24 de janeiro de 1984: nasce o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

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Fotografia: Matheus Alves

Guilherme Daroit

Dispersa após a ascensão do regime militar, a luta pela reforma agrária no Brasil ganharia um novo motor 20 anos após o golpe de 1964. Incentivados pela Comissão Pastoral da Terra, braço da igreja Católica que fomentava as incipientes ocupações de terra pelo país, trabalhadores rurais expulsos do campo reuniriam-se em Cascavel (PR), em janeiro de 1984, para centralizar sua luta. Ali, no dia 24, nasceria o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que reivindicaria a luta campesina e cresceria como um dos maiores e mais combativos movimentos sociais no Brasil.

Convocado justamente para a criação de uma estrutura nacional, o encontro no oeste paranaense seria a colheita de sementes plantadas desde a década anterior. Mesmo ainda sob a ditadura militar, maiores esforços para a redistribuição de terras no Brasil renasceriam ainda em 1979, no interior do Rio Grande do Sul. 

Naquele ano, agricultores expulsos de reserva indígena em Nonoai (RS) ocupariam as granjas Macali e Brilhante, no município de Ronda Alta (RS). As granjas eram parte da antiga Fazenda Sarandi, que já havia sido desapropriada pelo estado nos anos 1960 após ocupações do Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), originadas do mesmo conflito. O sucesso da empreitada, apoiada pela CPT e que acabaria em novos assentamentos, mostraria o caminho e reacenderia a luta pela reforma agrária também em outras partes do país.

Nos anos seguintes, outras ocupações surgiriam em outros estados, com os agricultores organizados em pequenos grupos locais. Esporadicamente, os trabalhadores rurais organizavam encontros estaduais e regionais para troca de experiências, ainda concentrados na região Sul. Em um desses encontros, realizado em Goiânia (GO) em 1983 com cerca de 50 agricultores vindos de todas as partes do país, a necessidade de nacionalização do movimento ficaria evidente. Uma coordenação provisória seria formada ali, com o objetivo de organizar um novo encontro.

A nova reunião aconteceria, portanto, em janeiro do ano seguinte, no Paraná, para a criação do movimento. Estiveram presentes em Cascavel quase cem representantes dos agricultores, sindicalistas e membros da CPT, vindos das cinco regiões do Brasil. Ali, o MST seria enfim batizado e organizado, com uma direção coletiva. Entre as resoluções, o congresso decidiria que o movimento seria aberto não apenas a agricultores mas a todos os interessados na luta, além da efetivação da estratégia de ocupação das terras improdutivas, alicerçada no lema “ocupar e resistir”. O movimento ainda reivindicaria o legado das lutas interrompidas em 1964, reconhecendo os esforços de movimentos como o Master e das ligas camponesas.

A institucionalização do MST daria impulso às ocupações. Em 1985, em Curitiba (PR), seria realizado então o primeiro congresso oficial do MST, que estabeleceria a governança do movimento, centralizada em um corpo diretivo nacional autônomo a partidos e outros grupos. Além disso, os objetivos do MST seriam definidos nas lutas pela terra, pela reforma agrária e pelo socialismo, incluindo as mudanças sociais entre as suas bandeiras. 

Dali, os núcleos locais sairiam com a tarefa de intensificar as ocupações. Em outubro, famílias ligadas ao MST entrariam na Fazenda Annoni, hoje município de Pontão (RS), primeira ocupação oficial do movimento e importante marco para sua consolidação. Não por acaso, com o tema da reforma agrária trazido à baila pelos agricultores, em 1985 surgiria também a União Democrática Ruralista (UDR), formada pelos grandes proprietários como contraponto às desapropriações. 

Com a chegada do regime democrático, o MST cresceria e se tornaria um dos maiores movimentos sociais da América Latina. Com o tempo, ao seu lema seria incluído também o verbo “produzir”, e a bandeira da agroecologia passaria a ser levantada por seus integrantes. Atualmente, o movimento está presente de maneira formal em 24 dos estados brasileiros, com cerca de 450 mil famílias assentadas em suas quatro décadas de atuação. 

 

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