A Organização Nacional da Suécia, até hoje principal central sindical dos trabalhadores de colarinho azul do país.
Guilherme Daroit
Hoje reconhecida por sua globalmente competitiva indústria e seu robusto estado de bem-estar social, a Suécia vivia outra realidade no fim do século XIX. Até então primordialmente agrário, o país escandinavo daria início a sua industrialização a partir da segunda metade daquele século, focada em seu mercado interno e abastecida pela migração da população aos centros urbanos. Com ela, nascia também uma classe operária local, demandante de representação e organização por meio de um crescente arcabouço sindical que por fim eclodiria, em 1898, na criação da Landsorganisationen i Sverige (LO), literalmente Organização Nacional da Suécia, até hoje principal central sindical dos trabalhadores de colarinho azul do país.
Até aquela data, a representação nacional dos trabalhadores suecos era realizada, em grande parte, pelo Partido Operário Social-Democrata (SAP), fundado nove anos antes. A criação de uma entidade própria vinha como resposta ao crescimento do movimento sindical, em paralelo à rápida industrialização do país. As primeiras entidades representativas, assim como em diversos outros países da Europa, resumiam-se a sindicatos de artesãos na esfera municipal, que mais tarde dariam origem a federações nacionais. Ainda assim, o diálogo entre elas era escasso, relegando ao partido as tarefas de coordenação que viabilizassem greves gerais no país, principal ameaça frente ao crescimento das empresas em meio ao boom econômico do fim daquele século.
Ainda em 1897, o Congresso do SAP já deliberara que o tamanho das tarefas demandava uma entidade dedicada, apartada do partido, mesmo que integrante dele. Naquele ano, eram 23 as federações nacionais, às quais se somariam mais quatro até que o plano saísse do papel. Isso aconteceria um ano depois, entre os dias 5 e 7 de agosto, na ilha de Djurgarden, em Estocolmo, onde os líderes trabalhistas se encontrariam no primeiro Congresso da LO, oficialmente fundada no último dia de debates. No Congresso, a maior parte das discussões residiria na natureza da relação da central com o partido, sendo vencedora a tese da afiliação compulsória ao SAP por meio dos sindicatos que formavam a LO. A mesma acabaria derrubada no Segundo Congresso, três anos depois, junto com o direito a indicação de membros na executiva da LO pelo partido. A simbiose entre ambas entidades prosseguiria, entretanto, e segue vigente até hoje, mesmo que em menor escala.
Em seus primeiros anos de vida, a LO coordenaria a greve geral de 1902, que exigia o direito ao sufrágio, até então proibido aos homens da classe trabalhadora, situação que mudaria no fim da mesma década. A força das manifestações resultaria também na criação da Confederação dos Empregadores (SAF), naquele mesmo 1902, buscando contrapor o crescente peso da central sindical nas relações de trabalho. O primeiro grande conflito da relação surgiria em 1909, com uma nova grande greve geral exigindo melhoria nos salários, e que seria seguido por diversos outros movimentos paredistas nos anos seguintes. A sequência de embates exigiria mediação governamental no fim da década de 1920, que acabou por pacificar o relacionamento entre as entidades. Em 1938, LO e SAF acordariam procedimentos de negociação e solução de conflitos sem a intervenção estatal, concentrando os poderes na mão de poucos negociadores de cada uma das entidades. O pacto, com alterações, segue vigente até hoje.
Seria na LO que surgiriam, também, as bases do conhecido modelo sueco de desenvolvimento. Na década de 1950, economistas da central sindical desenvolveriam o modelo Rehn-Meidner, batizado com seus sobrenomes, que estabelecera métodos para alcançar o crescimento econômico com pleno emprego, inflação baixa e distribuição de renda. Um dos principais instrumentos foi a solidariedade salarial, segundo a qual trabalhadores que cumprem a mesma função deveriam receber os mesmos salários, independente do setor de atuação. A coordenação era possível por conta da centralização de todas as negociações coletivas entre LO e SAF. Além de permitir equidade entre os trabalhadores, a ideia era de que empresas e setores menos competitivos acabariam inviabilizados, potencializando os setores mais lucrativos. Ao governo, caberia o direcionamento de políticas fiscal e monetária restritivas, além da viabilização da transferência de mão de obra para os pólos mais dinâmicos, por meio de subsídios e treinamentos.
A LO só abandonaria a defesa da solidariedade na década de 1970, quando também passaria a demandar atuação do governo, já dominado pelo SAP, nas relações de trabalho. São desse período leis referentes a equipamentos de segurança no local de trabalho e ao direito de cadeira e voto nos conselhos das empresas por parte dos trabalhadores.
Atualmente, após diversas fusões entre as federações nacionais que a compunham, a LO possui 14 afiliados, com cerca de 1,4 milhão de membros. A Suécia ainda possui outras duas centrais sindicais relevantes – a Confederação Sueca para Empregados Profissionais (TCO), que reúne 12 federações de trabalhadores primordialmente intelectuais, os chamados colarinhos brancos, e a Confederação Sueca de Associações Profissionais (SACO), que reúne 21 entidades representativas de trabalhadores de nível superior, ambas sem vinculação a partidos políticos.