Trabalho bancário: o paradoxo entre o avanço na barganha coletiva e a crescente insegurança

Ana Paula Fregnani Colombi
José Dari Krein
Taíse Cristina Gehm

Fonte: Revista da ABET, v. 13, n. 1, jan./jun. 2014.

Resumo: O artigo evidencia contra movimentos existentes no seio da categoria bancária. Por um lado, durante os anos 2000, esses trabalhadores retomaram seu potencial grevista e conquistaram a elevação do salário médio e novas cláusulas nas negociações coletivas. Por outro lado, tem ocorrido uma maior pressão sobre o trabalho, causando uma série de novos problemas nas condições de trabalho. O artigo contextualiza as mudanças recentes no sistema financeiro brasileiro, analisa as tendências das campanhas salariais durante os anos 2000 e discute a condições de trabalho dos bancários do Banco do Brasil. A pesquisa tem como hipótese que a degradação nas condições de trabalho da categoria, inclusive nos bancos públicos, está relacionada à submissão dos bancários ao sistema de remuneração variável, maior controle do trabalho e exigência pelo cumprimento de metas pouco factíveis, num contexto de adequação dos bancos aos paradigmas do capitalismo financeirizado.

Sumário: 1. Introdução | 2. O fortalecimento dos bancos públicos e a reconfiguração do sistema bancário nacional durante os anos 2000 | 3. Melhoria nos níveis de emprego e resultado das campanhas salariais no setor bancário durante os anos 2000 | 3.1. Análise dos resultados das negociações coletivas durante os anos 2000 | 4. A degradação das condições de trabalho no setor bancário durante os anos 2000 | 4.1. Gestão por metas e remuneração variável | 4.2 Bancários-vendedores | 4.3. Externalização das atividades | 4.4. Sofisticação dos mecanismos de controle | 5. Considerações finais | Referências

1. Introdução

O artigo pretende evidenciar os movimentos contraditórios existentes no seio da categoria bancária, no Brasil, durante os anos 2000. Por um lado, esses trabalhadores retomaram seu potencial grevista, mostraram capacidade de ação coletiva e obtiveram importantes conquistas nas campanhas salariais, especialmente com a elevação do rendimento médio. Essas conquistas fazem parte de um panorama mais geral em que houve uma melhora nos indicadores do mercado de trabalho brasileiro. Apesar desses avanços, é possível perceber contramovimentos em relação às condições de trabalho dos bancários, tendo em vista a crescente cobrança por metas e a geração de um ambiente de maior insegurança. É esse movimento, com sinais contraditórios, que baliza o presente artigo.

A compreensão desse fenômeno só é possível, entretanto, contextualizando a dinâmica do sistema financeiro internacional e a entrada do Brasil na globalização a partir dos anos 1990. Tal processo reconfigurou os parâmetros da concorrência no setor bancário brasileiro, tendendo a torná-lo mais privatizado e internacionalizado. Nos anos 2000, esse cenário sofreu algumas mudanças decorrentes dos processos de “bancarização” e do aumento da oferta de crédito desencadeados pelo sistema bancário brasileiro. Dentre as alterações estão a diminuição do grau de internacionalização do setor e a maior participação dos bancos nacionais, com destaque para o fortalecimento dos bancos públicos, especialmente a partir de 2006. A maior participação dos bancos públicos é um dos fatores que explica o crescimento da categoria durante os anos 2000.

A despeito do fortalecimento dos bancos públicos durante a segunda metade da primeira década do século XXI, essas instituições seguem a lógica determinada pelo sistema financeiro, a exemplo da aderência desses bancos aos Acordos de Basiléia e da adoção das mesmas estratégias executadas pelos bancos privados, tanto em termos mercadológicos quanto no que se refere à tratativa laboral. O que prevalece é a busca por competitividade e ganhos de eficiência, com reflexos sobre a forma de organização do trabalho bancário.

Nesse contexto de mudança na configuração do sistema bancário brasileiro, é possível perceber uma retomada na capacidade de mobilização do movimento sindical da categoria, com expressão no aumento do número de greves e de sua duração, com desdobramentos positivos nas negociações coletivas realizadas durante os anos 2000. Tais resultados referem-se, sobretudo, à melhoria na remuneração da categoria.

Como as conquistas dos trabalhadores bancários na última década estão concentradas nos ganhos em torno da remuneração, apesar das questões relacionadas às condições de trabalho e saúde dos bancários estarem sempre presentes nas pautas do movimento sindical, a hipótese que guia este artigo sustenta que a deterioração nas condições de trabalho da categoria, inclusive nos bancos públicos, está relacionada à submissão dos bancários ao sistema de remuneração variável, maior controle do trabalho e cumprimento de metas pouco factíveis, num contexto de adequação dos bancos aos paradigmas do capitalismo financeirizado.

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Ana Paula Fregnani Colombi é bolsista FAPESP. Doutoranda em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP), Centro de Estudos Sindicais e da Economia do Trabalho (CESIT).

José Dari Krein é Professor do IE/UNICAMP e pesquisador do CESIT.

Taíse Cristina Gehm é Mestre em Desenvolvimento Econômico pelo IE/UNICAMP/CESIT.

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