Países ricos crescem ao menor ritmo em três anos pelos riscos globais

A economia mundial se detém. O FMI diminuiu em julho sua previsão de crescimento global para 3,2%. As tensões geopolíticas que assolam o planeta – principalmente, as comerciais – explicam essa parada que se alimenta com os países ricos. A OCDE anunciou na segunda-feira que o clube das 36 economias mais desenvolvidas avançou só 1,6% no segundo trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2018. É a mais baixa porcentagem em três anos. Os países da OCDE têm febre, mas ela é especialmente alta na UE. Os piores dados vieram do Reino Unido e Alemanha, com grandes retrocessos do PIB trimestral.

Apesar de não significar uma grande surpresa – a maioria dos países já havia publicado seus dados de crescimento do segundo trimestre –, a estatística da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) serve para confirmar que os riscos geopolíticos sobre os quais especialistas e políticos alertam há mais de um ano se transformou em realidade. Isso ocorre porque os 36 países que formam o clube da OCDE avançaram entre abril e junho 1,6% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. É preciso voltar ao terceiro trimestre de 2016 para encontrar uma porcentagem tão baixa.

A Europa traz números ainda piores. A UE só conseguiu crescer no trimestre 1,3% interanual, enquanto a zona do euro ofereceu um magro 1,1%. Nos dois casos, essas porcentagens são as piores desde o final de 2013, quando o continente ainda sofria as consequências de sua pior crise desde a Segunda Guerra Mundial.

Os dados de um trimestre para o outro também não servem para trazer otimismo. Todos os grandes países registraram um crescimento inferior ao da primeira parte do ano. Assim, a OCDE passou de 0,6% a 0,5%, a porcentagem mais baixa desde o começo do ano passado. Os Estados Unidos, por sua vez, reduziram seu ritmo de 0,8% a 0,5%; e o Japão, de 0,7% a 0,4%.

Mas se destaca principalmente o retrocesso das duas grandes economias europeias: o Reino Unido – cujo PIB passou de crescer 0,5% no primeiro trimestre a cair 0,2% no segundo – e a Alemanha – de um aumento de 0,4% a uma queda de 0,1% –. Assim, a primeira e a segunda economia europeia estão a um passo da recessão, pelo menos técnica, ou seja, que o PIB caia dois trimestres consecutivos. O Instituto de Pesquisa Econômica de Munique (Ifo) apresentou na segunda-feira seu índice de confiança dos empresários alemães, que em agosto caiu a seu nível mais baixo desde novembro de 2012. “As empresas voltaram a estar muito menos satisfeitas com sua situação comercial. O pessimismo sobre os próximos meses também aumentou. Há cada vez mais indícios de uma recessão na Alemanha”, disse Clemens Fuest, presidente do Ifo. O Bundesbank também alertou sobre o crescente risco de recessão na grande potência europeia.

A quarta economia do euro não está muito melhor. Além de uma dívida pública de mais de 130% do PIB, a Itália leva uma estagnação preocupante: nos últimos cinco trimestres, só conseguiu avançar 0,1% em um, em outros dois ficou parada e em outros dois retrocedeu 0,1%.

Os três países mais afetados pelos novos ventos protecionistas são os que mais vivem de suas relações com o exterior. “Devido a sua dependência do setor exportador, a economia alemã se viu muito afetada pelo conflito comercial. Os problemas da Alemanha são o primeiro sinal para o restante da zona do euro, na qual o Reino Unido e a Itália também não estão longe de uma recessão. “No caso de a Alemanha cair na recessão, é muito provável que o restante da união monetária passe por um processo semelhante”, afirmou na semana passada Isabel Schnabel, professora de Economia Financeira na Universidade de Bonn e membro do comitê de sábios que assessora o Governo alemão.

“Complexo, turbulento”

Há tempos que a OCDE não apresentava dados tão decepcionantes. O medo a um outono repleto de problemas foi ouvido na semana passada em Jackson Hole (Wyoming, EUA), onde a nata das finanças internacionais se reuniu. Apesar de dizer que a economia norte-americana continua estando em relativa boa forma, o presidente da Reserva Federal (banco central), Jerome Powell, admitiu na sexta-feira que vê cada vez mais nuvens de tempestade. De Jackson Hole, enumerou a lista de problemas que essas semanas engordaram: anúncio de novas taxas alfandegárias; novas evidências de uma crise global, principalmente na Alemanha e China; riscos geopolíticos como a possibilidade de um Brexit sem acordo, as tensões em Hong Kong e a crise política na Itália; movimentos bruscos nos mercados, com volatilidade nas Bolsas e um mercado de dívida que emitem sinais que lembram crises anteriores… Em conjunto, Powell descreveu a fotografia do momento como “complexa, turbulenta”.

Fonte: El País Brasil
Texto: Luis Doncel
Data original da publicação: 27/08/2019

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