Onda de greves no setor de fast-food dos Estados Unidos

Em Detroit, Estados Unidos, na sexta-feira, 10 de maio, centenas de trabalhadoras e trabalhadores de dezenas de lojas McDonald’s e de outras cadeias de fast-food estiveram em greve. Reivindicam aumento de salários, de 7,4 dólares para 15 dólares por hora, e a liberdade de formarem sindicato sem serem perseguidos. Esta greve segue-se a outras semelhantes em Nova York, Chicago e St. Louis.

A paralisação em Detroit foi divulgada pelo site detroit15.org e é apoiada por uma coligação de forças locais, que inclui ativistas do trabalho, personalidades locais e religiosas, e teve também o apoio da Service Employees International Union (Sindicato Internacional dos Trabalhadores dos Serviços). Esta central sindical representa 1,9 milhões de trabalhadores nos Estados Unidos e no Canadá e tem crescido significativamente nos últimos anos.

As grandes cadeias do fast-food são um dos poucos setores da economia americana onde tem aumentado o emprego. Atualmente o setor emprega 53.000 pessoas em Detroit, segundo o jornal “The Washington Post”, o dobro do que ocupa a indústria de automóvel na cidade norte-americana historicamente simbolizada por esta indústria.

Os trabalhadores do fast-food recebem, em geral, o salário mínimo de 7,40 dólares por hora, um salário que quase não lhes permite sobreviver e muito menos viver com dignidade.

Nos Estados Unidos, os empregos que têm sido criados após 2007 têm salários baixos, na esmagadora maioria. De acordo com um relatório do National Employment Law Project, citado pelo jornal “The Washington Post”, 60% dos empregos destruídos pela recessão nos EUA foram de trabalhadores que recebiam um salário médio, entre 14 e 21 dólares por hora, mas na ligeira retomada apenas 22% dos empregos criados têm salários médios. Pelo contrário, 58% dos empregos agora criados são de baixos salários, entre 7 e 13 dólares, enquanto representavam apenas 22% dos empregos destruídos pela recessão.

Os trabalhadores do setor do fast-food protestam também contra as perseguições e humilhações de que são alvo e reivindicam o direito a organizarem-se sindicalmente, sem serem perseguidos. Segundo refere o jornal “The Nation”, numa loja do grupo Jimmy John de St. Louis, os trabalhadores denunciaram humilhações que sofrem, como mensagens afixadas publicamente onde o seu trabalho é criticado, com frases como “Eu hoje fiz 3 sanduíches mal”.

A busca de nova estratégia nas lutas do trabalho

Tradicionalmente, a sindicalização no setor do fast-food é extremamente baixa. De acordo com o “The Nation”, as greves da última sexta-feira em Detroit, assim como a de St. Louis, igualmente na semana passada, e as de Nova York e Chicago, no mês passado, têm traços comuns e parecem incorporar-se na tentativa de encontrar uma nova estratégia nas lutas do trabalho.

Têm o apoio geral da Service Employees International Union e agregam diferentes grupos de ativistas e figuras locais em cada comunidade. Por exemplo, em Detroit, a greve contou com o apoio do pastor de uma igreja batista, assim como de outras personalidades, incluindo alguns deputados e vereadores.

A forma de luta também é específica. Não é uma greve numa mesma cadeia de lojas, nem procura de imediato paralisar todos os trabalhadores. A greve é lançada por uma minoria de trabalhadores em cada loja, mas juntando trabalhadores das diversas cadeias de fast-food de uma mesma área.

Na greve os trabalhadores reúnem-se junto às lojas com cartazes, faixas e gritam palavras de ordem. Para essas concentrações confluem também os ativistas e apoiadores da coligação local. Essas concentrações tentam ganhar adesões à greve, principalmente dos trabalhadores chamados para substituir os grevistas.

As concentrações e o apoio das coligações locais visam também dissuadir os patrões de reprimirem e despedirem as pessoas que participaram da greve.

Em Detroit, a greve levou ao fechamento total de, pelo menos, quatro lojas. Numa delas, com 20 trabalhadores, a empresa tentou substituir os grevistas por outros trabalhadores, mas estes acabaram por aderir também à paralisação. Segundo os trabalhadores em luta, nesta cidade paralisaram mais de 400 pessoas, ultrapassando o número de grevistas de Nova York (200) e tornando-se a maior greve já ocorrida no setor de fast-food nos Estados Unidos.

Obama prometeu aumentar o salário mínimo, mas em março passado a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou por 233 contra 184 votos o aumento do salário mínimo federal para 10,10 dólares por hora.

Estas greves no setor de fast-food seguem-se às da Walmart, e denunciam as difíceis condições de vida das trabalhadoras e dos trabalhadores mais mal pagos do setor de serviços.

É de salientar a sua vontade de lutar, por vezes em condições muito difíceis, e a procura de novos caminhos e estratégias de luta. Se conseguirão agora obrigar os patrões do setor a negociar é algo incerto, como assinala o jornal “The Nation”, mas marcam um caminho, apontam para a mudança de políticas e reforçam a luta pelo aumento do salário mínimo.

Fonte: Esquerda.net, com alterações
Data original da publicação: 14/05/2013

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