8 de dezembro de 1886: nasce Diego Rivera, pintor de murais com a temática do trabalho

Diego Rivera foi expoente do movimento muralista mexicano, retratando trabalhadores e história em grandes afrescos

Painel Museu do Automóvel de Detroit (EUA) – Criação Diego Rivera

Guilherme Daroit

Na esteira da Revolução Mexicana, que modificou e fundou o México moderno no início do século XX, um movimento artístico também ganharia o país norte-americano a partir dos anos 1910. O uso de grandes espaços para o retrato de causas sociais, políticas e históricas daria vida à etapa do muralismo mexicano, que colocaria os artistas do país em evidência. Um dos pilares do movimento, Diego Rivera levaria a arte também para os Estados Unidos, onde celebraria o poder do trabalho em alguns de seus mais famosos afrescos.

Fomentado pelo novo governo revolucionário, o muralismo mexicano surgia como uma espécie de retomada da cultura nacional. Com tradição anterior na pintura de murais, primordialmente com temas religiosos, o México vivia período de reforço às vanguardas europeias, privilegiando a reprodução da arte importada do velho mundo. A busca por uma nova arte que desse foco aos temas locais, portanto, encontraria no muralismo a sua forma ideal.

A trajetória de Rivera repetiria o movimento. Até então com obra fundada nas vanguardas europeias, com destaque à fase cubista, Rivera deixaria Paris e voltaria ao México em 1921 para se tornar um dos grandes símbolos da nova etapa das artes mexicanas, ao lado de David Alfaro Siqueiros e José Clemente Orozco. Em seus primeiros afrescos, praticamente todos pintados em prédios públicos, o artista já assumiria o novo foco, abraçando temas históricos e indígenas, ressaltando a cultura mestiça do México. Grande parte dos murais que seriam pintados por Rivera, porém, carregavam outros dois temas, o trabalho e a revolução. 

Militante, o artista se filiaria ao Partido Comunista Mexicano em 1922, pelo qual chegaria a ser pré-candidato à presidência do país em 1929. No mesmo ano, ao lado dos outros muralistas, também formaria um sindicato dos artistas. É dentro do ideário marxista que Rivera pintaria sua primeira grande etapa de murais, entre 1923 e 1928, na Secretaria de Educação Pública, na capital, e na hoje Universidade Autônoma Chapingo, nos arredores da Cidade do México. Os afrescos levam temas como a criação e a trajetória do México, culminando no levante do movimento agrário e o triunfo da revolução.

Já famoso pelos murais, na década seguinte Rivera passaria a ser contratado para a pintura de novas obras no vizinho Estados Unidos. Ali executaria talvez sua principal obra, os murais da indústria de Detroit, nas paredes do pátio do Instituto de Artes daquela cidade. Em apenas oito meses, entre 1932 e 33, Rivera finalizaria 27 painéis que retratam o então grande polo industrial do mundo, à época sofrendo os efeitos da crise financeira de 1929. O percurso se encerra com dois grandes afrescos, que completam a história com a representação do trabalho no então principal complexo da automotiva Ford, no subúrbio de Dearborn.

Seguindo uma narrativa interna, os painéis contam o avanço da tecnologia e das ciências, como a medicina, retratando também a pujante indústria de Detroit, então multisetorial. Apesar de a encomenda ter como objetivo o enaltecimento do avanço técnico, o que se destaca nos murais, saltando aos olhos em primeiro plano, são os trabalhadores e sua participação e importância em todo esse desenvolvimento. 

No mural norte, Rivera enfatiza o trabalho, retratando uma linha de montagem com diversos operários que montam motores de automóveis, principal símbolo da Ford. A arte caracteriza toda a produção vista em Dearborn, com o desenho de processos siderúrgicos e químicos. Além disso, enfatiza a relação dos trabalhadores com as máquinas, também expostas na arte com papel importante, ainda que em segundo plano.

Já no mural sul, o artista retrata o processo de montagem externa dos automóveis, com ainda mais trabalhadores representados, mas, principalmente, com predomínio das máquinas na ocupação do espaço. O principal elemento do afresco ressalta as origens de Rivera e um olhar ambíguo sobre o movimento da tecnologia nas fábricas, ao desenhar a maior máquina do mural à semelhança do formato de Coatlicue, deusa asteca venerada como mãe dos demais deuses e símbolo tanto da vida quanto da morte. Outra sugestão é a de que a tecnologia seria, para a civilização moderna, o que a mitologia havia sido para os povos mexicanos, assumindo o lugar das crenças.

Rivera ainda seria contratado para a realização de outros murais nos Estados Unidos, incluindo no então em construção Rockefeller Center, símbolo de Nova Iorque. O projeto que contrapunha comunismo e capitalismo nunca se efetivaria, sendo destruído pelos construtores após perceberam a inclusão de retrato do líder soviético Lenin no mural. A mesma obra, com o título “Homem, controlador do universo” seria mais tarde repintada no Palácio de Belas Artes da capital mexicana, para onde Rivera retornaria. Famoso também pelo seu conturbado relacionamento com a artista mexicana Frida Kahlo, Rivera faleceria em 1957, no seu país.

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