Há 53 anos, morria o sindicalista Walter Reuther, um dos mais importantes líderes da história do trabalho nos EUA
Igor Natusch
“Você não pode se abster da vida. É preciso decidir se você está disposto a aceitar as coisas como elas são, ou se quer tentar mudá-las”. A citação resume boa parte do pensamento e do legado de Walter Reuther, fabricante de ferramentas e moldes para a indústria de automóveis que tornou-se um dos ícones da história sindical dos Estados Unidos. Seu principal legado, segundo muitos admiradores, é ter aproximado a luta sindical em seu país de bandeiras progressistas, atuando não apenas para melhorar salários e condições de trabalho, mas também a favor de direitos humanos e justiça social.
Walter Phillip Reuther nasceu em 01 de setembro de 1907, em Wheeling, no estado norte-americano de West Virginia. Sua visão sobre questões sociais teve forte influência de seu pai, integrante do sindicato dos trabalhadores da indústria de bebidas de sua região. Junto com seu irmão, Victor, Walter partiu para Detroit no final dos anos 1920, obtendo emprego na Ford Motor Company. Após ser demitido em 1932 (o que, segundo ele, foi consequência direta de suas atividades políticas), o futuro sindicalista resolveu viajar pelo mundo por quase três anos, ao lado do irmão. Essa jornada, diria mais tarde, consolidou sua disposição de engajar-se na luta por melhores condições de vida para trabalhadores e trabalhadoras.
Reuther juntou-se ao sindicato nacional de trabalhadores da indústria automobilista (UAW, na sigla em inglês) pouco depois de seu retorno, em 1935, e logo tornou-se figura destacada na organização, chegando à vice-presidência em 1942 e à presidência nacional em 1946. Elogiado por seu intelecto e poder de oratória, Walter era também uma figura enérgica, quase onipresente tanto nos piquetes e passeatas quanto nas mesas de negociação. A partir de sua liderança, a UAW cresceu ao ponto de ter mais de 1,5 milhão de filiados, o que fez dela uma das principais entidades sindicais dos EUA.
Além de conquistar vários avanços para a categoria, a UAW se tornou uma força muito influente na política dos EUA. Sempre com Walter Reuther à frente, o sindicato marchou ao lado de Martin Luther King Jr., ajudou a fundar o grupo Americans for Democratic Action, liderou movimentos por sistemas públicos de educação e de acesso à saúde, e foi decisivo para viabilizar o primeiro Dia da Terra, evento anual que procura alertar o mundo para a questão ambiental.
Sua fama, é claro, também trouxe detratores e inimigos. Antigo aliado dos comunistas, voltou-se contra eles ainda nos anos 1940, considerando que submetiam os interesses da massa trabalhadora às conveniências da União Soviética. Ainda assim, era detestado por políticos ligados ao Partido Republicano, que o tratavam como uma das principais ameaças ao modo de vida norte-americano. Walter Reuther sofreu ao menos duas tentativas de assassinato: em 1938, os criminosos foram detidos por familiares do sindicalista, mas acabou gravemente ferido em 1948, quando atiradores dispararam pela janela de sua cozinha. Ferido no estômago e no braço direito, Walter esteve à beira da morte, mas sobreviveu. Seu irmão Victor, também destacado sindicalista, foi alvo de um ataque semelhante, menos de um ano depois. Nenhuma dessas tentativas de assassinato foi esclarecida pelas autoridades.
No dia 9 de maio de 1970, Walter Reuther, sua esposa May Wolf e outras quatro pessoas morreram quando seu avião fretado caiu logo antes de pousar no aeroporto de Pellston, Michigan. Alimentadas por algumas conclusões da perícia, que identificou problemas no altímetro da aeronave, suspeitas de assassinato pairam até hoje sobre a morte do sindicalista. Seu legado, porém, permanece: objeto de numerosas homenagens, Reuther recebeu postumamente uma medalha presidencial em 1995 e apareceu na capa da revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do Século 20.