Desemprego e procura de trabalho: alguns desafios

Nadya Araujo Guimarães

Fonte: Revista Ciências do Trabalho, São Paulo, n. 7, p. 21-35, dez. 2016.

Sumário: Introdução | À procura de trabalho: as instituições do mercado de intermediação e a estrutura do mercado de trabalho | À procura de trabalho: o demandante de trabalho e suas diferentes estratégias | À procura de trabalho: os desafios da mensuração | À guisa de conclusão | Referencias bibliografias

Introdução

A procura de trabalho é um fenômeno que se torna tanto mais recorrente quanto mais intenso é o risco do desemprego e mais duradouro o tempo que os indivíduos se veem privados de uma (nova) ocupação. Procura e desemprego são, por assim dizer, os dois lados de uma mesma moeda. Por isso mesmo, abordar o primeiro usando as lentes da segunda nos oferece a possibilidade de lidarmos com três ângulos centrais ao entendimento dos processos sociais que têm lugar no mercado de trabalho. Senão, vejamos.

Procurar trabalho é, mais que nada, a conduta socialmente esperada do desempregado. Por isso mesmo, procura e desemprego podem ser vistos como facetas de um mesmo fenômeno. Essa dimensão normativa fundamenta o modo como o desemprego é definido e, por consequência, a maneira como tem sido estatisticamente mensurado. Com efeito (e por maiores que sejam as disputas sobre como bem medi-lo), não ter trabalho e estar em busca de obtê-lo são os dois requisitos internacional e unanimemente assumidos em todas as formas de operacionalização dessa noção. Essa compulsão normativamente regulada ancora, também, a distinção entre desemprego e inatividade. Nesse sentido, focalizar a procura de trabalho tendo em mente a sua dimensão normativa fundante é uma estratégia frutífera para o entendimento da experiência de ser/estar desempregado, que nos faculta ir mais além de abordagens que reduzem o estudo do desemprego à mensuração do movimento de suas taxas e índices.

Ademais, as formas de procurar trabalho, em sua variação, são indicadoras do modo como se institucionaliza a operação do mercado de trabalho, da sua construção institucional. Vale dizer, a procura de trabalho é, nessa segunda perspectiva, uma boa porta de entrada para tratarmos dos atores e das instituições encarregados de fazer o encontro (o célebre matching) entre oferta e demanda de trabalho.

Mas, os modos de procurar trabalho são também reveladores das formas de sociabilidade. Nesse terceiro sentido, tratar da procura é uma outra forma de falar da construção da vida social, da mobilização das relações sociais, da eficácia dos laços sociais; enfim, dos mecanismos não-mercantis presentes na operação do mercado de trabalho. Mais ainda, é entender como o maior ou menor vigor dessas formas de sociabilidade expressa os modos particulares de articulação entre o público e o privado. Assim fazendo, nos deixa entrever os desafios que crescentemente se colocam para as políticas de proteção ao trabalho.

Explorar a confluência entre essas três dimensões será o alvo deste texto.

Clique aqui para continuar a leitura deste artigo no site da Revista Ciências do Trabalho

Nadya Araujo Guimarães é Professora Titular do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo. Pesquisadora I-A do CNPq associada ao Centro de Estudos da Metrópole, no CEBRAP. Membro do Conselho Técnico Científico da Escola DIEESE de Ciências do Trabalho.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *