Bolsonaro imita Temer e infla números de emprego de sua Reforma Trabalhista

Informação obtida via Lei de Acesso à Informação mostra que, diferente do afirmado pelo programa “Emprego Verde e Amarelo”, de 1,8 milhão de novas vagas anunciadas, apenas 271 mil devem ser geradas pelo programa.

Leonardo Sakamoto

Fonte: UOL
Data original da publicação: 11/12/2019

Para empurrar a Reforma Trabalhista goela abaixo, o governo Michel Temer e aliados repetiram à exaustão que, uma vez aprovada pelo Congresso Nacional, em pouco tempo ela geraria milhões de empregos com carteira assinada, leite e mel correriam pelo meio fio nas grandes cidades e unicórnios vomitariam arco-íris sobre o caminho dos desempregados. O que, claro, não se concretizou.

Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, lançaram seu programa “Emprego Verde e Amarelo”, no dia 11 de novembro, com a promessa de criar 1,8 milhão de postos de trabalho. O pacote traz bizarrices, como a taxação em 7,5% das parcelas do seguro-desemprego para bancar a desoneração patronal da folha de pagamentos. Mais importante, contudo, é o fato de ser um Cavalo de Troia para uma nova etapa da Reforma Trabalhista via (pasmem) Medida Provisória.

Na terça (10), uma bela reportagem de Ricardo Marchesan, do UOL, mostrou que uma nota técnica do próprio Ministério da Economia afirma que, na verdade, o programa deve gerar 271 mil vagas. O restante são vagas que já seriam abertas se a iniciativa não existisse. A informação foi obtida via Lei de Acesso à Informação.

A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.

Crucificado, diariamente, o sábio de barba – neste caso, Karl Marx, não Jesus de Nazaré – continua mostrando sua atualidade.

Como vivemos uma era sem pudor, este governo nem ruborizou ao usar a mesma justificativa do anterior para mentir à população. Já que funcionou da primeira vez, vai que cola, né?

Assim que o “Verde e Amarelo” veio à luz, publiquei uma análise   com o título “Programa de emprego de Bolsonaro é ótimo – como estratégia de marketing”. Nela, escrevi que ele estimularia empregos entre a faixa etária que já estava gerando a maior quantidade de postos formais de trabalho – 18 a 29 anos.

“Isso é esperto como estratégia de marketing, uma vez que pega carona em uma tendência que já existia independentemente de sua política. Ou seja, joga com o que já estava funcionando sem as políticas voltadas exclusivamente ao emprego. Com isso, nas eleições de 2022, poderão dizer que cumpriram o que prometeram sem muito esforço”, escrevi.

Não é necessário dizer que fui atacado por hordas de apoiadores da Presidência da República. Agora, um documento do próprio governo mostra que parte de sua equipe considera que a ideia não é boa para a sociedade, por abrir mão de um grande naco de arrecadação e devolver muito pouco em ganhos sociais.

Isso me lembra outra declaração do sábio de barba, agora Jesus de Nazaré, não Karl Marx, que é passagem preferida do presidente:

“Conhecereis a verdade e ela vos libertará” (João 8:32). Essa é uma ótima oportunidade para deixar a verdade libertar o governo de propostas que tiram dos pobres para dar aos pobres.

Moral da história? Bolsonaro, Guedes e eu temos empregos. Outros 12,4 milhões, não.

O governo Bolsonaro segue sem um programa decente para geração de postos formais de trabalho. O tempo está passando. Chegará a hora que seus auxiliares terão que mostrar serviço nessa seara. Ou dar lugar a quem saiba.

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e o desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.

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