituição por trabalhadores menos qualificados, ou forçando-os a aceitar atividades ainda mais precárias e de má remuneração. Em reação a esses temores, grupos de operários da indústria têxtil passaram a se encontrar de forma secreta para organizar ações violentas de protesto.
O ataque que deu início histórico ao movimento ludita aconteceu em uma segunda-feira, na sequência de um dia inteiro de protestos no mercado central de Nottingham. Segundo jornais da época, os discursos traziam bandeiras simples, como uma maior oferta de empregos e redução dos preços de produtos básicos. Ao cair da noite, contudo, parte dos manifestantes (de seiscentas a duas mil pessoas, dependendo dos artigos da época) regressou a Arnold e passou a atacar tecelagens cujos proprietários eram detestados, levando à destruição de cerca de sessenta máquinas de costura – atos que, vale dizer, foram recebidos com aprovação pela população em geral, ao ponto de obstruir a ação de autoridades que tentavam interromper o quebra-quebra.
Os atos de caráter ludita só passaram a ganhar esse nome posteriormente, em referência a um personagem (provavelmente folclórico) chamado Neil Ludd. Da mesma forma, não foi senão a partir de novembro de 1811 que os sinais de um movimento organizado surgiram, primeiro no condado de Nottinghamshire, depois em vários outros pontos da Inglaterra, chegando ao auge entre os anos de 1812 e 1813. Mas a reação indignada dos trabalhadores e trabalhadoras da pequena Arnold acabou sendo um ponto de partida histórico, introduzindo os elementos básicos para os gestos de revolta posteriores.