Os sentidos do trabalho e a produção artesanal: os casos do luthier e do mestre vidreiro

Felipe Tavares
Valquiria Padilha

Fonte: Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão, Curitiba, v. 1, n. 1, jan./jun. 2016.

Resumo: No contexto capitalista atual, em que o mundo do trabalho tem se caracterizado como um cenário de precarização, incertezas e instabilidades, onde a maioria dos assalariados realiza trabalhos alienados e com pouco sentido, que alternativas seriam possíveis aos trabalhadores? Seria o trabalho artesanal uma opção de vida laboral dotada de sentido, ainda que inserido na lógica capitalista? Que particularidades esse tipo de trabalho possui? Seriam elas suficientes para propiciar aos trabalhadores/artesãos o que os empregos tradicionais da sociedade industrial não propiciam? Com essas questões ao fundo, o presente artigo é resultado de uma pesquisa que investigou quais são as características peculiares do trabalho artesanal e em que medida elas podem ser consideradas como indicadores de um trabalho com sentido, não alienado – ainda que na ordem capitalista. Partimos da premissa de que a precarização do mundo do trabalho no capitalismo se dá, como evidenciam inúmeros estudos, pelo fato de o trabalhador assalariado estar imerso num universo de gestão cujos valores e princípios levam ao esgotamento físico e mental, sendo a produção artesanal uma das possíveis alternativas que propiciam condições de trabalho mais saudáveis e autônomas. Para confirmar essa suposição, analisamos as experiências de duas categorias de artesãos existentes no Brasil – o luthier e o vidreiro. A partir do contato com esses mestres de ofício, por meio de uma pesquisa etnográfica que usou observação não participante e entrevistas aprofundadas, concluímos que os mestres artesãos, apoiados pelas peculiaridades do savoir-faire artesanal, estão parcialmente isentos da precarização presente no cotidiano laboral dos trabalhadores assalariados.

Sumário: 1 Introdução | 2 O trabalho | 2.1 A precarização no trabalho e a saúde do trabalhador | 2.2 Os sentidos do trabalho | 2.3 O trabalho artesanal | 3 A pesquisa etnográfica | O luthier | O mestre vidreiro | 4 Considerações finais | Referências

1 Introdução

Esse artigo é fruto de uma pesquisa que analisou o trabalho artesanal – especialmente o de mestres de ofício – inserido no atual contexto capitalista, como uma das alternativas possíveis à precarização no mundo do trabalho. As perguntas que nortearam a pesquisa foram: Existem alternativas reais, na ordem do capital, para os trabalhadores desfrutarem de uma vida laboral dotada de sentido? No contexto capitalista atual, em que o mundo do trabalho tem se caracterizado como um cenário de precarização, incertezas e instabilidades, onde a maioria dos assalariados realiza trabalhos alienados e com pouco sentido, que alternativas seriam possíveis aos trabalhadores? Seria o trabalho artesanal uma opção de vida laboral dotada de sentido, ainda que inserido na lógica capitalista? Que particularidades esse tipo de trabalho possui? Seriam elas suficientes para propiciar aos trabalhadores/artesãos o que os empregos tradicionais da sociedade industrial não propiciam?

Partimos da premissa de que a precarização do mundo do trabalho se dá, como evidenciam inúmeras pesquisas, tanto pelo fato de o trabalhador assalariado estar submetido a uma lógica em que produz para auferir lucro ao capitalista, quanto pelo fato de esses trabalhadores estarem imersos num universo de gestão cujos valores e princípios levam ao esgotamento físico e mental. Acreditamos que há alternativas que propiciam condições de trabalho mais saudáveis e com mais sentido, como é o caso da produção artesanal, já que o artesão, em tese, possui mais autonomia e participação no processo do trabalho, além de não estar submetido aos modelos de gestão industrial.

Diante disso, o objetivo principal da pesquisa foi investigar quais são as características peculiares do trabalho artesanal – a partir das experiências de duas categorias de artesãos existentes no Brasil, o luthier e o vidreiro – procurando identificar os indicadores que definem um trabalho com sentido e ajudam a diferenciar o trabalho artesanal do trabalho industrial. A pergunta central que se pretendeu responder foi: estariam os artesãos, pelas peculiaridades do savoir-faire artesanal, blindados (totalmente ou parcialmente) contra o que está presente no cotidiano laboral dos trabalhadores assalariados tipicamente industriais, na ordem do capital? Além disso, descrevemos o processo do trabalho artesanal dos artesãos estudados, buscando evidências da autonomia e da participação do artífice em todas as etapas da cadeia produtiva – o que, teoricamente, afastam-no da alienação e da falta de sentido no trabalho.

Para atingir os objetivos propostos, foram utilizadas as seguintes técnicas de pesquisa, no âmbito de uma metodologia qualitativa: 1) Levantamento bibliográfico sobre trabalho, precarização do trabalho, sentidos do trabalho, trabalho artesanal e 2) Pesquisa de campo e análise das entrevistas, baseada na metodologia etnográfica.

Clique aqui para continuar a leitura deste artigo no site da Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão

Felipe Tavares é graduando em Administração de Empresas na FEARP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), USP (Universidade de São Paulo).

Valquiria Padilha é Pós-Doutora pela Téluq/UQAM (Canadá). Professora Doutora no Departamento de Administração da FEARP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), USP (Universidade de São Paulo).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *