Um sujeito ocultado: trabalhadores e regime militar no Brasil

Marco Aurélio Santana

FonteEm Pauta, Rio de Janeiro, v. 12, n. 33, p. 85-96, 1º sem. 2014.

ResumoO artigo reflete sobre a trajetória dos trabalhadores brasileiros e suas entidades representativas durante o Regime Militar (1964-1985), bem como sobre as visões políticas e acadêmicas sobre a atuação dos mesmos no período. Neste sentido, indica o que seria um ocultamento sobre as efetivas atividades desenvolvidas por tais atores, seja no sentido da resistência ao regime militar, seja no que diz respeito ao apoio ao mesmo. Aponta-se o que poderiam ser vetores futuros de pesquisa acerca da temática.

SumárioDa época de ouro ao sujeito oculto | Algumas linhas e vetores analíticos | Visão geral do período | O que se precisa ainda fazer | Referências

Da época de ouro ao sujeito oculto

A década de 1950 marca um período de extrema importância para os trabalhadores brasileiros. O movimento sindical, capitaneado pela aliança das militâncias do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), logrou grande avanço em termos de organização e mobilização, o que resultou em uma forte participação dos trabalhadores no seio da sociedade e na vida política nacional. Pode-se dizer que se viveu um período de ouro na história deste movimento.

Malgrado isso, após mais de uma década desse intenso crescimento e atividade, toda a estrutura organizacional dos trabalhadores brasileiros, na base e na cúpula, foi duramente atingida pelo Golpe de Estado de 1964. Os golpistas apresentavam como uma das suas justificativas exatamente impedir a implantação de uma “república sindicalista” no país. A intervenção nas entidades, a prisão e perseguição de lideranças e militantes, bem como a desestruturação do trabalho nos sindicatos e nas fábricas, desmontaram atividades que levariam bastante tempo para ser recompostas enquanto tal. Em termos do movimento operário, o que restou, como tradicionalmente ocorria em períodos como este, foi o trabalho pequeno e silencioso no chão de fábrica e tentativas de avanços sutis na estrutura social. Era preciso recompor forças e somar esforços para enfrentar a ditadura.

No que diz respeito aos grupos militantes, a implantação do regime militar abriu, no seio da esquerda em geral, e no interior do até então partido hegemônico da esquerda, o PCB, em particular, um duro e sério debate acerca dos caminhos percorridos antes e depois do Golpe. Como se havia chegado até ali? Como explicar tão fragorosa derrota? Quem seriam os responsáveis? Da crítica e autocrítica resultou a aparição de uma série de outros grupos e concepções dos novos rumos a serem trilhados. A terra entrara em transe.

O PCB, diante das posturas assumidas pré e pós-Golpe (com sua política de alianças com a burguesia nacional e de frente pela democracia), era responsabilizado e colocado em uma posição como que à margem do processo de luta das esquerdas. Enquanto o partido clamava pela organização de base e pela via pacífica de luta contra a ditadura e pela democracia, entravam em cena as ações armadas enquanto opção de oposição ao regime. Um dado importante é que, contrabalançando a opção quase geral dos grupos de esquerda pela luta armada, o PCB optou por uma tentativa de penetrar na estrutura sindical, que dominara no pré-1964 e de onde havia sido defenestrado. E é a partir daí que balizará suas ações até o fim do período.

Deve-se dizer que muitas das críticas sobre o período pré-Golpe e de seus resultados pós-Golpe foram construídas no interior do próprio Partido. Para alguns de seus setores, ele havia sido “reformista” em demasia. Para outros, “radicalizado” demais. Assim, uma década tão importante para a história dos trabalhadores brasileiros ficou órfã. Como um anjo caído do processo. Uma década, cujas experiências sindicais não deveriam ser repetidas; antes, criticadas.

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Marco Aurélio Santana é Professor Associado de Sociologia do Departamento de Sociologia (DS) e do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA-UFRJ).

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