1º de setembro de 1886 : nasce Tarsila do Amaral, autora da obra “Operários”

Uma das obras-primas da artista plástica, “Operários” retrata conflitos da industrialização e da classe operária brasileira.

tarsila do amaral
Fotografia: Governo de SP/Flickr

Guilherme Daroit

Entre os principais nomes das artes plásticas no Brasil e ícone do modernismo no país, a paulista Tarsila do Amaral é responsável, também, por um dos símbolos mais marcantes do período da industrialização brasileira. Sua obra “Operários”, datada de 1933, retrata a visão da pintora sobre o processo de irrupção das fábricas no estado de São Paulo, com foco nos trabalhadores, que começavam a formar, então, a classe operária nacional.

No quadro, hoje parte do acervo do governo paulista, Tarsila retrata com cores mornas e acinzentadas 51 rostos de trabalhadores e trabalhadoras de diferentes raças, idades e estilos, de certa forma amontoados uns com os outros, dando a ideia de massificação e perda da individualidade. Todos olham para a frente, taciturnos, como se encarando o espectador em um misto de cansaço, tristeza e desesperança, e estão postados à frente de prédios e chaminés, representando as indústrias que passavam a ganhar espaço na economia brasileira.

A tela, uma das obras-primas da Tarsila, marca a última grande etapa de sua produção artística, conhecida como sua fase social. Iniciada na década de 1930, é nessa fase que as temáticas do cotidiano ganham espaço nas pinturas da artista. Antes disso, Tarsila já havia produzido vasta obra catalogadas em outras duas fases, a nomeada “pau-brasil”, com destaque para paisagens e cores do Brasil rural e urbano, e a “antropofágica”, que daria origem ao movimento de mesma alcunha que reivindicava a absorção e reinterpretação local das culturas exteriores, sem apenas copiá-las nem negar a brasilidade. 

O maior interesse de Tarsila pelos temas sociais surge de visita da pintora à ainda infante União Soviética, em 1931, onde expôs parte de sua obra. Filha de cafeicultores do interior de São Paulo, a artista e a família foram vítimas da Grande Depressão de 1929, que atingiria fortemente a economia brasileira, em especial o principal produto de exportação nacional da época, o café. Sem os recursos de outrora, Tarsila venderia parte de seu acervo para financiar a viagem, que se estenderia também por outras regiões europeias. A crise econômica e o contato direto com os países socialistas, despertariam na pintora maior interesse pelas questões sociais e operárias. 

No Brasil, ao mesmo tempo, a crise de 1929 também resultava em profundas modificações. O gaúcho Getúlio Vargas chegaria pela primeira vez ao poder em 1930 por meio de um golpe de Estado, pondo fim à República Velha, até então dominada politicamente pelos latifundiários paulistas, em conjunção com as oligarquias mineiras.

De volta ao país, Tarsila frequentaria reuniões do Partido Comunista Brasileiro, fato que a tornava alvo do governo Vargas, que chegaria a prender a pintora por conta dessas ações.  A mudança no comando, aliada ao baque nas exportações de café com a crise econômica global, daria início a uma forte onda de industrialização brasileira, em grande parte pelas mãos dos próprios cafeicultores, que começava a transformar São Paulo no polo econômico dinâmico brasileiro.

É nesse contexto que, em 1933, Tarsila pinta a tela “Operários”, cuja diversidade de rostos retrata com maestria também a migração de trabalhadores vindos de outras regiões para suprir a indústria paulista. O êxodo rural e a migração para São Paulo ainda seriam foco da pintora na sua outra grande obra da fase social, intitulada “Segunda Classe”, na qual são retratados familiares descalços em frente a um trem, com esquema de cores semelhante ao da obra prévia. Ao fim da década de 1930, a pintora abandonaria a temática social, retornando à pintura ao estilo de suas fases anteriores. Tarsila faleceria em 1973, aos 86 anos de idade, em São Paulo/SP.

Após anos em exposição no Palácio Boa Vista, residência de inverno do governador paulista em Campos do Jordão/SP, desde 2019 a obra “Operários” está oficialmente integrada ao acervo do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, na capital paulista, sob os cuidados do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Esporadicamente, a obra é exposta também em mostras externas.

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