Desemprego juvenil: a chave do êxito singular da Alemanha

Stefan von Borstel

Fonte: Presseurop
Tradução: Gail Mangold-Vine, com adaptações ao português do Brasil
Data original da publicação: 10/05/2013

Mais de 5,5 milhões de jovens europeus estão sem emprego. Nos países em crise do sul da Europa, uma geração está crescendo com poucas perspectivas: um em cada dois espanhóis e gregos com menos de 25 anos está desempregado, e um em cada três na Itália e em Portugal.

Para eles, a Alemanha deve parecer uma ilha de bem-aventurados: o desemprego jovem fica abaixo dos 8%. Em nenhum dos restantes membros da União Europeia é tão baixo. Apenas a Áustria se aproxima (8,9%).

“Como conseguem uma coisa dessas”, perguntam os nossos vizinhos europeus – e há mesmo quem se desloque à Alemanha para investigar o fenômeno.

O que descobrem é o nosso sistema de formação profissional dual: estudar na escola (teoria) e fazer estágios (prática), em simultâneo e não de forma consecutiva.

Para a maioria dos europeus, isso é uma novidade: estudo e trabalho, em vez de estudo e depois trabalho.

A Comissão Europeia elogiou o modelo alemão como forma de “assegurar a ausência de desemprego dos jovens e de falta de mão de obra qualificada”.

Até o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou o modelo alemão, no seu discurso de 2013 sobre o Estado da União: “Hoje, países como a Alemanha apostam na formação dos seus alunos do ensino médio com o equivalente a um grau técnico de um dos nossos institutos comunitários, como forma de os preparar para exercer uma profissão.”

As opiniões demoram a mudar

Durante muito tempo, outros países criticaram esta abordagem alemã. Para muitos especialistas estrangeiros em educação, os estudos universitários – licenciaturas, mestrados, doutorados – são a medida de todas as coisas. O meister alemão (diploma técnico-profissional) é considerado um exotismo.

A formação prática é considerada vários furos abaixo da formação acadêmica. Pôr lado a lado um diploma de formação técnica com os estudos do secundário, ou considerar a certificação de meister em pé de igualdade com o mestrado universitário, é inconcebível para muitos europeus.

Mas, lentamente, começa a correr mundo que a capacidade de inovação da indústria alemã – e o seu êxito, medido pelo sucesso dos seus produtos em todo o mundo – pode ter a ver com a sólida formação que os trabalhadores alemães recebem.

Mesmo dentro da Alemanha há críticos ao sistema. Foi defendido que se trata de uma formação demasiado especializada, demasiado adaptada às necessidades específicas de determinados setores, e que o número de especialidades (mais de 300) por que os jovens podem optar demasiado vasta.

Também foram levantadas dúvidas sobre se as qualificações do sistema conseguem acompanhar a evolução econômica, na era da Internet.

Êxito de exportação

O sistema sofreu forte pressão há cerca de uma década, quando houve uma onda de desemprego em massa na Alemanha e dezenas de milhares de jovens não conseguiam vagas para estágios. Em 2004, o governo chegou a impor cotas de estágios para as empresas.

Depois, o governo se juntou aos empresários e associações patronais para estabelecer o Pacto Nacional de Formação Profissional e Educativa, que ajudou a inverter a situação: hoje, a oferta é maior do que a procura.

A crise econômica mundial transformou o modelo alemão num êxito de exportação. A Alemanha assinou um acordo de cooperação em formação com seis países da União Europeia, e as empresas alemãs estão desempenhando um papel pioneiro na formação de funcionários nas suas filiais no exterior.

As expectativas são elevadas – mesmo para os alemães. A Alemanha não quer apenas exportar um sistema com provada excelência; espera também que os europeus dinâmicos e motivados do sul ocupem todas as vagas de estágio que não estão atualmente preenchidas – e que, quando obtiverem a desejada qualificação, não voltem para os seus países de origem, mas fiquem na Alemanha para preencher a crescente escassez de trabalhadores qualificados.

Os céticos não perdem tempo em apontar problemas como a barreira linguística, e duvidam que os imigrantes consigam desempenhar um papel determinante na recuperação da escassez de estagiários na Alemanha.

De fato, o momento pode não ser o ideal, pois o sistema alemão é fortemente dependente da economia. Não são os especialistas em educação mas o mercado quem, em última análise, determina o número de estágios disponíveis. São as empresas que decidem quantas vagas para determinadas qualificações vão necessitar no futuro; e é essa a base para se estabelecer o número de estágios que vão abrir.

Assim, a grande vantagem da abordagem de formação profissional alemã é também o seu maior inconveniente. O sistema depende da economia – e, em momentos piores, como o da crise que os países europeus estão vivendo, a procura de estagiários é menor.

Sinal de desespero

O fato de os europeus do sul procurarem uma resposta no sistema alemão revela a que ponto estão desesperados. Faltam-lhes empresas dispostas a criar vagas de estágio e “mestres” pacientes, dispostos a passar conhecimentos aos “seus” estagiários, bem como as instituições e a forte cooperação necessária entre empresários, políticos e sindicatos para implementar aquele sistema com bons resultados.

Mesmo na Alemanha, onde esta colaboração está já instalada, o sistema ainda não é isento de contratempos. Por isso, a adoção pelos europeus do sul do modelo alemão pode parecer muito ambiciosa.

Mas é melhor apontar para uma reforma estrutural corajosa do que optar pela solução mais fácil, que é dar aos jovens desempregados formação profissional sem sentido, só para os manter ocupados – e sem protestarem.

Isso merece o nosso apoio. Do mesmo modo que os jovens europeus do sul que saem dos seus países e vêm para a Alemanha em busca de emprego ou de formação profissional. Devemos recebê-los de braços abertos.

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