Da recessão para a depressão econômica

Marcio Pochmann. Fotografia: Maurício Moraes/SEEB-SP

O desastre da economia brasileira que já vinha sendo registrado desde o ano de 2015 e que sua continuidade se tornou responsável pela perda econômica da década de 2010, tende a prosseguir neste início do terceiro decênio do século 21.

Marcio Pochmann

Fonte: Terapia Política
Data original da publicação: 21/06/2020

No mundo, a pandemia da Covid-19 contaminou negativamente a produção e o emprego da força de trabalho, provocando a recessão, com importante queda do nível geral das atividades econômicas.

No Brasil, contudo, os sinais observados até o momento apontam para a depressão econômica, com a profunda redução não apenas no nível de atividade (recessão), mas no desinvestimento expresso por significativo fluxo de falências de empreendimentos, seguido pela deflação nos preços ao consumo.

Ao se tomar como referência o mês de abril deste ano, o primeiro a acusar efetiva e plenamente os impactos da pandemia decorrente das medidas de isolamento social, pode-se constatar o retrocesso no conjunto das atividades econômicas urbanas do país. Setorialmente, a produção industrial decresceu 18,8%, seguida de queda de 17,2% no volume dos serviços e de 16,8% no comércio (vendas no varejo).

Do ponto de vista das unidades subnacionais, percebe-se que o comportamento de queda nas atividades econômicas não foi homogêneo. Na produção industrial, por exemplo, o estado do Amazonas foi o que registrou maior queda mensal (-46,5%), ao passo que o seu vizinho, o Pará, teve ser crescimento de 4,9%.

No caso das vendas no varejo, o estado do Ceará acusou o maior decrescimento (-33,8%), enquanto Santa Catarina registrou a menor queda (-7,4%). Por fim, o comportamento no setor de serviços que apresentou no estado da Bahia (-29,9%) a maior redução mensal e a menor constatada no estado do Pará (-9,7%).

Em síntese, o desastre da economia brasileira que já vinha sendo registrado desde o ano de 2015 e que sua continuidade se tornou responsável pela perda econômica da década de 2010, tende a prosseguir neste início do terceiro decênio do século 21.

Se não for alterada significativamente a condução da economia nacional, atualmente uma nau sem rumo, o Brasil acumulará mais uma década perdida, a terceira nos últimos 50 anos. É inegável a decadência capitalista ineditamente desvelada sob o domínio do improdutivo rentismo e do primarismo agroexportador.

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.

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