10 de fevereiro de 1898: nasce Bertolt Brecht, artista da luta de classes

Dramaturgo e poeta de orientação marxista, obras de Brecht ressoam nas causas progressistas.

Brecht
Fotografia: Jörg Kolbe/Arquivo Federal Alemão

Guilherme Daroit

Louvor aos lutadores

Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida,
Estes são os imprescindíveis.

 

Artista revolucionário, quer seja em sua influência no teatro, quer seja em seus ideais, o alemão Bertolt Brecht reverbera, até hoje, no campo simbólico das lutas operárias. Nascido Eugen Berthold Friedrich Brecht, no fim do século XIX, na Bavária, o dramaturgo e poeta de formação marxista retratou as diferenças entre as classes sociais, buscando despertar a consciência dos trabalhadores. Seus poemas, muitos deles excertos e canções de obras teatrais, denunciavam o período histórico de ascensão do nazifascismo, além de exaltarem a luta social.

No teatro, Brecht começaria a atuar ainda jovem, com sua primeira peça, Baal, sendo escrita em 1918. Seu ponto de virada, todavia, aconteceria a partir do fim da década de 1920, quando seria montada a peça “Um Homem é um Homem”, já em Berlim, que seria influenciada tanto pelo fim da Grande Guerra quanto, principalmente, pela Revolução Russa de 1917. Para a produção, Brecht passaria a estudar a obra de Karl Marx, além de ideias socialistas, que moldariam sua visão de mundo e sua arte futura. Em suas notas, o alemão escreveria que, ao ler O Capital, entendera suas próprias obras.

Sua influência artística ganharia maior peso com o sucesso da Ópera dos Três Vinténs, montada em 1928 em Berlim, que criticava o sistema capitalista. Em 1933, com a chegada de Adolf Hitler ao poder, Brecht deixaria a Alemanha e a persguição nazista, se mudando para a Dinamarca. O avanço nazista e a Segunda Grande Guerra, entretanto, lhe levariam para os Estados Unidos, na década de 1940. Em todo o período exilado, continuou escrevendo poemas e peças que denunciavam e tentavam frear os regimes fascistas europeus, além da conscientização sobre as diferenças entre as classes sociais. É dessa época a obra Mãe Coragem e os Seus Filhos, de 1939, talvez sua mais relevante obra.

No teatro, a influência de Brecht reside principalmente na elaboração de uma nova forma artística, nomeada de “teatro épico”, e chamada mais tarde pelo próprio artista de “teatro dialético”. Um dos pilares é a quebra da relação de distância entre plateia e atores, que muitas vezes interpretam vários personagens, interagem com os espectadores e remontam o cenário na frente deles. As obras demonstram, o tempo todo, serem apenas encenações, e não uma realidade em si.

Suas peças possuem, ainda, diversas músicas e poemas. Brecht era, afinal, poeta desde a adolescência, e utilizava a técnica como fragmentos de sua obra teatral. Além disso, chegou a publicar compilações, sendo a última delas em 1939.

Os poemas falam, muitas vezes, sobre as batalhas da classe operária, a importância da revolução e denúncias contra os regimes de extrema-direita. Não por acaso, muitas de suas obras são recorrentemente utilizadas, até hoje, por pessoas e instituições de orientação progressista, como sindicatos, partidos políticos e movimentos sociais.

Um dos mais relembrados poemas atribuídos a Brecht é o Louvor aos Lutadores, que abre esse artigo. Traduzido do original em língua alemã de diversas formas ao longo do tempo, o trabalho é um excerto da peça “A mãe”, de 1932, recriada em 1935 com o compositor Hanns Eisler, um dos principais parceiros artísticos da carreira de Brecht.

Ainda que nunca tenha sido de fato filiado a algum partido comunista, Brecht seria perseguido como tal durante a Segunda Ameaça Vermelha nos Estados Unidos, fugindo do país durante julgamento por atividades “anti-americanas”. No fim de sua vida, residiria e continuaria sua obra na Berlim Oriental, apoiando o regime comunista do novo país. Brecht faleceria em 1956, de infarto.

 

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