Seletividade, por sexo, na atividade industrial brasileira nos anos 2000

Luís Abel da Silva Filho
Silvana Nunes de Queiroz

Fonte: Revista da ABET, v. 14, n. 2, p. 259-269, jul./dez. 2015.

Resumo: As transformações sociais vislumbradas em todo o mundo implicaram em importantes mudanças no papel da mulher. A luta por direitos alavancada pelos movimentos feministas tem repercussão em sua entronização na vida política e no mercado de trabalho. A partir desse contexto, este trabalho tem como objetivo analisar e comparar a participação feminina e a masculina no mercado de trabalho da indústria brasileira, segundo características socioeconômicas e demográficas. O recorte temporal compreende os anos de 2001 e 2010. Inicialmente, faz-se uma revisão da literatura e em seguida se recorre ao banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, do Ministério do Trabalho e do Emprego – MTE. Os resultados mostram crescimento expressivo da participação feminina no mercado formal de trabalho brasileiro, já que a sua participação relativa foi superior à masculina em todos os setores de atividade econômica analisados. Porém, apesar de mais escolarizadas, a rotatividade no emprego industrial é mais elevada para as mulheres, e elas se concentram nas faixas de remuneração mais baixa.

Sumário: 1. Considerações iniciais | 2. Inserção feminina no mercado de trabalho: breves considerações | 3. Caracterização regional do mercado de trabalho e locação da mão de obra por setor de atividade econômica | 4. Perfil demográfico e socioeconômico dos ocupados na indústria brasileira | 5. Considerações finais | Referências bibliográficas

1. Considerações iniciais

As transformações ocorridas em âmbitos mundiais, econômico, social e cultural têm permitido maior inserção feminina nas decisões em sociedade. A luta por direitos, alavancada pelos movimentos feministas, tem repercussão na entronização da mulher na política social. A maior participação na vida política e no mercado de trabalho resulta de um processo irreversível, que envolve a sociedade em todos os seus aspectos e em todo o mundo.

No mercado de trabalho brasileiro, ainda que lento, é evidente o crescimento da participação feminina na População Economicamente Ativa (ela passou de 44,4%, em 2003, para 46,1%, em 2011) e na População Ocupada (aumento de 43% para 45,4%, no referido intervalo), segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE, 2012). Questões relacionadas à necessidade de complementação de renda familiar ou, em muitos casos, à chefia de domicílios, além do desejo de independência financeira, orientam o ingresso feminino no mercado de trabalho (BRUSCHINI e LOMBARDI, 2000; WAJNMAN e PERPÉTUO, 1997; LEONE, 2003; BRUSCHINI, 2007; LEONE e BALTAR, 2010).

Entretanto, em termos ocupacionais, elas são maioria no número de desemprego aberto e ocupam postos de trabalho de menor projeção social, sobretudo em atividades do setor terciário, embora atestem, ainda, bastante representatividade no trabalho informal ou por conta própria (SILVA FILHO, 2011; SILVA FILHO e CLEMENTINO, 2011). Além disso, mesmo quando mais escolarizadas ou responsáveis por cargos semelhantes aos dos homens, auferem rendimentos menores que os deles (BRUSCHINI e PUPIN, 2004).

Este artigo objetiva analisar e comparar, no período recente, a participação feminina e a masculina na indústria nacional, segundo características socioeconômicas e demográficas. O recorte temporal compreende os anos de 2001 e 2010, o primeiro e o último ano da primeira década do século XXI. Os dados provêm da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), que disponibiliza informações do mercado de trabalho formal de todo o país.

O artigo se justifica por contribuir com um assunto atual e relevante no tocante à inserção feminina na indústria, setor da atividade econômica com maior capacidade de projeção social, embora se caracterize pela elevada seletividade quanto ao sexo.

Em função do objetivo proposto, o artigo está estruturado em cinco seções, constituindo a primeira essas considerações iniciais. A segunda retoma a discussão acerca da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro; a terceira analisa a participação feminina no mercado formal de trabalho brasileiro, segundo a região geográfica e os setores de atividades econômicas; na quarta, analisa-se e compara-se a distribuição da mão de obra feminina, vis-à-vis com a masculina, empregada na indústria formal brasileira, por idade, escolaridade, tempo no emprego, tamanho do estabelecimento e rendimento. Na última, tecem-se as considerações finais.

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Luís Abel da Silva Filho é doutorando em Ciências Econômicas pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – IE-UNICAMP; professor do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA).

Silvana Nunes de Queiroz é doutora em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP-IFCH/NEPO); professora adjunta do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA); coordenadora do Observatório das Migrações no Estado do Ceará.

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