8 de janeiro de 1858: é deflagrada a pioneira greve dos tipógrafos no Rio de Janeiro

Movimento paredista dos trabalhadores nos jornais da capital do Império é encarado como primeira greve operária do Brasil

Fotografia: Hemeroteca da Biblioteca Nacional

Guilherme Daroit

Descontentes com o descompasso entre seus salários e a alta no preço dos alimentos na segunda metade do século XIX, os compositores gráficos da imprensa do Rio de Janeiro partiriam para uma estratégia até então inédita no Brasil. A partir de 8 de janeiro de 1858, oitenta tipógrafos cruzariam os braços, embarcando na primeira greve de uma categoria livre no país. Outros protestos paredistas já haviam ocorrido no Brasil, liderados por escravizados e libertos. Os gráficos, por sua vez, seriam os pioneiros no infante campo operário que se criava.

Os trabalhadores gráficos já possuíam, à época, uma remota cultura de associativismo. Fundada em 1853 na base do mutualismo, com o objetivo de socorro recíproco entre os trabalhadores e suas famílias, a Associação Tipográfica Fluminense logo assumiria, também, um papel reivindicatório. Organizada pelos compositores e também outros trabalhadores gráficos, como impressores e revisores, a associação defenderia medidas referentes ao setor e ao mercado, intervindo em problemas econômicos e técnicos.

Principal grupo da associação, os compositores pediriam e levariam, em 1855, um aumento em seus salários por conta da carestia vista nos bens de primeira necessidade. Em dezembro de 1857, com novo encarecimento nos preços, reproduziram o pedido, dessa vez sem resposta positiva dos empregadores. Dessa forma, no início do mês seguinte, 32 compositores do Jornal do Commercio, 26 do Correio Mercantil e 22 do Diario do Rio de Janeiro interromperam suas tarefas, impossibilitando a impressão de três dos quatro jornais diários cariocas da época.

Em 10 de janeiro, apenas dois dias depois da deflagração do movimento, os compositores lançariam sua própria folha, que os compositores utilizariam para veiculação de seus argumentos. O Jornal dos Typographos se fez possível graças ao apoio da Associação, que possuía recursos em caixa capazes de financiar a empreitada. Entre as denúncias, os trabalhadores lembrariam que os três periódicos geravam, naquele momento, grandes lucros a seus proprietários. Além disso, defendiam que mesmo com o impacto financeiro visto como banal, os jornais preferiram desonrar seus compromissos com anunciantes e assinantes a conceder o aumento salarial reivindicado.

A associação assumiria, também, a interlocução com o gabinete imperial, endereçando comunicações ao imperador D. Pedro II nas quais relatava a situação e as solicitações dos trabalhadores, defendidas como justas e pacíficas. Além disso, solicitava ao poder moderador que atuasse como árbitro no conflito. À época, não havia qualquer legislação que previsse o movimento paredista.

Sem circulação, ou circulando com tamanho reduzido, os jornais invocariam a força policial, alegando terem sido impedidos pelos compositores, o que poderia configurar crime. Após conversa com os grevistas, entretanto, a chefia da polícia à época nada faria, solicitando apenas que os compositores agissem com prudência. Dali, os proprietários bateriam no Ministério da Fazenda, que ordenaria que os compositores da Tipografia Nacional ficassem à disposição dos três jornais. A ordem não teria efeito, pois os trabalhadores se recusariam a seguí-la, entendendo aquela tarefa não fazer parte de suas atribuições.

Sem maiores informações sobre seus resultados e mesmo sua duração, a greve seguiria até pelo menos 12 de março de 1858, data de circulação do último número do Jornal dos Typographos sob direção da Associação Tipográfica Fluminense. Dali em diante, o periódico passaria à responsabilidade de uma firma comercial, após venda do título por necessidades econômicas da associação. Os três jornais diários voltariam à circulação normal, mas a greve marcaria o embrião do movimento operário no Brasil. 

 

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