Órgão de pesquisa e assessoria econômica, Dieese surgiu como contraponto a estatísticas oficiais.
Guilherme Daroit
Pujante nas greves, o movimento sindical brasileiro dos anos 1950 perceberia que nem só de ímpeto vive a luta. Para além dos patrões, afinal, as entidades também precisavam combater a falta de confiança nos dados oficiais de custo de vida, que rebaixavam os salários. A resposta, então, passaria pela fundação de um órgão independente, mantido por diferentes sindicatos, que os assessorasse no campo da estatística. Assim nascia o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), até hoje principal instituto de apoio técnico aos trabalhadores.
A articulação que resultaria na criação do Dieese teria início com a greve dos 300 mil, em 1953, em São Paulo. Denunciando a alta da inflação, que corroía o poder de compra dos trabalhadores, o sindicato dos tecelões de São Paulo paralisaria as fábricas, movimento que logo seria apoiado por outras categorias, como metalúrgicos, carpinteiros e gráficos daquele estado. Do movimento, nasceria em 1954 o Pacto de Unidade Sindical (PUI), embrião de uma estrutura central, que dirigia os esforços dos diferentes sindicatos, antes isolados.
Já no ano seguinte, a desconfiança com os cálculos oficiais de inflação e custo de vida levaria o PUI a organizar um órgão de levantamento estatístico. A iniciativa seria puxada pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, que já acumulava experiência com a questão. A entidade utilizava-se, desde 1951, de estudos contábeis e econômicos para contrabalancear os dados oficiais, à época tabulados pela prefeitura da cidade, com bons resultados, tornando-se parâmetro para as demais categorias.
Dessa forma, após amadurecimento da articulação entre os diferentes sindicatos, em 22 de dezembro de 1955 cerca de duas dezenas de dirigentes sindicais paulistas assinariam a criação do Dieese, com a presidência do líder do sindicato dos bancários, Salvador Romano Losacco. Seguindo exemplos europeus, o dirigente imaginava a criação de uma universidade popular dos trabalhadores com diversos departamentos, entre eles o que viria a ser o Dieese, que assumia desde lá seu caráter técnico-científico. Planejado inicialmente como órgão estatístico, o departamento teria seu escopo expandido para a pesquisa socioeconômica, transformando-se em um verdadeiro instituto de estudos e formação.
Logo após sua fundação, o primeiro estudo feito pelo novo departamento seria justamente o levantamento do padrão de vida das famílias paulistanas, que redundaria no Índice de Custo de Vida (ICV), calculado pelo Dieese até hoje.
Anos depois, mesmo com tentativas de desarticulação após o golpe militar, o departamento continuaria subsidiando o movimento sindical com estudos. Em 1977, o órgão denunciaria que o regime ditatorial manipulara a inflação oficial de 1973, como forma de rebaixar os salários dos trabalhadores. Após a polêmica, órgãos internacionais reconheceriam a veracidade dos cálculos do Dieese, deflagrando a partir dali diversas manifestações de trabalhadores e conferindo notoriedade ao departamento.
Hoje articulado em 18 regionais estaduais e dezenas de subseções que atuam dentro de entidades sindicais, o Dieese também realiza pesquisas regulares sobre o preço da cesta básica e os resultados das negociações coletivas. Além disso, assessora os sindicatos no processos de negociação com os empregadores, fornecendo estudos e simulações que subsidiam tecnicamente as pautas de suas cerca de 700 entidades associadas. Desde 2012, também oferece cursos de graduação e pós-graduação por meio da Escola DIEESE de Ciências do Trabalho.
O sucesso de sua atuação resultaria também, nas décadas seguintes, na formação de outros dois departamentos intersindicais voltados a outras áreas: o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e o Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat).