Sindicatos falham quando segmentam o movimento, diz Juberlei Bacelo

Fotografia: Charles Soveral/DMT

por Charles Soveral

Com uma visão bastante crítica do movimento sindical na atualidade, Juberlei Bacelo, por duas vezes presidente do Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Sul e atual diretor da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Estado do Rio Grande do Sul (Fetrafi), diz que as organizações que defendem os trabalhadores ainda estão longe de promover uma consciência de transformação social e falham ao trabalhar apenas as questões específicas de cada categoria.

Segundo ele, uma das barreiras ainda é a visão corporativista e segmentada da luta dos trabalhadores. “Os sindicatos investem muito na pauta corporativa de sua categoria e raramente olham para o todo, para o contexto social e acabam por não despertar a consciência dos trabalhadores. Os sindicatos ainda trabalham com uma lógica implantada na época de Getúlio Vargas, que foi espelhada na Carta de Lavoro da Itália fascista dos anos 40, que induz aos trabalhadores uma visão setorial sem compromissos com o todo da sociedade.”

Juberlei Bacelo explica que, na década de 80, quando a Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi criada, a luta era também para romper com o ciclo de sindicatos inoperantes, atrelados ao Governo, subservientes a uma política de controle estatal sobre os trabalhadores que se estabeleceu na época getulista. “Não é por acaso que somente agora, recentemente, no Governo Lula, é que conseguimos a legalização das centrais sindicais, porque sequer era previsto que os trabalhadores pudessem se reunir em um único organismo sindical.”

Uma das questões que mais incomoda Juberlei Bacelo é aquela ideia que ainda persiste em alguns setores de que professor, bancário, metalúrgico, por exemplo, não têm nada a ver um com o outro. “Durante décadas, a ideia dominante foi a de que cada um tinha que tratar de seus interesses, o que só favoreceu o poder econômico, este sim unido e bem estruturado, que consegue manter os trabalhadores fracionados ainda em categorias.”

Essa correlação de forças entre o capital e os trabalhadores encontra no Brasil de hoje seu melhor momento, explica o dirigente sindical, mas está sendo muito mal aproveitado pelas lideranças dos trabalhadores. “Temos no Brasil já uma década de governos com uma visão mais favorável aos trabalhadores; ainda assim, o progresso não acontece na velocidade necessária para superarmos estas questões históricas. O problema de uma categoria não pode se limitar àquela categoria. Tem de ser visto como uma questão do conjunto da classe de trabalhadores. Inclusive aqueles que nem pertencem a uma classe trabalhadora. Se tu tens hoje um exército de desempregados, isso influencia diretamente na tua categoria. É fácil perceber esta relação. Com muitos desempregados, os patrões exercem com tranquilidade o arrocho salarial e a retirada de direitos porque há muitos aguardando aquela vaga”, completa ele.

Outra questão importante apontada pelo ex-presidente do Sindicato dos Bancários é que a unidade deve ser construída a partir de pontos comuns a todas as categorias. Juberlei Bacelo lembra que os problemas da Saúde Pública, da Segurança Pública, da Educação não são desta ou daquela categoria. São de toda a população, empregada ou não e que devem ser pensados assim pelas lideranças sindicais. “Questões importantes como, por exemplo, o fator previdenciário, que tanto prejudica ao conjunto dos trabalhadores. Qual é a organização dos trabalhadores que realmente prioriza o debate e se mobiliza para enfrentar esta questão? Os temas das reformas política e tributária então? Aqui, no Sindicato dos Bancários, fizemos uma pesquisa para preparar a última campanha salarial e colocamos estes temas para a categoria. A grande e expressiva maioria classificou estes temas como muito importantes para os trabalhadores. Isso evidencia que, quando fomentados, os trabalhadores vêm e mostram que estão dispostos a se envolver e lutar para construir uma sociedade melhor para todos.”

O dirigente bancário assinala, ainda, que a manutenção dos atuais sistemas político e tributário interessa apenas à classe dominante. “Na hora de discutir o financiamento público de campanha, o voto em lista e o voto distrital, por exemplo, a grande mídia entra em ação e passa para a opinião pública a visão de manter as coisas como estão, sem mexer de fato na estrutura que aí está.”

Juberlei Bacelo lembra que essas questões, além da pauta tradicional dos sindicatos, devem fazer parte da agenda de todos os sindicatos. “E isso nos leva, sim, para uma reforma sindical que foi pautada no primeiro ano do Governo Lula e que, depois, perdeu o rumo. O modelo sindical atual é cômodo, onde o sindicato faz a campanha uma vez por ano e fica tranquilo e não fica constantemente disputando a sua base porque sabe que nenhum outro sindicato pode entrar ali. Isso, além de tudo, fere a autonomia e a liberdade. Esta luta precisa ser retomada para mudarmos este cenário e libertarmos as entidades sindicais, para fazer valer sua força e representatividade, hoje amordaçada pelo imposto sindical que precisa acabar”, conclui ele.

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