Trabalho, precarização e resistências: novos e velhos desafios?

Graça Druck

Fonte: Caderno CRH, Salvador, v. 24, n. spe. 1, p.37-57, 2011.

Resumo: O artigo discute por que a precarização social do trabalho é um novo e velho fenômeno, é diferente e igual, é passado e presente, um fenômeno de caráter macro e microssocial. Apresenta alguns fetiches presentes nas análises sobre o trabalho no contexto de mundialização do capital, marcado pela hegemonia do capital financeiro, pela reestruturação da produção e do trabalho e por um “novo espírito do capitalismo”. São cinco seções: introdução; discussão sobre aspectos metodológicos a partir de reflexões de projetos de pesquisa em andamento; considerações teóricas sobre a caracterização do capitalismo flexível e a centralidade da precarização social do trabalho; contextualização do trabalho na América Latina e no Brasil à luz dos estudos da OIT, indicadores de precarização e de resistências; e debate os velhos e novos desafios trazidos pelas transformações sob a égide da precarização social do trabalho e de um “espírito do capitalismo” reformulado, que, ao mesmo tempo em que reafirma o velho espírito, constitui um novo espírito.

Sumário: Algumas reflexões metodológicas | O atual momento da acumulação flexível: a precarização como estratégia de dominação | O quadro mais geral do trabalho e do emprego na América Latina e no Brasil nos anos 2000: alguns indicadores | O caso brasileiro, nesse contexto | Comentários finais: novos ou velhos desafios? | Referências

O artigo tem por objetivo apresentar três conjuntos de questões de naturezas diversas, que estão presentes em pesquisas cujas temáticas estão inseridas no debate sobre as transformações do trabalho nas últimas quatro décadas. Mais especificamente, busca-se tratar da precarização social do trabalho e das formas atuais de resistência numa perspectiva que contemple desafios de caráter metodológico, de conteúdo teórico e de análise de realidades empíricas.

Grande parte das pesquisas produzidas depara-se com essas questões. Portanto, não há novidade alguma ao se destacar esses desafios. Entretanto, pretende-se abordá-los de forma articulada, de tal modo que as escolhas metodológicas não apenas sejam coerentes com os elementos conceituais e de investigação de realidades concretas, mas expliquem a formulação de categorias mediadoras para a compreensão das transformações, tendências e continuidades ou reconfigurações trazidas sob a égide da precarização social do trabalho.

É com essa perspectiva que se pretende defender que o mundo do trabalho contemporâneo, na transição do século XX para o século XXI, vivencia uma rede de transformações cuja complexidade só pode ser desvendada a partir de uma perspectiva histórico-dialética. As contradições histórico-sociais do trabalho não permitem conclusões apressadas ou definitivas sobre rupturas e novas formas de trabalho ou de relações sociais, pois, ao lado de novas condições e situações sociais de trabalho, velhas formas e modalidades se reproduzem e se reconfiguram, num claro processo de metamorfose social.

Portanto, pretende-se explicitar por que a precarização social do trabalho é um novo e um velho fenômeno, por que é diferente e igual, por que é passado e presente e por que é um fenômeno de caráter macro e microssocial. Para tal empreitada, discutem-se alguns dos mitos e fetiches estatísticos que têm influenciado as análises sobre o trabalho e os trabalhadores no atual contexto de mundialização do capital, marcado pela hegemonia do capital financeiro, de uma nova reestruturação da produção e do trabalho e de um “novo espírito do capitalismo”, como formulado por Luc Boltanski e Ève Chiapello (2009).

Para atingir esses objetivos, dividiu-se o texto em quatro seções, além desta introdução. A primeira enuncia alguns aspectos e preocupações metodológicas, a partir de reflexões sobre projetos de pesquisa em andamento. A segunda apresenta algumas considerações de caráter teórico, a fim de avançar na precisão do momento histórico, da caracterização do capitalismo flexível e da centralidade da precarização social do trabalho. A terceira contextualiza, à luz dos estudos da OIT, o quadro do trabalho e do emprego na América Latina e no Brasil, apresentando alguns indicadores de precarização social e de resistência dos trabalhadores. E a quarta seção pretende enunciar algumas reflexões na tentativa de explicitar quais são os velhos e os novos desafios trazidos pelas transformações sob a égide da precarização social do trabalho e de um “espírito do capitalismo” reformulado, redefinido, que reafirma o velho espírito ao tempo que renova e constitui um novo espírito.

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Graça Druck é doutora em Ciências Sociais, com pós-doutorado na Universidade de Paris XIII. Professora associada I do Departamento de Sociologia e da Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia – PPGCS/FFCH/UFBA. Pesquisadora do Centro de Recursos Humanos/FFCH/UFBA e do CNPq. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Estrada de São Lázaro, 197. Federação, Cep: 40.210-730. Salvador, Bahia – Brasil.

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