2 de agosto de 1919: é publicada a primeira edição do jornal Spártacus, importante veículo da imprensa anarquista brasileira

Há 103 anos, foi publicada a primeira edição do jornal Spártacus, importante veículo da imprensa anarquista brasileira.

Primeira página da 2ª edição de Spártacus. Imagem: Marxists Internet Archive

Igor Natusch

A imprensa operária brasileira surgiu como desdobramento direto da explosão sindical na virada do Século XX, quando a industrialização e a chegada de imigrantes criaram uma verdadeira efervescência no pensamento de trabalhadores e trabalhadoras. Em um mercado editorial quase inexistente, obter livros e publicações estrangeiras era caro e difícil, e muitas discussões acabavam originalmente restritas a pequenos núcleos nas grandes cidades do Brasil. Nesse cenário, os muitos periódicos brasileiros de então surgiam de uma necessidade coletiva, cumprindo importante papel na circulação de ideias políticas. Nascido no coração desse cenário, o jornal Spártacus é intimamente ligado a José Oiticica, educador e uma das figuras centrais na militância anarquista da época. 

Ao lado de José Rodrigues de Leite, Oiticica havia dirigido, entre 1914 e 1915, a revista A Vida, outro periódico fundamental na imprensa libertária do início do século passado. Nos anos seguintes, o articulista colaborou com outros veículos, como A Voz do Trabalhador e A Lanterna, mas sempre acalentando o desejo de retomar uma publicação de sua própria lavra. Após passar um período na prisão – um contratempo relativamente comum entre os anarquistas brasileiros de então – Oiticica buscou a parceria de nomes como Astrojildo Pereira, Adolfo Busse e Izauro Peixoto para transformar a ideia em realidade.

A primeira edição de Spártacus foi publicada há exatos 100 anos, no dia 02 de agosto de 1919. A escolha do nome era explicada, em editorial, como um protesto contra a tentativa de apagamento da “maior figura da história romana”, traçando um paralelo sobre a vida revolucionária do personagem e os objetivos do novo jornal:

“Nos gemidos dos famintos, no exterior dos soldados europeus assassinados, nos cantos da rebeldia proletária, no ranger das penas reivindicatórias, nas vozes dos tribunos libertários, no tumultuar dos comícios de protestos, em toda a parte onde bradar uma alma constrangida e chorarem olhos de oprimidos o espírito de SPÁRTACUS vibrará e cintilará uma faixa de sua irradiação, viverá com impulso de revolta, como gênio de renovação.”

O novo jornal diferia de A Vida, entre outras coisas, pelo público-alvo. Enquanto a revista anterior admitia ser voltada em especial aos estudiosos e militantes anarquistas, Spártacus adotava uma linguagem mais acessível aos trabalhadores e trabalhadoras em geral, além de incluir em suas páginas letras de música, poesias e charges. O periódico “modesto, mas irredutível” também servia como espaço para que Oiticica divulgasse suas ideias a respeito da educação, vista por ele como parte de um processo de aquisição de autonomia pela classe trabalhadora. 

Apesar de uma repercussão inicial bastante positiva, as assinaturas, rifas e listas de doações não foram suficientes para garantir vida longa ao jornal. A última edição semanal de Spártacus circulou em 10 de janeiro de 1920, totalizando 24 números. Embora não tenha chegado a completar sequer um ano em circulação, o  periódico foi importante em um período muito rico da história operária do país, e marcou de forma positiva a produção posterior de José Oiticica, que publicaria uma série de livros e artigos até sua morte, em 1957. 

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