John T. Dunlop e os 50 anos do Industrial Relations Systems

Carlos Henrique Horn
Fernando Coutinho Cotanda
Walter Arno Pichler

Fonte: Dados, Rio de Janeiro, v. 52, n. 4, p. 1047-1070, 2009.

Resumo: Este artigo apresenta uma exposição sobre a obra de John Thomas Dunlop, Industrial Relations Systems, publicada em 1958, e que exerceu notável influência no estudo sobre as relações de trabalho dentro da tradição anglo-americana de industrial relations. A partir de uma nota biográfica sobre o autor e do delineamento do contexto acadêmico de surgimento da obra, o artigo revê o conceito-chave de sistema de relações de trabalho e apresenta os elementos que compõem tal sistema de acordo com o marco analítico dunlopiano. Duas breves seções completam o artigo: uma trata das razões da ausência de Dunlop do Brasil, a outra sistematiza algumas lições da obra.

Sumário: Introdução | 1. Uma nota biográfica sobre o autor | 2. O contexto acadêmico da obra | 3. Industrial Relations Systems | 3.1. Objetivo e composição da obra | 3.2. Sistema de relações de trabalho: conceito e estrutura | 4. A ausência de Dunlop do Brasil: comentário exploratório | 5. Lições do Industrial Relations Systems cinquenta anos depois | Notas | Referências bibliográficas

Introdução

A tradição anglo-americana de estudo das relações de trabalho (industrial relations) nunca chegou a marcar forte presença na academia brasileira. Há escassa produção científica nacional que utiliza a literatura dessa tradição de pesquisa como sua fonte de referência, assim como, diferentemente do que se passou nos países de língua inglesa, nunca se constituíram programas de graduação ou de pós-graduação strictu sensu específicos sobre relações de trabalho em nosso país. A investigação científica e a formação profissional correspondente aos assuntos do mundo do trabalho permanecem amarradas às disciplinas consolidadas na área – administração, direito, economia, história, sociologia, psicologia. Portanto, não chega a causar espanto que uma obra tão marcante na tradição anglo-americana, como Industrial Relations Systems (IRS), de John Thomas Dunlop, publicada em 1958, pouco tenha influenciado os estudos sobre o trabalho, e sequer tenha merecido, até onde alcança nosso conhecimento, uma tradução para o Português no Brasil.

Há um consenso, na literatura especializada, sobre a enorme influência exercida pelo IRS na tradição de estudos do industrial relations (IR), sendo o mesmo considerado como a primeira tentativa sistemática de elaboração de um arcabouço teórico no campo das relações de trabalho (Müller-Jentsch, 2004). Ainda que haja divergências sobre os resultados da empreitada do autor, ou seja, do quão bem sucedido teria sido Dunlop em sua busca de uma teoria geral das relações de trabalho, não resta dúvida quanto às consequências do IRS na determinação de uma agenda de pesquisa e na formulação científica do campo na segunda metade do século XX. Bruce Kaufman, não exatamente um autor simpático ao IRS, afirma em sua magistral história do industrial relations:

[…] the book is widely viewed as one of the most influential pieces of scholarship ever written in the field and many would say the seminal work in industrial relations theory. (Kaufman, 2004, p. 250).

Este artigo apresenta uma resenha do IRS sem, contudo, pretender exaurir as questões levantadas por sua publicação e que deram origem a uma farta literatura. Acreditamos, todavia, que o texto se justifique exatamente em vista do desconhecimento relativamente generalizado no Brasil de uma obra tão importante. Pretende-se, com isso, ajudar a diminuir uma lacuna no momento em que se completam os cinqüenta anos da sua edição original. Além desta introdução, o artigo possui cinco seções. Na primeira, apresentamos uma nota biográfica sobre o autor. Na segunda, procuramos delinear o contexto acadêmico de surgimento do Industrial Relations Systems, associando-o à chamada era dourada do IR norte-americano e, em particular, a um amplo projeto de pesquisa denominado Estudo Interuniversitário dos Problemas do Trabalho no Desenvolvimento Econômico. A seção 3 destina-se à exposição de conteúdos básicos do IRS. Nela, delimitamos os objetivos de Dunlop em sua obra e discorremos sobre o conceito e a estrutura de um sistema de relações de trabalho. Na seção 4, enfrentamos, ainda que de modo meramente exploratório, a questão das razões da ausência da obra de Dunlop dos estudos sobre relações de trabalho no Brasil. Por fim, na quinta seção, discutimos algumas lições do IRS que julgamos relevantes e que permanecem válidas para o estudo das relações de trabalho.

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Carlos Henrique Horn é Economista, Professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Fernando Coutinho Cotanda é Sociólogo, Professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Walter Arno Pichler é Sociólogo e Economista, Pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE), órgão da Administração Direta do Estado do Rio Grande do Sul.

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