6 de julho de 1981: inicia greve de trabalhadores da Ford no ABC, que conquistaria a primeira comissão de fábrica em tempos de ditadura militar

Há 42 anos, iniciava greve de trabalhadores da Ford no ABC, que conquistaria a primeira comissão de fábrica em tempos de ditadura militar

Capa do jornal Tribuna Metalúrgica, edição n. 1/1982, apresentando uma das conquistas da greve iniciada em julho de 1981. Imagem: SMABC

Igor Natusch

Cruzar os braços, para a classe trabalhadora, é muitas vezes menos uma escolha do que uma necessidade de sobrevivência. Nunca é fácil, e por vezes acaba tendo um custo alto – mas, em outras situações, a greve acaba sendo o disparador de importantes mudanças. É o caso da paralisação de cerca de 9 mil trabalhadores na fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo, disparada no dia 6 de julho de 1981. Ao final do movimento, os operários conseguiram atingir a maioria de suas demandas – entre elas, a formação da primeira Comissão de Fábrica formalmente reconhecida em uma montadora no Brasil.

O cenário era de esfarelamento da ditadura militar, coincidindo com o surgimento de novos movimentos sociais organizados e um momento de efervescência nas atividades sindicais. Com o fim das ilusões trazidas pelo “milagre econômico” da primeira metade dos anos 1970 e a consequente disparada da dívida externa, o Brasil vivenciava um momento de recessão econômica, e o recuo industrial resultava em ondas cada vez mais volumosas de demissões. O clima na fábrica da Ford no ABC paulista, que já era tenso, deteriorou-se ainda mais a partir de 3 de julho de 1981, quando a companhia anunciou a demissão de 450 trabalhadores.

Três dias depois, foi disparada a greve. Entre as demandas, além de readmissões e melhorias nas condições de trabalho, era exigido o reconhecimento da Comissão de Fábrica. Os funcionários batiam o ponto, iam para os postos de trabalho e não ligavam as máquinas: apenas permaneciam parados em seus lugares até o fim da jornada, quando registravam a saída e voltavam para casa. Enquanto isso, grupos realizavam passeatas dentro da fábrica – que terminavam, nos três turnos, na frente do departamento de Relações Trabalhistas, com muitas faixas e palavras de ordem.

Durante cerca de duas semanas, a direção da Ford recusou-se a negociar a pauta dos trabalhadores em greve, contando que a Justiça declararia o movimento ilegal. A contra-estratégia dos grevistas foi retomar as atividades, de forma parcial e temporária, de forma a esvaziar qualquer sanção judicial. A tática funcionou: começando a sentir o peso da queda na produção, e temendo um prolongamento do impasse, os patrões concordaram em sentar à mesa de negociação.

O acordo foi selado no dia 21 de julho daquele ano. Entre as conquistas, a readmissão de parte dos trabalhadores demitidos e uma série de garantias para os grevistas, incluindo desconto parcelado dos dias não trabalhados e três meses de estabilidade antes de qualquer futura demissão. Principal desdobramento do movimento, a conquista da Comissão de Fábrica teve efeitos positivos e duradouros, garantindo melhorias nas condições de trabalho e diminuindo a quantidade de paralisações, e se tornou uma bandeira comum a várias greves semelhantes que se seguiram. Fechada em 2019, a planta da Ford em São Bernardo foi adquirida em junho de 2020 pela Construtora São José, que deve transformar o espaço em um centro logístico. 

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