O desemprego na história do pensamento econômico

Marcelo Weishaupt Proni

Fonte: Revista da ABET, v. 13, n. 1, jan./jun. 2014.

Resumo: O artigo tem o objetivo de apresentar as mais influentes teorias sobre as causas do desemprego até 1980, evidenciando sua vinculação com distintas conjunturas históricas. Partindo da tradição da economia política aplicada ao estudo do mercado de trabalho, apoia-se no entendimento de que as distintas teorias refletem compreensões divergentes sobre o funcionamento de uma economia capitalista. A argumentação está dividida em três passos. O primeiro prioriza as formulações sobre o desemprego nas abordagens marxista e neoclássica, e mostra que a proteção contra o desemprego involuntário gerava divergências no início do século XX. O segundo ressalta a revolução no pensamento econômico nos anos 1930 e esclarece como o pleno emprego passou a ser visto como uma construção política. O terceiro enfatiza a reação contra a escola keynesiana e critica o postulado de que certo nível de desemprego é necessário para manter a taxa de inflação sob controle e propiciar um crescimento econômico equilibrado.

Sumário: 1. Introdução | 2. O desemprego como tema da economia política | 3. O pleno emprego como construção política | 4. O desemprego de equilíbrio e reformulação do conceito de pleno emprego | 5. Considerações finais | Referências

1. Introdução

Desde o século XIX, economistas de diferentes correntes de pensamento dedicaram atenção especial ao desemprego, mas foi no século XX que o debate sobre o tema se tornou mais acirrado, tanto no âmbito acadêmico quanto no político. É possível constatar que as teorias econômicas mais conhecidas refletem diferentes pontos de vista sobre o funcionamento de uma economia de mercado em períodos de normalidade e sobre os fatores responsáveis por crises conjunturais (DATHEIN, 2005). Quando essas distintas visões da dinâmica econômica são aplicadas na explicação do funcionamento do mercado de trabalho, as divergências são ressaltadas. Por isso, um inventário das principais teorias elaboradas para explicar as causas do desemprego – e indicar como o problema deve ser tratado – deve percorrer capítulos importantes da história do pensamento econômico e, em adição, comprovar que esse terreno de debates acadêmicos é permeado por disputas políticas e ideológicas (GARRATY, 1978).

Sem dúvida, é essencial uma contextualização dos debates em torno de ideias controversas (por exemplo, sobre o papel do Estado na regulação da economia) e da formulação de novas teorias econômicas (no caso, sobre as causas do desemprego), uma vez que o contexto histórico exerce grande influência sobre as explicações das relações econômicas (HUNT, 1992). Tanto os economistas que foram capazes de criar teorias com base na observação de regularidades e tendências empíricas, quanto os que derivaram suas formulações de raciocínio lógico-abstrato, em alguma medida, pretendiam responder questões motivadas pelas configurações econômicas, sociais e políticas predominantes em sua época (HARVEY, 2015).

O objetivo do artigo é apresentar as principais teorias sobre as causas do desemprego – e a possibilidade do pleno emprego – formuladas até os anos 1970,1 mostrando sua vinculação com distintas conjunturas históricas. Buscando selecionar textos que balizaram o estudo do mercado de trabalho, a argumentação se apoia no entendimento de que as teorias do desemprego mais influentes refletem diferentes compreensões sobre o funcionamento de uma economia capitalista.

O texto está dividido em mais quatro seções. A primeira resume as formulações iniciais sobre o desemprego no âmbito da economia política, as quais tinham como referência o capitalismo concorrencial na Inglaterra, e mostra que a proteção contra o desemprego involuntário gerava divergências no início do século XX. A segunda ressalta a revolução no pensamento econômico após o colapso da ordem liberal nos anos 1930, favorecendo uma mudança na condução da política econômica, o surgimento de novas instituições para o mercado de trabalho e o compromisso político de manter o pleno emprego. A terceira prioriza a reação contra a teoria keynesiana nos EUA e a difusão do postulado de que certo nível de desemprego é necessário para evitar um aumento da inflação e propiciar um crescimento econômico equilibrado. A última seção traz as considerações finais deste artigo.

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