28 de fevereiro: data é marcada como Dia Internacional de Combate às LER/DORT

Data marca mobilização contra lesões e doenças relacionadas ao trabalho (LER/DORT), com incidência crescente nas últimas décadas

ler/dort
Fotografia: Wikimedia Commons

Guilherme Daroit

Por muito tempo negligenciadas, uma série de patologias causadas pelo próprio cotidiano do local de trabalho têm recebido maior atenção no campo da saúde dos trabalhadores. Inicialmente chamadas de Lesões por Esforço Repetitivo, depois reclassificadas como Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho, essas dores e lesões são hoje consagradas na sigla que une as duas nomenclaturas (LER/DORT), e, desde a virada do século, lembradas e discutidas todo último dia do mês de fevereiro.

Iniciativa surgida no Canadá, no ano 2000, o Dia Internacional de Combate às LER/DORT tem como referência a data de 29 de fevereiro. A escolha pelo único dia que não se repete em todos os anos é simbólica, representando a invisibilidade e a negligência que geralmente cercam as doenças ocupacionais. Assim como a data, que só aparece a cada quatro anos, entende-se que as dores causadas por esforços repetitivos muitas vezes também permaneçam invisíveis até se tornarem incapacitantes. Nos anos não bissextos, entretanto, o marco de mobilização quanto às Ler/Dort segue lembrado, sendo respeitado sempre no dia 28 de fevereiro.

Em geral, a síndrome das LER/DORT engloba uma série de doenças e sintomas que afetam os membros superiores, além do pescoço e vértebras. Fazem parte da lista diversos tipos de inflamação (como exemplo, tendinite, epicondilite, bursite e tenossinovite), além de dores na coluna cervical e a compressão de nervos, entre outros. Essas condições são geradas pela rotina de trabalho, que sobrecarrega músculos e ossos por diversos motivos, tais como a repetição veloz e contínua do mesmo movimento, o uso de equipamentos, a postura inadequada e a exposição a vibrações e ruídos, muitas vezes de forma conjunta.

As doenças ocupacionais não são novidade. Um dos relatos clássicos e fundadores do campo vem ainda do século XVIII. Naquele período, anterior à própria Revolução Industrial, o médico italiano Bernardino Ramazzini já descrevera diversas ocupações na qual observava lesões físicas e mesmo sofrimentos psíquicos decorrentes de movimentos contínuos, posturas corporais, atenção excessiva e outras situações inerentes aos trabalhos realizados. O quadro, entretanto, se complexificaria com o avanço da sociedade industrial, ganhando maior atenção a partir do fim do século XX.

No Brasil, o primeiro grande marco para as LER/DORT aconteceria em agosto de 1987, quando, após intensa luta sindical, a Previdência Social incluiria oficialmente a tenossinovite do digitador no rol das doenças ocupacionais. A doença, uma inflamação nos tendões que pode afetar dedos e pulso, é originada da repetição acelerada e sem descanso de atos manuais, como a digitação, entre outros.

Embora a doença estivesse espraiada por trabalhadores de diversas áreas, muitos profissionais com os mesmos sintomas não tinham sua condição reconhecida nas perícias médicas. Isso levaria a nova mobilização para ampliar o entendimento sobre a síndrome. Em 1992 e 1993, então, secretarias estaduais e a Previdência revisariam os conceitos, aumentando o escopo oficial da síndrome e já trazendo a nomenclatura LER. Desde lá, essas doenças ocupacionais já ganhariam destaque na lista de causas de afastamento dos trabalhadores, com maior incidência em bancários, operadores de telemarketing e digitadores, sem, todavia, estarem restritas a essas categorias.

O termo DORT surgiria, oficialmente, em 1998, em nova revisão dos parâmetros pela Previdência Social. O novo conceito foi escolhido por englobar não apenas uma gama maior de perturbações (não apenas lesões), mas também a origem multifatorial dos distúrbios, causados não apenas pelo esforço da repetição, mas pela combinação de diversas outras características do local de trabalho.

Ainda que físicas, a aparição das LER/DORT também possuem uma dimensão psíquica. Inabilitados para o trabalho por conta das doenças musculares e esqueléticas, muitos trabalhadores recaem em quadros de sofrimento psíquico, como ansiedade e depressão, diante da incerteza profissional e do isolamento. A situação é agravada pelo estigma que cerca a condição, que em muitos ambientes ainda é encarada com desconfiança. Não raramente, parte do tratamento e acolhimento oferecido por entidades laborais envolve atividades de ressocialização e diálogo, além da reinserção laboral. Na esfera motora, os cuidados envolvem repouso, medicamentos, fisioterapia e mesmo cirurgias.

Por sua vez, a prevenção às doenças relacionadas ao trabalho é realizada por meio da ergonomia no ambiente laboral. Entre eles, a instalação de equipamentos e mobiliários adequados, que permitam a postura correta para a realização dos serviços, o rodízio de atividades, pausas para descanso, além de aquecimento e alongamento. Outro fator preponderante é a garantia de que seja o trabalhador a ditar o ritmo do trabalho, reconhecendo seus limites físicos. Já após a aparição da condição, para minimizar os impactos psíquicos, é fundamental que as empresas adotem políticas de acolhimento, com apoio psicológico e adaptações no retorno ao trabalho.

 

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