A greve nas estaduais paulistas

Fernando Mendonça Heck
Franciele Aparecida Valadão
Jane Rosa da Silva
Washington Paulo Gomes

FontePegada, Presidente Prudente, v. 15, n. 1, p. 3-15, jul. 2014.

ResumoO objetivo deste texto é abordar, na forma de relato, a greve nas universidades estaduais paulistas deflagrada em maio de 2014. Expor as pautas gerais e os caminhos pelos quais o movimento grevista trilhou ao longo dos 117 dias, a partir da nossa participação junto ao Comando de Greve, da Faculdade de Ciências e Tecnologia/Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, e assim contribuir para a publicização e fortalecer o diálogo com os interessados no tema.

SumárioIntrodução | “Crise” nas universidades estaduais paulistas? | A greve na FCT/Unesp | Para além das pautas econômicas! | Considerações finais | Referências

Introdução

“Eu via a luta eu tava lá
eu vi a luta eu tava lá.”
(Ariano Suassuna)

As lutas dos trabalhadores se desenrolam por dentro da estrutura material da sociedade: o espaço geográfico (MOREIRA, 2013). Isso significa que o espaço é ordenador do antagonismo de classes e se expressa numa relação de confronto entre espaço/contra-espaço. Ou seja, o espaço hegemônico versus sua negação afirmadora que se realiza no conflito de classes afirmando o rompimento com a estrutura espacial existente e propugnando uma nova.

Nesse sentido, o espaço da regulação hegemônica jamais se configura em dominação consensual, pois as lutas de contra-espaço são presentes e demonstram que há mulheres e homens dispostos a lutar pela mudança do ordenamento territorial resultante do metabolismo do capital (THOMAZ JUNIOR, 2009).

Esse pode ser um entendimento fundamental para compreendermos a greve nas universidades estaduais paulistas, que teve início em maio de 2014 e término no final de setembro. A princípio, as reitorias não apresentaram proposta de negociação e afirmaram o escorchante percentual de reposição das perdas, igual a 0,0% para os docentes e servidores, sob a justificativa nebulosa de comprometimento orçamentário, anunciando uma crise sem precedentes nas universidades, contudo, sem apresentar contrapartidas de medidas austeras quanto à gestão do custeio. Aliás, a mídia comprometida com a ordem, logo se apropriou do discurso das reitorias, propondo como solução o pagamento de mensalidades. Até mesmo sentenciou que 60% dos alunos poderiam pagar para estudar na Universidade de São Paulo, que em crise orçamentária, aumentaria sua arrecadação a partir da cobrança mensal (FRAGA e TAKAHASHI, 2014).

Ao passo que propugna a “solução” da privatização da universidade, a mesma mídia não teceu qualquer comentário sobre a natureza da crise orçamentária e financeira. Assumiu o discurso da Reitoria da USP e propugnou a privatização como saída. O que significa a intensificação da privatização da universidade pública uma afronta evidente à existência do ensino público, gratuito e de qualidade, afirmando aquilo que o grande capital espera das universidades, ou seja, a sua despolitização e eficiência operacional.

Contra esse modelo de universidade operacional é que a greve fez valer sua principal energia, como uma luta de contra-espaço. Por discordar do posicionamento das reitorias e da grande mídia, professores, funcionários e estudantes decidiram deflagrar greve que não se fundamentou por salários, mas pela defesa do ensino público, gratuito e de qualidade e por uma universidade com gestão democrática e não-operacional.

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Fernando Mendonça Heck é estudante de doutorado em Geografia/FCT/UNESP; editor da Revista Pegada; membro do CEGeT/CETAS; do Comando de Greve da FCT/UNESP; Monitor do Cursinho Popular Rosa Luxemburgo; Bolsista CNPq.

Franciele Aparecida Valadão é estudante de Graduação em Geografia; membro do NERA; do Comando de Greve da FCT/UNESP; Monitora do Cursinho Popular Rosa Luxemburgo.

Jane Rosa da Silva é estudante de Graduação em Geografia; membro do Comando de Greve da FCT/UNESP; Monitora do Cursinho Popular Rosa Luxemburgo.

Washington Paulo Gomes é estudante de Graduação em Geografia; membro do Comando de Greve da FCT/UNESP; membro do GAIA; Monitor do Cursinho Popular Rosa Luxemburgo; Bolsista de IC/CNPq.

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