Cássio da Silva Calvete, Luciane Franke e Tiago Pinheiro
Resumo: Este estudo investiga a ocorrência da Grande Demissão no mercado de trabalho brasileiro, e suas principais motivações. Observou-se uma diversidade de fatores que contribuem para a existência do fenômeno. A principal razão, como era esperado, é a possibilidade de obtenção de novas e melhores ocupações em períodos de baixa taxa de desemprego. No entanto, a esse motivo somam-se a precarização do mercado formal de trabalho, o adoecimento físico e mental gerado nos postos de trabalho, os baixos salários, a busca por maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal e a falta de respeito no ambiente de trabalho.
Sumário: Introdução | Identificando o fenômeno da Grande Demissão no Brasil | As motivações | Considerações finais
Introdução
A jornada de trabalho, muitas vezes tratada como uma condição técnica ou jurídica é, na verdade, o resultado de processos históricos marcados por intensas disputas entre capital e trabalho. Nesse sentido, Marx (1996, p. 384) afirma que “o estabelecimento de uma jornada normal de trabalho é o resultado de uma luta multissecular entre o capitalista e o trabalhador”, destacando que os limites ao tempo de trabalho não são naturais nem de correntes de imperativos tecnológicos, mas sim fruto da luta de classes. Com base nessa perspectiva, este texto não se propõe a discutir a jornada sob sua concepção jurídica no Brasil contemporâneo, tampouco a explorar detalhadamente os mecanismos legais que regulam sua amplitude, distribuição ou intensidade. Adota-se, em vez disso, a noção de jornada normal como equivalente à jornada legal, conforme definição apresentada por Fracalanza (2001), compreendida como o período de labor permitido por lei em seus principais elementos normativos.
O simples aumento do número de pessoas solicitando demissão é comum em períodos de baixa taxa de desemprego, devido à maior probabilidade de se encontrar uma ocupação melhor. O que se procura discutir são os motivos que têm levado o número de pedidos de demissão a superar o observado em momentos historicamente favoráveis, marcados por expansão econômica e baixo desemprego.
Esse texto tem como objeto de pesquisa o fenômeno da Grande Demissão. Por se tratar de um fenômeno ainda presente e de grande impacto no mercado de trabalho brasileiro, faz-se necessário compreender como a questão do tempo de trabalho está presente na motivação dos trabalhadores ao pedirem demissão. O objetivo deste estudo é identificar se os pedidos de desligamento têm, entre suas causas, a rejeição a empregos que oferecem más condições de trabalho, particularmente aqueles com jornadas extensas, intensas e com flexibilidades definidas de forma a atender apenas aos interesses dos capitalistas, e, se esse alto número de pedidos de demissão reflete a busca dos trabalhadores por uma vida além do trabalho.
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Cássio da Silva Calvete é professor Associado da UFRGS, Doutor pela UNICAMP e Pós-doutorado na Universidade de Oxford
Luciane Franke é doutora e Pós-doutoranda em Economia Criativa e da Cultura pela UFRGS. Professora na Universidade do Vale do Taquari (Univates) e na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)
Tiago Pinheiro é graduando em Ciências Econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul

