Terceirização e acumulação flexível do capital: notas teórico-críticas sobre as mutações orgânicas da produção capitalista

Giovanni Alves

Fonte: Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 16, n. 31, p. 409-420, 2011.

Resumo: O objetivo deste ensaio é apresentar elementos teórico-críticos para apreender o processo de terceirização como sendo um traço compositivo da nova configuração do capitalismo flexível no contexto da mundialização do capital. A terceirização visa racionalizar, sob as novas condições da concorrência e acumulação capitalista, a exploração da força de trabalho assalariado no interior de um novo modo de cooperação capitalista: a cooperação complexa, etapa superior da grande indústria sob as condições da revolução informacional.

Sumário: O complexo de acumulação flexível | Capitalismo flexível | Terceirização e o modo de “cooperação complexa” do capital | Terceirização e metabolismo social do capital | Terceirização e novo trabalhador coletivo do capital | Referências

O objetivo deste ensaio é colocar elementos teórico-categoriais para apreendermos, numa perspectiva histórico-ontológica, a natureza essencial do processo de terceirização que atinge a materialidade da produção do capital, no sentido amplo de totalidade social (o que implica considerar não apenas indústria propriamente dita, mas os serviços e inclusive a administração pública). O termo “terceirização” é utilizado neste ensaio como sendo um modo específico de (des)organização de coletivos do trabalho que se caracteriza pela “transferência para uma outra empresa de parte da produção da empresa-mãe, a qual busca concentrar sua produção em uma única e específica atividade, considerada o foco de atuação da empresa”. Por isso, alguns autores denominam a “terceirização” de “focalização” (BARROS, 2000, p. 327). A terceirização visa racionalizar, sob as novas condições da concorrência e acumulação capitalista, a exploração da força de trabalho assalariado.

É importante salientar que a terceirização, no sentido categórico expresso acima, surgiu numa temporalidade histórica especifica: o tempo histórico do capitalismo global, caracterizado pela vigência do regime de acumulação flexível e pela crise estrutural do capital. A terceirização adotada pelas organizações capitalistas ocorre no bojo do complexo de reestruturação produtiva do capital sob o espírito do toyotismo (ALVES, 2000, 2011). Deste modo, a categoria de “terceirização”, em comparação, por exemplo, com o putting-out da indústria capitalista do século XVIII, possui outra significação histórico-ontológica bastante precisa: ela diz respeito a um processo de ofensiva do capital na produção que reorganiza o espaço-tempo da exploração da força de trabalho assalariado nas condições da crise estrutural do capital.

A terceirização que ocorre no bojo da nova reestruturação produtiva do capital, na medida em que atinge os coletivos organizados do trabalho, tende a promover uma reordenação socioterritorial dos espaços de produção do capital, implicando não apenas a precarização do trabalho no sentido da corrosão de direitos trabalhistas (inclusive no tocante a negociação coletiva) ou degradação das condições salariais dos homens e mulheres que trabalham, mas também a precarização do trabalho no sentido de debilitamento da consciência de classe dos coletivos de trabalho, tendo em vista que desmonta os locis de memória pública e experiências pretéritas de luta de classes.

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Giovanni Alves. UNESP – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Filosofia e Ciências – Departamento de Sociologia e Antropologia. Marília – SP – Brasil.

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