Queda do desemprego na Zona do Euro oculta precarização do trabalho, revelam economistas

Pelo quarto ano consecutivo, a taxa de desemprego na Zona do Euro diminuiu, chegando agora a 9,1%, o nível mais baixo registrado desde fevereiro de 2009. A notícia, porém, não chega a animar alguns economistas, que detectam uma transformação no tipo de contratos oferecidos pelo mercado. O aumento da oferta de empregos não se reflete na melhoria da qualidade de vida do trabalhador.

Verdade que, na ponta do lápis, a economia da Zona do Euro, que engloba dezenove países da União Europeia, continua a se recuperar da crise de 2008. As estatísticas do mercado de trabalho dão, há quatro anos, sinais claros desta recuperação com a queda do desemprego. Dois detalhes, no entanto, chamam a atenção dos economistas mais precavidos: a desigualdade do desemprego entre os países da Zona do Euro e a transformação do tipo de contratos de trabalho oferecidos aos desempregados.

Quanto à desigualdade entre os dezenove países do grupo, as diferenças são chocantes. Se, na Alemanha, o desemprego entre os jovens com menos de 25 anos não passa de 6,7%, na Espanha, 39,2% deste mesmo segmento da população estão desempregados. As diferenças deixam clara a capacidade ou a dificuldade de cada país de se distanciar dos nefastos efeitos da crise que já dura quase uma década, além dos obstáculos para integrar os recém-chegados no mundo profissional.

A precarização dos contratos

Quanto à evolução do modelo de trabalho, os economistas europeus apontam para uma transformação estrutural, que se reflete na maneira de se calcular a taxa de juros pelo Banco Central Europeu (BCE).

Num modelo clássico, o desemprego diminui até chegar ao “emprego pleno”, quando, sob pressão da falta de mão-de-obra, os salários aumentam, elevando o índice de inflação. Numa economia saudável, esse índice de inflação anual deveria ficar em 2%, de acordo com a política monetária do BCE.

Ora, a recente queda do desemprego na Europa não está aumentando o salário dos trabalhadores e, consequentemente, não se reflete numa inflação desejada. Mas, como os salários não aumentam, se há uma maior demanda pela mão-de-obra? Simples: os empregos oferecidos são precários, com contratos temporários, e, muitos deles, tomados por trabalhadores sem vínculos sindicais.

“Se a retomada da economia está criando novos postos de trabalho, eles são de menor qualidade do que os que existiam antes da crise”, explica Thibault Mercie, economista do banco BNP Paribas, em entrevista ao jornal Le Monde que chegou às bancas na tarde desta terça-feira (1º).

Tendência momentânea ou evolução inevitável?

A questão do momento, portanto, é saber se a recuperação da economia da Zona do Euro chegará ao ponto de consolidar esses postos de trabalho que, por ora, são precários, ou se essa precariedade se tornará a norma do futuro próximo, refletindo uma política de flexibilização das leis do trabalho, já aplicada em Portugal, Espanha, Alemanha e, em breve, na França de Emmanuel Macron.

Fonte: Rádio França Internacional
Data original da publicação: 01/08/2017

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