11 de fevereiro de 1919: chega ao fim a greve geral em Seattle, movimento que disparou a histeria em torno da “ameaça comunista” nos EUA

Chegava ao fim a greve geral em Seattle, movimento que disparou a histeria em torno da “ameaça comunista” nos EUA.

Grevistas em Seattle, 1919. Fotografia: Webster & Stevens/MOHAI

Igor Natusch

Embora estivesse longe de ser um acontecimento inédito na sempre agitada história sindical dos Estados Unidos, a greve geral em Seattle no começo de 1919 acabou sendo um acontecimento significativo do ponto de vista histórico. A paralisação, que chegou ao fim em 11 de fevereiro daquele ano, escancarou as tensões sociais no país após o esforço da Primeira Guerra Mundial, e acabou sendo decisiva para disparar um forte movimento anticomunista nos EUA, momento histórico que ficou conhecido como red scare (ou ameaça vermelha, em português).

O principal gatilho para a greve foi o congelamento de salários, parte do esforço de guerra norte-americano no final da década de 1910. Meses após o fim do conflito, o congelamento salarial seguia em vigor, o que achatou o poder aquisitivo das famílias de trabalhadores. Em paralelo, o percentual de sindicalização disparava: segundo historiadores, o número de associados a entidades de caráter sindical em Seattle em 1918 era cerca de quatro vezes maior do que em 1915. Mais fortes, os sindicatos se tornaram também mais capazes de promover ações de impacto em busca de seus objetivos.

Nesse cenário tensionado, os ecos da Revolução Russa de 1917 chegaram de forma encorajadora aos ouvidos de trabalhadores e trabalhadoras da região. Embora a maioria dos sindicatos do estado de Washington fosse filiada à central American Federation of Labor (AFL), mais moderada, as ideias discutidas nas fraternidades eram bastante radicais, girando em torno do domínio completo das fábricas pelos trabalhadores – muito embora poucas ações tomadas durante o movimento realmente apontarem nessa direção.

O fracasso das negociações entre patrões e operários da indústria de construção naval, em janeiro de 1919, acabou sendo o estopim para a greve geral em Seattle. Durante cinco dias, mais de 65 mil pessoas cruzaram os braços, mantendo apenas atividades como recolhimento de lixo e limpeza de hospitais. Uma rede de distribuição de refeições para os grevistas também foi estabelecida. Porém, mesmo esses esforços não conseguiram dar conta das necessidades de tantos trabalhadores e trabalhadoras, o que começou a causar desânimo e preocupação. 

Talvez ainda mais que a interrupção do trabalho, o que apavorou governantes e donos de fábrica foi a alta politização da greve. Panfletos eram distribuídos em grande quantidade, com conteúdo abertamente revolucionário: um deles dizia que os trabalhadores estavam “condenados à escravidão do salário”, a não ser que se organizassem para tomar os meios de produção. Na imprensa tradicional de então, a paralisação foi amplamente tratada como um movimento de inspiração bolchevique, e a pressão de comentaristas fez com que o prefeito de Seattle, Ole Hanson, solicitasse reforço nas forças policiais, preparando armas e regimentos para uma possível batalha campal.

Nenhum ato de violência foi registrado, porém. Mantendo sempre o caráter pacífico, a greve encerrou-se naturalmente: os líderes sindicais, filiados à AFL ou ao Industrial Workers of the World (IWW), começaram a temer que a reação negativa da opinião pública pudesse afastar futuros filiados, e os próprios operários, assustados com o clima belicoso, começaram a voltar aos postos de trabalho. Em votação no final da tarde de 10 de fevereiro, o comitê de greve decidiu por dar fim ao movimento, o que se concretizou no dia seguinte. Os operários da construção naval, contudo, seguiram de braços cruzados durante algumas semanas.

Seja como for, a ideia conspiratória de que uma “ameaça vermelha” rondava os EUA ganhou força. Líderes sindicais foram presos (mesmo que, em alguns casos, não tivessem quase nada a ver com os acontecimentos) e o prefeito Hanson renunciou ao cargo alguns meses depois, passando a dar palestras sobre sua “vitória” contra os “bolcheviques antipatriotas” em várias grandes cidades do país. O Senado norte-americano deu ao Comitê Overman, que desde 1918 investigava supostos subversivos alemães em solo norte-americano, poderes ampliados para apurar a presença de agitadores comunistas – uma investigação que ganhou ares sensacionalistas e disparou vários atos de tensão em todo o país. A histeria anticomunista só se acalmaria em 1920, quando um suposto golpe de estado marcado para 1º de maio não se concretizou.

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