2 de junho de 1868: é criado o Trades Union Congress, no Reino Unido

Mais antiga central sindical do mundo, TUC influenciou trabalho e política no país europeu.

Placa comemorativa ao primeiro congresso do TUC, em Manchester. Fotografia: KJP1/Wikimedia Commons

Guilherme Daroit

Berço da Revolução Industrial, o Reino Unido é, também, sede da mais antiga central sindical em atividade no mundo. Criado como fórum de entidades regionais em junho de 1868, o Trades Union Congress (TUC) se transformou no grande polo sindical da Inglaterra, influenciando a política local e agregando, até hoje, a maior parte dos trabalhadores do país.

Enquanto avançava a industrialização e, por consequência, os conflitos sociais decorrentes dela, o sindicalismo no Reino Unido também se desenvolvia no século XIX. Mesmo proibida até 1824, associações de trabalhadores já existiam, com grande grau de radicalização em seus atos, ainda que sob forte repressão estatal. Com o fim da criminalização, que manteve diversas restrições à comunhão e à greve, nos anos seguintes o movimento passaria por duas tendências: o espraiamento e consolidação, com o surgimento de mais entidades laborais perenes, além do comedimento, tornando-as menos adeptas do conflito aberto.

Nesse novo cenário, tentativas de sindicatos generalistas de alcance nacional, e mesmo de associação entre sindicatos de diferentes ofícios, surgiriam, mas sem sucesso. Os grupos que vingariam seriam aqueles de abrangência regional, reunindo sob o mesmo guarda-chuva os diferentes sindicatos e trabalhadores de um mesmo polo industrial. Em 1859 e 1860, seriam formados conselhos de sindicatos em Londres, Sheffield, Glasgow e Edimburgo, que se apresentavam como principais polos do sindicalismo britânico.

Seis anos mais tarde, uma associação nacional seria fundada em Sheffield, mas que logo acabaria esvaziada, após ser associada a uma série de explosões e assassinatos conduzida por sindicalistas na cidade do norte inglês. A efervescência das entidades laborais, porém, já passava a demandar respostas efetivas do governo.

Em 1867, então, uma comissão do Parlamento seria designada a elaborar um relatório sobre regras para os sindicatos, aceitando, pela primeira vez, que a existência das entidades era benéfica tanto para empregados quanto para empregadores, modificando a relação estatal com os trabalhadores. O relatório, ainda que com divergências em outros pontos, levaria à regularização permanente dos sindicatos no Reino Unido em 1871, com regras que ficariam vigentes por mais de um século.

Mesmo antes da regularização de fato, porém, uma proposta de entidade nacional enfim vingaria em 1868. Frustrados com a falta de espaço em congressos de outros grupos, integrantes dos conselhos sindicais de Sheffield e Manchester chamariam um encontro nacional. Previsto para maio, o evento seria adiado para junho, como forma de garantir o tempo necessário para a organização de teses e delegações por parte dos conselhos regionais. 

Dessa forma, de 2 a 6 de junho daquele ano se reuniriam no Instituto de Mecânica de Manchester 34 delegados de sindicatos de todo o Reino Unido, representando, então, cerca de 120 mil trabalhadores sindicalizados. Do encontro, seria tirada a fundação do TUC, um congresso anual com caráter permanente de organização do crescente movimento sindical e de representação dos operários junto ao parlamento local. Em 1869, o segundo congresso seria realizado em Birmingham, em trajetória que não seria mais interrompida.

Desde lá, o TUC assumiria o papel de líder do movimento sindical britânico. Já em 1871, outras lideranças dispersas ingressariam na nova organização, que criaria, então, um comitê permanente para formalizar a instituição, dando vida a ela mesmo nos períodos entre os congressos. Dali em diante, o Comitê Parlamentar do TUC assumiria o papel de organização dos sindicatos e, principalmente, de pressão sobre o Parlamento para a criação de leis benéficas aos trabalhadores.

O comitê resistiria até 1921, quando conflitos entre os sindicatos e a necessidade de maior papel de mediação entre as entidades faria surgir o Conselho Geral do TUC. Maior e mais representativo, o novo grupo de comando assumiria funções mais centralizadoras, assumindo papel de verdadeira coordenação dos sindicatos. Com uma única reforma relevante, em 1982, que passou a dar mais voz às entidades com maior número de filiados, o Conselho Geral segue na liderança do TUC até hoje.

Para além da esfera dos trabalhadores, a criação do TUC também mudaria para sempre a política local. Ainda no fim do século XIX, já com força perante a sociedade britânica, a congregação dos sindicatos puxaria uma reunião definitiva entre a maioria dos grupos de esquerda e socialistas do Reino Unido, com vistas a eleger representantes ao Parlamento. Em fevereiro de 1900, o congresso fundador do Comitê de Representação Trabalhista aconteceria em Londres, com maioria de sindicalistas entre os representantes.

O Comitê elegeria dois parlamentares já em sua primeira eleição, em outubro de 1900, poucos meses após sua fundação. Na eleição seguinte, em 1906, aumentaria drasticamente sua representação, elegendo 29 parlamentares. Pela primeira vez com uma bancada, o grupo mudaria seu nome, tornando-se o Partido Trabalhista, um dos dois principais partidos britânicos até hoje. Apesar do papel em sua criação, o TUC não tem relações institucionais com o partido, mantendo-se independente.

Hegemônico no movimento sindical na Inglaterra e no País de Gales, o TUC reúne atualmente cerca de 5,5 milhões de trabalhadores sindicalizados, vinculados a 48 entidades-membro. Todos os meses de setembro, os sindicatos associados se reúnem no congresso anual, sua principal instância, que também elege sua diretoria.

Guilherme Daroit é jornalista e bacharel em Ciências Econômicas, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região

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