Taxiando em meio a tempestade: mercado de trabalho não deve decolar no segundo semestre

Eduardo Miguel Schneider

As informações captadas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) em maio, nas seis áreas metropolitanas onde foi realizada [1], demonstraram baixo dinamismo ocupacional e crescimento da taxa de desemprego total em quase todas as regiões. Em abril, os rendimentos diminuíram também na quase totalidade das áreas pesquisadas. Nos últimos 12 meses, a massa de rendimentos diminuiu em todas as cinco regiões metropolitanas investigadas.

Em maio, a ocupação diminuiu três regiões metropolitanas: Recife (-1,2%), Porto Alegre (-0,7%) e Salvador (-0,3%). Na Região Metropolitana de Fortaleza a ocupação permaneceu estável (0,0%). A Região Metropolitana de São Paulo chegou a registrar ligeiro crescimento do nível ocupacional (0,3%), mas expansão ocupacional mais expressiva foi observada somente no Distrito Federal (1,1%). Esses resultados indicam o esboço de uma tímida retomada ocupacional em relação aos meses iniciais do ano, quando quase todas as regiões registravam declínio ocupacional. Sazonalmente, essa recuperação do emprego é esperada para o segundo semestre do ano mas, neste ano, em particular, a expectativa negativa para PIB deve arrefecer esse movimento.

O baixo dinamismo ocupacional no espaço metropolitano brasileiro não foi suficiente para prover trabalho para as pessoas que, normalmente, ingressam no mercado de trabalho e a taxa de desemprego aumentou em quase todas as regiões; exceto em Fortaleza, onde permaneceu estável.

Afastando os efeitos sazonais da análise, observa-se que, nos últimos 12 meses, a tendência da taxa de desemprego total foi de crescimento em todas as cinco regiões metropolitanas com estatísticas disponíveis. Esse fato preocupa pois consolida um resultado negativo de caráter mais estrutural.

Gráfico 7.1 – Taxa de desemprego total Regiões Metropolitanas e Distrito Federal Maio de 2014, Abril e Maio de 2015 (em % da PEA)

Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Convênio Seade–Dieese, MTE/FAT e convênios regionais.
* A PED-DF teve sua série estatística interrompida entre setembro de 2013 e setembro de 2014.

Ressentindo-se dos efeitos da insuficiência de dinamismo ocupacional, do aumento no desemprego e, também, do aumento na inflação, o Rendimento médio real dos ocupados declinou em quase todas as regiões pesquisadas; somente a Região Metropolitana de São Paulo experimentou ligeiro aumento. Em termos de valores absolutos, o Distrito Federal registrou o maior rendimento (R$2.677) e a Região Metropolitana de Fortaleza – espaço que sofreu a maior redução relativa do rendimento no mês (-2,7%) – o menor (R$1.197).

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Também a tendência do rendimento médio real nos últimos 12 meses foi de retração na maioria das áreas investigadas; somente permaneceu relativamente estável na Região Metropolitana de Salvador (0,2%). Nessa base de comparação merece destaque o declínio expressivo do rendimento nas regiões metropolitanas de São Paulo (-8,8%) e Porto Alegre (-8,4%), notadamente, áreas com destacada presença industrial.

Nos últimos 12 meses findos em abril último, a massa de rendimentos reais dos ocupados diminuiu em todas as cinco regiões metropolitanas pesquisadas. Tal redução da massa de rendimentos foi mais expressiva em duas regiões metropolitanas: São Paulo (-9,3%) e Porto Alegre (-8,3%); em ambas o declínio dos rendimentos foi o fator preponderante na explicação destes resultados. A diminuição dos rendimentos também foi determinante para a redução da massa de rendimentos na Região Metropolitana de Fortaleza e coadjuvante do declínio observado pela Região Metropolitana de Recife – onde a redução da ocupação também impactou negativamente a massa. Somente na Região Metropolitana de Salvador a redução da massa de rendimentos foi determinada pelo encolhimento ocupacional, já que os rendimentos permaneceram relativamente estáveis no período em análise.

Gráfico 7.2 – Variação percentual anual da massa de rendimentos reais dos ocupados  Regiões Metropolitanas – abril de 2014 – abril de 2015

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Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Convênio Seade–Dieese, MTE/FAT e convênios regionais.

 O mercado de trabalho formal brasileiro

Conforme estatísticas divulgadas pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o número de vínculos de trabalhadores formais desligados superou em 81 mil o volume de admitidos no acumulado do trimestre entre fevereiro e abril de 2015. No mesmo período do ano anterior o saldo havia sido positivo em 379 mil vínculos. Ao se ampliar o horizonte de análise, evidencia-se que o último trimestre teve o pior resultado dos últimos quatro anos nesse período, constatação que corrobora o desaquecimento do ritmo ocupacional da economia. Ao se analisar a evolução do resultado mensal no trimestre, identifica-se a deterioração da dinâmica ocupacional ao longo dos meses. Assim, não há indícios que os ventos sazonais que normalmente sopram a favor a partir de meados do ano tenham força para mover o mercado de trabalho desta situação desfavorável.

Em termos das cinco grandes regiões brasileiras, a maioria registrou maior volume de trabalhadores demitidos frente ao número de admitidos. Merece destaque o saldo negativo na movimentação do Nordeste, o pior entre as regiões (-91 mil vínculos). Por outro lado, a região sul experimentou o melhor resultado entre as regiões, logrando um saldo positivo de 37 mil vínculos.

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Fonte: CAGED – Abril/15.

Setorialmente, no acumulado do último trimestre, quase todos os setores registraram saldos negativos na movimentação. A única exceção foi o setor serviços, onde o número de vínculos de admitidos superou em 112 mil o volume de desligados. No mesmo trimestre do ano anterior todos os setores haviam registrado saldos positivos em suas movimentações, fato que contribui para caracterizar a generalização de um cenário conjuntural de desaquecimento do mercado de trabalho.

A indústria foi o setor que mais eliminou postos de trabalho no último trimestre: foram 70 mil vínculos a menos – no mesmo trimestre do ano anterior o saldo da movimentação de trabalhadores industriais havia sido positivo em 58 mil vínculos.

Coube a construção civil o segundo pior desempenho no trimestre: as demissões superaram as admissões em 67 mil vínculos. No mesmo trimestre do ano anterior o resultado havia sido positivo em 27 mil vínculos.

Como os outros setores analisados, o comércio também deteriorou substancialmente seu desempenho frente ao mesmo período do ano anterior: de uma movimentação positiva de 10 mil vínculos para um saldo negativo de quase 49 mil vínculos.

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Fonte: CAGED – Abril/15.

A redução no número de empregados formais na economia brasileira no trimestre em análise foi determinada pelo corte nos postos de trabalho situados nas faixas salariais acima de 1,5 salários mínimos. As faixas até 1,5 salário mínimo registraram saldos positivos em suas movimentações. Esses resultados indicam que a rotatividade (demissões de trabalhadores com salários mais elevados e contratação por salários mais baixos) continua sendo um expediente utilizado pelas empresas para redução dos custos salariais. Sobretudo, em um cenário de recrudescimento do mercado de trabalho e de retração dos rendimentos, essa tendência essa deve ser bastante potencializada, uma vez que os trabalhadores que batem a porta por um trabalho, muito provavelmente o aceitariam faze-lo por uma compensação salarial inferior a que está sendo percebida pelo atual trabalhador na mesma função – dado que os salários atuais incorporam os ganhos de barganha dos trabalhadores de períodos favoráveis anteriores (de baixo desemprego).

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Fonte: CAGED – Abril/15.
Os valores excluem os registros com a informação de remuneração ignorada.

Nota

[1] Regiões metropolitanas pesquisadas: Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e no Distrito Federal.

Eduardo Miguel Schneider é economista, técnico licenciado do Dieese; doutorando em Economia do desenvolvimento no PPGE/UFRGS/Bolsista CNPq.

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