7 de novembro de 1988: inicia greve da CSN, em Volta Redonda (RJ)

Massacre do Exército contra greve da CSN resultou em três trabalhadores mortos e comoção nacional.

greve da csn
Memorial 9 de novembro, em homenagem aos mortos na greve da CSN. Fotografia: Divulgação/Prefeitura de Volta Redonda

Guilherme Daroit

Entre as principais empresas estatais do país à época, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi palco de uma das mais simbólicas paralisações no Brasil. Iniciada em 7 de novembro de 1988, a greve duraria 17 dias, e entraria para a história por conta da reação desmedida do governo federal. Buscando desmobilizar o movimento, ação do Exército na fábrica acabaria com três trabalhadores mortos e dezenas de feridos, gerando forte comoção nacional no início da retomada democrática.

Passava-se, afinal, nem um mês da promulgação da Constituição Cidadã de 1988, quando os cerca de 20 mil trabalhadores da CSN e subsidiárias decidiram pela greve, em assembleia no dia 4 de novembro daquele ano. O movimento seguia tradição retomada em 1984, ano da primeira greve na estatal na era do novo sindicalismo, seguida por outras nos anos seguintes. As reivindicações, em 1988, eram da ordem econômica, com reposição da inflação nos salários, mas também iam além, como a redução na jornada e o fim da repressão, com readmissão dos dispensados nas greves anteriores.

A paralisação de fato teria início no dia 7, com a ocupação da Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda (RJ). Cerca de 5 mil trabalhadores adentrariam a usina da CSN no início da manhã, ocupando, inicialmente, os pátios da unidade. Em confronto com a polícia, que não conseguiu conter o movimento, os trabalhadores passariam a se deslocar para a aciaria, coração da planta, mais segura e capaz de interromper a produção. A decisão também seguia estratégia de defesa após o governo federal ordenar a entrada das Forças Armadas na CSN, repetindo o que já havia sido feito nas cinco greves anteriores na estatal.

Dessa vez, entretanto, a ação do Exército seria muito mais violenta. Em 9 de novembro, com bombas de efeito e armamento letal, os militares partiriam para o confronto com o contingente de cerca de 10 mil trabalhadores que ocupavam a usina. A ação deixaria como saldo centenas de feridos entre trabalhadores, imprensa e populares das imediações. Mais do que isso, resultaria na morte de três operários, Carlos Augusto Barroso, com 19 anos, Valmir Freitas Monteiro, 27, e William Fernandes Leite, 22, vítimas de coronhadas e tiros fatais. O brutal ataque, que não teve sucesso na desocupação da fábrica, ganharia a alcunha de Massacre de Volta Redonda.

Mesmo com o choque pelas mortes e a forte repressão, o movimento paredista não se arrefeceria. Realizando duas assembleias por dia, os trabalhadores seguiram com a ocupação, radicalizando-a. De sua parte, o governo federal sustentava que não negociaria com o Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda, e que o venceria pelo cansaço. Ameaças de fechamento da empresa também seriam feitas pelo Planalto.

A violência da repressão na CSN causaria grande comoção nacional, há menos de uma semana das eleições municipais, que seriam realizadas em 15 de novembro. Diversos sindicalistas e candidatos de esquerda seriam eleitos naquele pleito, inclusive o presidente do sindicato de Volta Redonda, então deputado federal Juarez Antunes, que se tornaria prefeito do município fluminense. A população de Volta Redonda também apoiaria os grevistas em ato no dia 22, com um abraço simbólico no perímetro da usina. Dois dias depois, porém, o movimento, já de repercussão internacional, seria encerrado pela categoria.

No ano seguinte, Antunes faleceria em um acidente automobilístico, gerando desconfiança sobre a causa da colisão. O assassinato dos três trabalhadores acabaria eternizado no Memorial 9 de novembro, monumento desenhado por Oscar Niemeyer, inaugurado em praça próxima à CSN em 1º de Maio de 1989. Já no dia seguinte, a escultura sofreria forte atentando a bomba que lhe desfiguraria, além de causar efeitos sobre os prédios vizinhos, tamanha força dos artefatos. O memorial seria reconstruído sob novo desenho de Niemeyer, incorporando efeitos do ataque à estrutura. Em 1993, a CSN seria privatizada pelo governo federal, encerrando sua trajetória como empresa estatal.

 

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