6 de fevereiro de 1919: começa greve geral de Seattle, que destravaria “ameaça vermelha” nos EUA

Por seis dias, movimento paredista assumiu serviços da cidade e despertou medo de
revolução operária no governo.

greve geral em seattle
Fotografia: Wikimedia Commons

Guilherme Daroit

Centro de cultura sindical à época, a cidade de Seattle, no Noroeste dos Estados Unidos, se tornaria símbolo de uma autoadministração dos trabalhadores em janeiro de 1919. Naquele mês, a partir do dia 6, cerca de 65 mil operários deflagrariam a mais potente greve geral do país até então, com adesão em todos os setores laborais. Para evitar o colapso urbano, os próprios trabalhadores assumiriam a gestão de serviços fundamentais, demonstrando o nível de organização local.

A força do movimento, entretanto, levantaria preocupação de uma revolução operária nas esferas de governo, que a partir dali desencadeariam uma série de ataques aos trabalhadores, conhecida como a “primeira ameaça vermelha”.

A Primeira Guerra Mundial, encerrada poucos meses antes, em novembro de 1918, havia feito crescer a região de Seattle. Os esforços militares dos Estados Unidos transformariam a cidade em um grande polo de estaleiros navais e madeiras, atraindo trabalhadores de outras regiões. Com o aquecimento econômico, viria também um amadurecimento operário. Em apenas três anos, as sindicalizações haviam quadruplicado na cidade, e os trabalhadores, radicalizado suas posições, especialmente após a Revolução Russa de 1917.

O fim do conflito ensejava, também, o fim das restrições aos aumentos de salários como parte do esforço de guerra. Dessa forma, já no fim de 1918 diversos sindicatos dos trabalhadores na indústria naval, reunidos em um comitê comum, demandariam melhorias em sua remuneração. As negociações não teriam bom destino, e, em 21 de janeiro, 35 mil empregados de estaleiros locais entrariam em greve.

A indignação escalaria nos dias seguintes, quando a posição do governo federal no conflito ficaria clara. Principal compradora dos estaleiros, a agência federal criada durante a Grande Guerra para a aquisição de navios ameaçaria cortar os contratos caso as empresas navais concedessem qualquer aumento aos empregados. A correspondência endereçada aos empregadores, porém, seria erroneamente entregue aos sindicatos dos trabalhadores, que então demandariam uma greve geral ao conselho central de entidades laborais da cidade.

A paralisação total seria aprovada e deflagrada na manhã do dia 9. Com todos os sindicatos em greve, um comitê central de greve seria criado entre eles e, entre outras funções, passaria a determinar quais serviços poderiam continuar operando de maneira a não tornar a cidade inviável. Dessa maneira, a coleta de lixo e os bombeiros seguiram seu trabalho. Veteranos de guerra assumiram o policiamento no lugar dos policiais. Proibidos pelas empresas de usarem seus veículos, os leiteiros montariam uma rede de distribuição paralela para que o produto chegasse aos bairros. Todos os dias, refeições produzidas pelos grevistas também eram vendidas a baixo custo para os trabalhadores e o público em geral.

Desde o início do movimento, a oposição vinha de dois lados. As instâncias nacionais e mesmo internacionais das entidades sindicais foram, e se mantiveram durante todo o período, contra a greve geral, julgando que a estratégia traria perdas no médio prazo. Já a prefeitura atacava de outra forma, conclamando diversas tropas militares federais, além de contratar mais policiais, mesmo com a greve não registrando qualquer evento de violência.

Em poucos dias, as forças contrárias e o cerco que vinha se formando em volta da cidade tornariam a missão ainda mais complexa. Aos poucos, os trabalhadores voltariam a seus postos, e, em 11 de janeiro, no sexto dia da paralisação, a greve geral seria encerrada. Os trabalhadores dos estaleiros, cuja greve deu origem ao movimento, seguiriam paralisados por mais um mês. Dezenas de sindicalistas seriam presos na sequência.

O nível de organização demonstrado pelos trabalhadores de Seattle, além dos discursos de parte deles que buscavam incentivar uma revolução operária tal qual a realizada pelos russos dois anos antes, acenderia um alerta no governo do país. Outras greves em mais regiões se seguiriam nos meses seguintes, levando a um contra-ataque estatal que formaria uma histeria anti-comunista e, por tabela, anti-operária. As investigações e propaganda contra os movimentos de trabalhadores ficariam conhecidos como a “Primeira ameaça vermelha”, terminando com prisões, deportações, novas leis e expulsões de socialistas eleitos de assembleias.

 

One Response

  • bela matéria para lembrar a força do trabalhador, no entanto, vencida pelo capital voraz. a luta deve continuar

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