por Laura Glüer
A economista Maria Conceição Tavares, falecida no último sábado, 8 de junho de 2024, aos 93 anos, deixou um legado da maior relevância para a luta dos trabalhadores no Brasil. A portuguesa naturalizada brasileira, foi uma das mais influentes intelectuais do nosso tempo e teve papel fundamental na discussão de uma economia com justiça social.
Maria Conceição Tavares atuou no BNDES, em projetos importantes para a industrialização do país e com a CEPAL em defesa do desenvolvimento da América Latina. Escreveu centenas de artigos e muitos livros. Seus vídeos viralizam na internet por sua fala sempre franca e direta na luta por um Brasil menos desigual.
Uma geração de economistas teve influência direta de Maria Conceição Tavares. Sua visão crítica e combativa ao Capitalismo foi fonte para uma série de estudos sobre a desigualdade social e distribuição de renda, impactando diretamente nos debates sobre o mundo do trabalho.
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Por todo esse legado, DMT em Debate presta a justa homenagem a essa mulher à frente do seu tempo. Veja a opinião de alguns dos nossos colaboradores sobre sua importância histórica:
“Maria da Conceição Tavares foi uma pensadora ardorosamente dedicada ao desenvolvimento soberano do Brasil, tema central em suas três grandes fases de produção como teórica, pesquisadora da realidade mundial e professora – na Cepal, na construção do pensamento econômico da Unicamp e na UFRJ. Sua trajetória, além de estar amalgamada a história do país, deu contornos ao heterodoxismo brasileiro, em uma versão criativa e agudamente oposta à tradição de distanciamento dos atores sociais, comum nas escolas econômicas do país. Com uma visão de que Economia é Politica, e de que política exige posicionamento – MCT defendeu desenvolvimento com peso na distribuição e seu legado é importante para os trabalhadores brasileiros, essencialmente por esta razão. Ver desvelados os esquemas de custos produtivos e de apropriações de produto e da renda se faz central para a organização de alternativas para o país e para o protagonismo da classe trabalhadora. A professora entendia esta necessidade de saber, carregada pelos trabalhadores organizados do Brasil, por isto sempre lecionou nos sindicatos, para assessores e dirigentes, contribuiu na elaboração de programas de governos democrático-populares e contou com o apoio trabalhista quando ocupou a tribuna política. E, por ter sabedoria e respeito pela capacidade popular, também reconhecia suas (nossas) lideranças – referia-se a Lula, como o operário, a Olívio Dutra, como o índio. No legado deixado por MCT fica, é evidente, a reflexão complexa e o rigor teórico, mas, sobretudo sua coragem e determinação”
Lucia Garcia, pesquisadora do mercado de trabalho e professora da Escola de Ciências do Trabalho do DIEESE
“Maria da Conceição Tavares foi a mais importante economista brasileira. Entre seus feitos, o mais relevante foi ter sido professora da UFRJ e Unicamp, onde formou milhares de economistas. Na Unicamp, ajudou a criar o mestrado e doutorado, atualmente o programa de pesquisa que melhor reflete sobre os problemas brasileiros. Ela é uma macroeconomista, desenvolvimentista, membro da Cepal. Na discussão sobre macroeconomia, colocava no centro de sua preocupação as pessoas, os assalariados, os desempregados, ou seja, todos os trabalhadores recebiam sua especial atenção. Para Tavares, era inconcebível falar de política econômica, sem observar os impactos nas pessoas, nos trabalhadores e nos desempregados. A melhoria na distribuição de renda, a eliminação da pobreza e do desemprego sempre foram o objetivo das suas formulações econômicas. Ou seja, apesar de ser uma macroeconomista, sempre teve como objetivo principal a eliminação do desemprego e da pobreza e a melhoria da distribuição de renda. É curioso que sua primeira formação é matemática, só depois vem a ser economista. E ela não cansava de enfatizar que a economia é uma ciência social e que não existe economia sem política. De alguma forma, ela também falava que aqueles economistas unicamente focados em modelos econômicos, como superávit fiscal e questões quantitativas, sem preocupação com o social, não poderiam ser chamados de economistas e, sim, de tecnocratas.
Cássio Calvete, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS e doutor em Economia Social do Trabalho, pesquisador da história do mercado de trabalho brasileiro