O Estado e a educação na perspectiva da classe trabalhadora

Fernando Ponte

Fonte: PerspectivaFlorianópolis, v. 31, n. 1, p. 29-44, jan./abr. 2013.

Resumo: Neste artigo, destacam-se alguns autores que questionam a categoria trabalho como centralidade e outros que criticam tal posição. Nesta direção, procura-se situar outra abrangência para o debate. Trata-se de sugerir que, sem considerar o caráter histórico-cultural, o trabalho, como princípio positivo, torna-se uma idealização inclusive como princípio educativo reivindica a perspectiva da classe trabalhadora. Ou seja, se não se considera seu conceito como criação de valor, a emancipação formativa reduz-se ao plano da consciência, perde sua ontologia. Nesse âmbito, a centralidade política do capital é a substância do que parece ser a retomada da centralidade do trabalho. O seu real antagonismo é colocar o Estado e a educação sob outra centralidade, a teoria revolucionária como princípio educativo orientador.

Introdução

A abordagem do tema proposto pode estar sujeita a algumas ciladas, o que dificulta uma intervenção que busca, de forma resumida, não ser uma mera repetição de chavões ou lugares-comuns. Noutra maneira de dizer, nem sempre, para o pensamento crítico, o mais consequente é formular questões cujas respostas sejam as mais aceitáveis. Esse tipo de convenção tornou-se mais usual e predominante nas universidades, como condição para a formação e carreira acadêmica. O que torna determinados temas indigestos e suas abordagens situadas como fora de lugar.

Nas diferentes perspectivas metateóricas e seus correspondentes ideológicos antirrevolucionários, o conceito de classe social estaria fora de lugar porque as relações sociais identitárias, ou “forma de vida”, e não mais as “distributivas” seriam as explicativas dos fenômenos sociais. Larga bibliografia na sociologia e filosofia moral que tem abordado a questão sob essa perspectiva é divulgada também no Brasil, remetendo o debate à chamada atualização da sociedade pós-industrial, sociedade do não trabalho ou outras denominações próximas.

Quase nessa mesma direção, como sociedade pós-industrial Alain Touraine não advoga exatamente a sociedade sem o trabalho, mas algo como uma sociedade que não se baseia mais no trabalho produtivo, “que se opunha diretamente ao capitalista” (TOURAINE, 1970, p. 15).

O autor refere-se à denominada sociedade pós-industrial como explicada pela categoria mutação, algo que possibilita compreender como a resistência da vida privada não se define mais no quadro do trabalho perante um poder de integração e de manipulação: “[…] é o conjunto da personalidade que se mobiliza”. “Duma sociedade à outra” (TOURAINE, 1970, p. 19), a ruptura com o passado ainda tem movimentos que se apoiam em análises herdadas da situação pretérita, mas tendendo, cada vez mais, a uma fraca institucionalização dos conflitos originados do mundo do trabalho.

Jürgen Habermas (2001), em 1981, com seu livro Teoria da ação comunicativa, foi um dos autores que mais se notabilizaram ao elaborar uma teoria social alternativa aos clássicos da sociologia do trabalho (Marx, Durkheim e Weber). Sua teoria da ação postula desenvolver um conceito de racionalidade capaz de emancipar-se, integrando os paradigmas de sistema e mundo da vida, reconstruindo o projeto da ilustração onde a subjetividade constrói a objetividade: pela linguagem mediadora da intersubjetividade, que requer conceitos comuns.

Nessa formulação, o trabalho perde o alcance como categoria na medida em que sua base, a coisificação, “prejulga as relações com o mundo” (HABERMAS, 2001, p. 453), sem compreender a maneira como os sujeitos dotados de linguagem referem-se ao mundo social e ao mundo subjetivo próprio de cada um. Seria, na referência a Henriche e na crítica a Adorno, uma “autoconsciência enceguecida”.

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Fernando Ponte é doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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