26 de dezembro de 1907: começa greve dos inquilinos em Nova Iorque, que resultaria em controle dos aluguéis

Greve dos inquilinos foi movimento de contestação do preço dos aluguéis que alçou jovem trabalhadora Pauline Newman a líder sindical.

Fotografia: Lewis W. Hine

Guilherme Daroit

A crise econômica de 1907 ainda fazia seus efeitos quando os proprietários de residências de Nova Iorque resolveram aumentar os preços dos aluguéis na cidade. O pânico dos banqueiros, causado pela queda brusca no mercado acionário, resultou em dispensas em massa dos trabalhadores, que não conseguiam arcar com a alta no custo. Organizados por uma jovem trabalhadora do ramo têxtil, Pauline Newman, os inquilinos entrariam então em greve de pagamento, que se estenderia até janeiro de 1908 e impulsionaria uma década de movimentos que resultariam no controle de preço dos aluguéis na cidade.

O crescimento no custo dos aluguéis em Nova Iorque não era novidade. Destino da grande leva de imigrantes que chegavam à cidade no início do século XX, os cortiços construídos não acompanhavam a alta da demanda, atraindo também especuladores ao mercado. Em 1904, uma proposta de aumento de mais de 20% nos alugueis já destravara um princípio de greve, e chamaria a atenção de organizações socialistas.

Já em dezembro de 1907, a situação se repetiria, com a proposta de aumento de até dois dólares nos aluguéis. Afetados pela crise econômica causada pelo pânico de 1907, que resultou na quebra da bolsa da cidade e a dispensa de cerca de 100 mil trabalhadores apenas no lado Leste de Manhattan, os inquilinos não aguentariam mais esse golpe.

A resistência ao aumento nos preços seria organizado por uma jovem trabalhadora judia. Nascida na Lituânia, Pauline Newman trabalhava desde criança em fábricas da cidade. À época, com idade entre 16 e 20 anos (seus documentos se perderam na imigração), trabalhava em uma indústria têxtil e, ligada ao movimento socialista, organizava grupos de mulheres.

Com esses grupos, Newman estabeleceria como estratégia atingir as famílias de suas colegas de trabalho. Livres do trabalho formal na indústria, a partir do dia 26 de dezembro de 1907 cerca de 400 donas de casa passavam as tardes batendo de porta em porta nos cortiços do lado Leste de Manhattan, insuflando os inquilinos a não aceitarem o aumento. Apenas dois dias depois, os proprietários já questionariam o poder público com listas das violações causadas pelo grupo, chamando a atenção para o movimento. Pelos atos, Newman seria chamada nos jornais locais como “a nova Joana d’Arc”.

Na virada do ano, a greve seria encampada pelo Partido Socialista estadunidense, que a espraiaria pelos outros bairros de Nova Iorque, primordialmente entre as comunidades italiana e judaica. A associação aos socialistas levaria a uma quebra no apoio à greve, especialmente nos meios de comunicação. Em 5 de janeiro, a polícia atacaria os grevistas por não aceitarem acabar com os encontros nem deixarem de exibir panos vermelhos nas janelas, símbolo da greve. O movimento se encerraria em 9 de janeiro, após diversas decisões judiciais de despejo.

Das cerca de 10 mil pessoas participantes do movimento, pelo menos duas mil conseguiriam redução no seu aluguel. Um dos principais pedidos da greve, porém, o teto do aluguel em 30% do salário mínimo, não seria atendido. Apesar disso, o tamanho da greve e o seu relativo sucesso marcariam a década seguinte, que viria diversas outras greves de inquilinos que resultariam, por fim, em uma política de controle dos preços na cidade em 1920.

Newman, por sua vez, seria alçada a papel de liderança no Partido Socialista, sendo candidata a secretária de estado de Nova Iorque em 1908, eleição na qual mulheres não possuíam direito ao voto. A operária ainda organizaria uma greve geral nas indústrias têxteis em 1909, com adesão de cerca de 40 mil trabalhadoras. Depois disso, seria indicada a primeira mulher líder do Sindicato Internacional do Vestuário Feminino (ILGWU, na sigla em inglês), que abarcava trabalhadores do ramo nos Estados Unidos e Canadá, pelo qual organizaria greves em diversas cidades e dedicaria sua vida até a aposentadoria.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *