Mobilidade urbana e mercado de trabalho na Região Metropolitana do Rio de Janeiro

Danielle Carusi Machado
Valéria Pero
Vitor Mihessen

Fonte: Revista da ABET, v. 14, n. 2, p. 310-327, jul./dez. 2015.

Resumo: A Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) tem o maior tempo médio de deslocamento de casa ao trabalho do país, segundo dados do Censo Demográfico de 2010. Diante da questão da mobilidade urbana para a qualidade de vida da população, este artigo tem como objetivos descrever os movimentos pendulares da RMRJ, considerando os recortes por município e bairro, destacando o tempo de deslocamento nesses fluxos e os locais de origem e de destino dos trabalhadores pendulares. A partir dessa caracterização, identificamos padrões diferenciados do tempo de deslocamento entre municípios afastados do centro, com efeitos sobre taxa de participação e informalidade no mercado de trabalho. Por exemplo, municípios da periferia com alto tempo de deslocamento e baixa taxa de participação e com baixo tempo de deslocamento e alta informalidade. Com essa análise, é possível traçar alguma luz sobre a relação entre mobilidade urbana e acesso ao mercado de trabalho, contribuindo para a reflexão de políticas públicas integradas ao desenvolvimento regional.

Sumário: 1. Introdução | 2. Distribuição geográfica dos trabalhadores e tempo de deslocamento de casa ao trabalho | 3. Movimento pendular: o local de trabalho | 4. Participação no mercado de trabalho, desemprego e informalidade | 5. Considerações finais | Referências bibliográficas

1. Introdução

O processo de urbanização ocorrido nas grandes cidades brasileiras teve um impacto significativo em termos de expansão territorial e de interligação entre as localidades próximas. O papel das regiões metropolitanas ficou mais evidente, tendo em vista que cidades vizinhas passaram a ser dinamicamente mais interligadas. Dessa forma, a extensão, não somente das cidades, mas dos domínios a ela conectados, teve impacto em termos de aumento das distâncias e da crescente necessidade de formas de deslocamento mais eficazes. O sistema de transporte, nesse contexto, passou a ter um papel fundamental.

Ademais, no caso do Brasil, especificamente, a consolidação do transporte rodoviário impôs a subutilização/extinção de mecanismos de transporte coletivo de massa como trens/metrô. Essa opção, atrelada aos maiores incentivos ao transporte de cunho privado, gerou consequências em termos de desorganização do transporte público coletivo, congestionamentos, poluição (BALASSIANO, 2011; VASCONCELOS, 2001). A escolha pelo transporte individual usualmente gera prejuízos sociais, repartidos de forma desigual pela população.

Como a mobilidade é parte integrante fundamental do funcionamento e da dinâmica de uma cidade, é um elemento importante para garantir a qualidade de vida, via acesso aos bens e serviços urbanos, e ao mercado de trabalho. De acordo com Cervero, Sandoval e Landis (2002), Crane (2007), Stutzer e Frey (2008), a mobilidade urbana envolve, além de custos monetários, custos em relação a tempo e qualidade de vida. Constitui dessa forma um indicador de exclusão social, sobretudo de segregação socioespacial (ABREU, 2006; GLAESER, 1998). Além disso, como o mercado imobiliário não está acessível a todos, as pessoas de classes de renda mais baixa, com maior restrição ao crédito, acabam residindo em regiões cada vez mais distantes dos centros dinâmicos, e sofrendo mais com a desarticulação e a inadequação do sistema de transporte como um todo.

Para a maior parte da população assalariada dos grandes centros urbanos do Brasil, a viagem de casa ao trabalho (movimentação pendular) é desdobrada em várias etapas que envolvem o uso dos transportes coletivos (ônibus, metrô, trem, etc). São esses trabalhadores de classes mais baixas, por habitarem locais mais afastados do centro, que incorrem em um ônus crescente com os congestionamentos, atrasos, baldeações e desorganização dos transportes. Para eles, o tempo de deslocamento casa/trabalho é perdido, podendo ter impactos na sua qualidade de vida bem como na sua produtividade e na predisposição para busca de trabalho e para o trabalho (VAN OMMEREN e GUTIÉRREZ, 2010; WASMER e ZENOU, 2002). A partir do momento que o sistema de transporte não oferece as condições para acesso aos equipamentos de uso coletivo ou às localidades de maior dinamismo econômico (melhores ofertas de emprego), ampliam-se situações de exclusão.

O caso da Região Metropolitana do Rio de Janeiro é emblemático. Dos 16 milhões de habitantes do Estado do Rio de Janeiro, conforme dados do Censo Demográfico (IBGE, 2010), 74% (quase 12 milhões) residem na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ). Desses, 62% com idade entre 15 e 70 anos, trabalham na capital do estado. Por ser a unidade da federação mais metropolitana, o forte fluxo de pessoas entre as áreas periféricas e o centro da cidade do Rio torna a questão da mobilidade urbana crucial para se discutir o mercado de trabalho e o desenvolvimento da região.

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Danielle Carusi Machado é Professora Adjunta da Faculdade de Economia da UFF e pesquisadora do CEDE/UFF.

Valéria Pero é Professora Associada do Instituto de Economia da UFRJ.

Vitor Mihessen é Mestre pelo programa de Pós-Graduação da Faculdade de economia da UFF e coordenador da Casa Fluminense.

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