A saída da Ford tem um nome: Relocalização na direção da matriz

O que estou dizendo com tudo isso é que a Ford é a primeira montadora a sair do Brasil, talvez as últimas sejam as coreanas.

Rogério Maestri

Fonte: GGN
Data original da publicação: 12/01/2021

A saída da Ford do Brasil é simplesmente uma antecipação de um projeto dos países centrais do imperialismo que já tem um nome próprio, a relocalização das unidades fabris.

Vamos entender melhor, nos países do primeiro mundo o custo de seus desempregados atinge valores extremamente altos para que eles não sejam empregados com salários mais altos e com empresas robotizadas financiadas pelos próprios países.

Vamos explicar melhor. Um desempregado num país de primeiro mundo custa em assistência social e, pior, em risco de perda de estabilidade de sua política muito grande, ou seja, até um percentual abaixo de 10% de taxa de desemprego é possível com programas sociais e custos de repressão das populações fora do mercado de trabalho é possível manter a situação, porém quando essa taxa de desemprego sobe os custos dos programas sociais sobem proporcionalmente e os custos de repressão (polícia, judiciário encarceramento) sobe numa curva com tendência quase que exponencial.

Para combater os efeitos da pandemia os países do primeiro mundo estão lançando programas imensos da ordem dos trilhões de dólares para um programa de incentivo das indústrias, ou seja, o custo para a criação de novos empregos será absorvido pelo contribuinte. Porém para criar empregos num mundo em que as condições de produção já estão devidamente resolvidas a solução é simplesmente fechar fábricas mais antigas e com menor robotização nos países do terceiro mundo.

O custo de mão de obra baixo que forneciam os países do terceiro mundo são cobertos pela maior produtividade dos operários da matriz e com construções de novas unidades totalmente robotizadas. Não é porque um operário brasileiro ganhe 1/4 ou mesmo 1/5 para executar a mesma tarefa numa fábrica norte-americana que compensa super explorar um brasileiro, primeiro que unidades fabris mais modernas que necessitam muito menos operários, que uma fábrica mais vetustas, principalmente se o capital fixo (máquinas, robôs, aluguéis,…) for financiado a custo zero pelos contribuintes dos países desenvolvidos, além disso uma criação de empregos, mesmo em pequena escala dará uma sensação de segurança dos milhões de desempregados no primeiro mundo.

Outro fator que deve ser levado em conta no caso dos automóveis é o custo em eletrônica e sensores instalados, que não são produzidos nos países do terceiro mundo, devido a isso grande parte do custo dos atuais automóveis está sendo gasto em vários sistemas modernos controle e automação nos automóveis. Não podemos esquecer que já há automóveis que estacionam sozinhos e a quantidade de sensores, CLP e mesmo computadores de bordo é imensa e apesar de custar relativamente pouco é vendido por altos valores que produzem um ganho na margem de lucro para os que começarem primeiro com essas tecnologias.

O que estou dizendo com tudo isso é que a Ford é a primeira montadora a sair do Brasil, talvez as últimas sejam as coreanas, pois a situação do desemprego naquele país é ainda baixa, porém as europeias e as norte-americanas serão as primeiras a sair.

O que vamos pagar caro por NUNCA (nem nos governos do PT) termos uma política industrial feita por quem conhece o assunto vai ser imensa, pois a implantação da fábrica de Camaçari custou alguns bilhões de reais de financiamento público e isenções de impostos a partir de 2001 quando ela foi inaugurada, ou seja, um empreendimento relativamente novo, mas como sempre uma mera montadora de peças que vinham do exterior e sem muito valor agregado.

Um dos motivos alegados pela Ford para o fechamento de suas linhas de montagem no Brasil foi o custo de importação de peças produzidas fora do país, ou seja, o grau de nacionalização da produção, coisa que os neoliberais consideram supérfluo era baixo ao nível de aumentar o custo de produção.

Aguardemos, pois virão outras.

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