Centrais convocam manifestações e marcha para “organizar” pauta que vem das ruas

As centrais sindicais decidiram realizar no próximo dia 11 uma série de manifestações pelo País, tentando unificar reivindicações e na sequência dos atos de protesto realizados nas últimas semanas. Reunidos hoje (25), em São Paulo, os sindicalistas avaliaram que a pauta “das ruas” é basicamente a mesma do movimento sindical, mas precisa ser “organizada” para que dê resultados. Os dirigentes programam também uma nova marcha a ser realizada em Brasília, a exemplo do que foi feito em 6 de março, quando foram recebidos por Dilma – mas sem que as propostas fossem encaminhadas pelo governo, avaliam.

Para acomodar todos os grupos na pauta, foram evitados temas que não têm consenso entre as entidades, como a inflação. A pauta do dia 11 inclui temas já conhecidos, como fim do fator previdenciário, redução da jornada para 40 horas semanais, reajuste para as aposentadorias, reforma agrária e contra o Projeto de Lei 4.330, sobre terceirização. A essa pauta “clássica”, já discutida pelas centrais desde 2010, foram incluídos temas como melhoria do transporte público, assunto recorrente das manifestações, e também contra os leilões de petróleo. Foi acrescido um item em defesa das “liberdades democráticas”, justificado pela análise de que os movimentos, sem comando, correm o risco de ser controlados por setores conservadores.

“Ao mesmo tempo em que louvamos a participação da juventude, se percebe que parte da pauta é desconectada. O sentimento de descontentamento tem de resultar numa pauta organizativa”, diz o presidente da CUT, Vagner Freitas. “Nosso debate agora não é burocrático. As pessoas querem ser ouvidas, a democracia tem de ser participativa”, acrescenta, justificando o cuidado com o encaminhamento da pauta daqui em diante: olhar progressista ou mais conservador? “O importante é que as pessoas tomem gosto por ir às ruas. Cabe a nós organizar a pauta para que ela tenha um viés progressista.”

O presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), não concorda com quem diz que as centrais foram “atropeladas” com as manifestações das últimas semanas. Cita a assembleia conjunta de 2010 no estádio do Pacaembu, em São Paulo, a marcha do último 6 de março e as atividades do Dia do Trabalho. Mas também vê a necessidade de se posicionar para que os protestos não caiam no vazio. “Se a gente não tomar cuidado com essa desorganização, não leva a nada.”

Ou leva a caminhos perigosos, analisa o presidente do PSTU, José Maria da Silva, líder da CSP-Conlutas. “É um movimento que não tem direção e a direita tende a se aproveitar. A classe trabalhadora deve assumir a cabeça desse movimento”, defende, citando o fato inusitado de uma greve geral ter sido convocada pelas redes sociais. “Facebook não convoca greve geral. O trabalhador se reúne e decide.”

Mas o ineditismo do uso da internet como convocador de atos chama a atenção dos dirigentes, acostumados a outras modalidades de mobilização. Alguns chegaram a relatar experiências pessoais, com seus filhos, para dar ideia da nova experiência.

“Toda a estrutura formal do Brasil foi abalada”, afirma o presidente da UGT, anfitriã do encontro de hoje, Ricardo Patah. “O Movimento Passe Livre já fez manifestações no governo passado, mas não teve essa capacidade de encantar a sociedade”, comenta. Para ele, a realização da Copa das Confederações no mesmo período, com a presença da imprensa internacional, ajudou a potencializar o movimento.

A exemplo dos dirigentes de outras centrais, Patah ressalta que todas as “bandeiras” das manifestações são as mesmas do movimento sindical. “Nunca deixamos de pleitear concomitantemente recursos para educação, saúde e questões sociais”, diz. “Nós estamos na rua há muito tempo, só que as nossas manifestações não têm a mesma cobertura”, acrescenta Paulinho.

“Se o governo tivesse levado a sério a plataforma dos trabalhadores (apresentada em 2010), provavelmente a história do Brasil seria outra”, afirma o secretário-geral da CTB, Pascoal Carneiro. Ele também chama a atenção para os interesses envolvidos na sequência das manifestações. “Tem canal (de televisão) querendo conduzir o povo de helicóptero.”

Logo no início, a reunião das centrais exibiu divergências entre as duas maiores. O presidente da Força disse, por exemplo, que “o grande problema” neste momento é a inflação, “que está descontrolado, principalmente para os mais pobres”. Também considerou a proposta de plebiscito, feita pela presidente Dilma Rousseff, de tentativa “de dividir a culpa” com todos os setores. “Se quiser fazer reforma política, manda para o Congresso. Plebiscito é bonito, mas é jogar para a plateia.” Mais tarde, falando com a imprensa, Paulinho chamou a proposta de “ovni (objeto voador não identificado)”.

Na intervenção seguinte, o presidente da CUT disse que o importante era “auxiliar nas propostas de quem estava na rua”, sem “disputar agendinha ou pautinha”. E acrescentou: “Nas ruas não apareceu a inflação. O discurso do descontrole inflacionário é rentista, interessa aos grandes bancos”. Freitas também considerou importante a proposta de plebiscito, por  fazer com que a sociedade seja ouvida. “A possibilidade de reforma política com esse Congresso é quase zero.” Para o dirigente, o que está se discutindo agora “é que o Estado não cumpre o seu papel”.

Fonte: Rede Brasil Atual, com alterações
Texto: Vitor Nuzzi
Data original da publicação: 25/06/2013

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