Mais um acidente fatal em mina ilegal revela péssimas condições de trabalho

O Dia Internacional do Trabalhador/a, 1º de maio, não foi comemorado em Cauca, na Colômbia. Pelo contrário, a data foi lembrada com tristeza após deslizamento de terra em uma mina ilegal que explorava ouro em El Palmar. Por volta das 22h do dia 30 de abril, terra, pedras e lodo caíram sobre 40 homens e mulheres, campesinos, indígenas e afrocolombianos, que trabalhavam à noite arriscando a vida por uma remuneração um pouco melhor. Mineradores que conseguiram sair sem maiores lesões denunciaram que os donos da escavação juntaram o maquinário e fugiram.

Três mortes foram confirmadas. Até sábado (03/05), dez corpos já haviam sido resgatados e as operações continuam em busca de outras vítimas. Acredita-se que seis pessoas ainda estejam desaparecidas.

Acidentes envolvendo a exploração de mão de obra barata em minas ilegais não são incomuns na Colômbia. Na semana passada, no Departamento de Antioquia, quatro pessoas morreram e 30 ficaram intoxicadas ao inalar gases em outra mina de ouro ilegal. O Ministério de Minas informou que, apenas este ano, já foram registrados 35 acidentes que cobraram a vida de 43 homens e mulheres. Mas o número é ainda maior se contabilizadas as vítimas da contaminação das águas e da terra pelos produtos químicos, como mercúrio e cianeto, usados na exploração mineradora. Segundo dados oficiais, a mineração ilegal é uma prática que alcança até 80% das explorações do país.

O coletivo ‘Pueblos en Camino’ denuncia que a atividade mineradora ilegal na Colômbia é fruto da ganância de empresários ligados aos esquadrões da morte, às forças armadas e a funcionários do Estado, que se aproveitam da situação vulnerável de homens e mulheres empobrecidos da região e os exploram, submetendo-os a riscos inadmissíveis, que são aceitos pela falta de oportunidades.

O Norte de Cauca é hoje uma região carente e desassistida, que chegou a situação de pobreza após a expulsão violenta de indígenas afrocolombianos para dar espaço a grandes engenhos açucareiros. O cultivo de cana de açúcar destruiu todas as culturas alimentares, gerando miséria, contaminação, fome e violência social na região. Esse panorama permitiu a abertura para a penetração e instalação do narcotráfico. Hoje, cerca de 1.500 pessoas vivem em El Palmar; para sobreviverem são obrigadas a regarem seus pequenos cultivos alimentares com água contaminada por químicos.

“No lugar de realizar uma reforma agrária que garanta o sustento da população da região e proteja o meio ambiente, o Estado defende abertamente os interesses dos engenhos e agora o das companhias mineradoras transnacionais por meio de enormes concessões. Nessas condições de insegurança, criminalidade e pobreza para benefício de poucos à custa da maioria da população desfavorecida e empobrecida, resultam desse tipo de projeto minerador, que, longe de ser artesanal, são formas de exploração realizadas por empresários que submetem trabalhadores a condições inaceitáveis de risco e abuso”, denuncia o coletivo.

Foram estas condições que permitiram a criação de nove frentes de trabalho em Santander de Quilichao, zona urbana próxima a El Palmar, onde mais de 5 mil pessoas estão organizadas para se dividirem no trabalho nas minas ilegais das regiões próximas. Todos esses homens e mulheres repudiam qualquer tentativa de fechamento das minas, já que elas são a única maneira honesta de prover sustento para suas famílias. A outra opção é se renderem ao trabalho criminoso junto aos grupos de narcotráfico.

Fonte: Adital
Data original da publicação: 05/05/2014

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