A educação de adultos e o mundo do trabalho

Leona English
Peter Mayo

Fonte: Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v. 22, n. 1, p. 15-35, jan./abr. 2013.
Tradução: Natália Valadares Lima

Resumo: Neste artigo são discutidas as diferentes abordagens sobre a educação de adultos. Partindo do princípio de que a educação de adultos não está voltada somente para a formação para o mercado de trabalho, consideramos que ela constitui um local de aprendizagem sobre, para, durante e após o trabalho. Este trabalho aponta para a ênfase dada à noção de empregabilidade e de vocacionalização da educação, contrastando com as iniciativas formativas que têm como foco a emancipação dos trabalhadores. Para tal, trazemos à tona a experiência do Movimento dos Conselhos de Fábrica de Torino, que constitui um dos exemplos mais radicais sobre a tentativa de organizar e educar para uma democracia industrial que alterasse as relações sociais de produção. Tratamos também sobre movimentos de educação cooperativa realizados em Mondragón, na Espanha, Rochdale, na Inglaterra, Antigonish, no Canadá, e Porto, em Portugal, além das experiências de educação para autogestão da Iugoslávia e Malta.

Sumário: A educação de adultos a serviço da economia | Empregabilidade | Empregabilidade, educação e a terceira idade | Mulher e trabalho | A teoria do capital humano | Desenvolvimento de recursos humanos | Neoliberalismo e globalização hegemônica | Privatização e educação de adultos | Desenvolvimento profissional continuado e as profissões: o demiurgo gerencial | Educação dos trabalhadores | A educação sindical | Contexto mais amplo: envolvendo o sistema | A virada radical | Democracia industrial | Cooperativas: Rochdale, Mondragón, Antigonish e Porto | Autogestão: Iugoslávia e Malta | Conclusão | Referências

É praticamente impossível falar sobre educação de adultos e não se referir ao mundo do trabalho. Para alguns, educação de adultos é sinônimo de aprendizagem para o trabalho, no entanto, neste trabalho, assumimos a posição de que a educação de adultos possui um escopo e uma missão muito mais abrangentes. Aqueles que assumem uma postura crítica consideram a educação de adultos como local de aprendizagem ampla sobre, para, durante e após o trabalho. Contudo, é verdade que a perspectiva “aprender a ganhar” (não aprender a aprender) ganhou ênfase ao longo dos anos, e se tornou hegemônica. Esse fato é ainda mais perceptível nos tempos atuais, em que um dos mantras é de que vivemos na sociedade do conhecimento, caracterizada por uma “economia do conhecimento”. Nossa sociedade está tão impregnada com a linguagem e as ideias capitalistas que é difícil não limitar a discussão ao aumento da riqueza, quando pensamos sobre diversos aspectos da vida. Na realidade, aqui é posta a distinção fundamental entre treinamento e educação, com o treinamento focado em aprender para ganhar e na aquisição de novas habilidades ligadas ao mercado de trabalho; e a educação, apresentando um objetivo mais amplo, voltado para o aprendizado ao longo da e para a vida. Essas duas orientações, que algumas vezes se sobrepõem, são vistas com maior clareza na linguagem adotada nos campos que tratam sobre o desenvolvimento de recursos humanos (treinamento) e sobre a educação de adultos (educação ao longo da vida).

A educação de adultos a serviço da economia

Aqueles que concordam com o ponto de vista capitalista, tendem a “vocacionalizar” o discurso relativo à educação de adultos e a falar de alinhar estrategicamente ensino superior, formação e competências. Um dos casos em pauta é a declarada ambição da União Europeia (UE) de se tornar a “economia do conhecimento” mais dinâmica do mundo. O prazo instituído inicialmente, 2010, já foi ultrapassado, mas a crença neste objetivo não parece ter diminuído. O “Memorando sobre Aprendizagem ao longo da vida”, formulado pela UE, é fortemente caracterizado por esse tipo de discurso (BAUMAN, 2005; BORG; MAYO, 2006). O fato de, no que concerne à UE, o ímpeto por adotar o conceito de aprendizagem ao longo da vida não ter partido de educadores, mas da “Mesa Redonda dos Industriais Europeus”, sugere qual é o curso principal a ser seguido na aprendizagem ao longo da vida. Além disso, mesmo quando a noção de cidadania democrática ativa se faz presente, nos voltamos para documentos que defendem que as habilidades requeridas para interação social e exercício da cidadania devam ser exatamente iguais àquelas requeridas para inserção nessa “economia do conhecimento”. A divisão entre social e econômico começa a se entrelaçar. Isso é atrelado ao fato de que o que é muitas vezes a incapacidade do sistema capitalista de gerar postos de trabalhos permanentes estar sendo retratado como inabilidade dos indivíduos de desenvolverem as habilidades requeridas por uma economia caracterizada por rápidas mudanças. É defendido que esse modelo econômico se propaga por meio do rápido avanço tecnológico, em que trabalhadores devem ser qualificados em todas as áreas e capazes de se adaptarem constantemente a novas condições econômicas. Há uma mudança para o nível individual, na medida em que governo e empresários culpabilizam os indivíduos, ao invés de atuarem coletivamente para resolver o atual problema do emprego. Da mesma forma, na área da saúde, a responsabilização do indivíduo pela saúde foi uma forma de transferir a responsabilidade do governo nacional para os sujeitos, cujas doenças poderiam ser relacionadas inequivocadamente à falta de exercício físico e à alimentação desregrada.

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Leona English tem doutorado em Educação pela Universidade de Columbia (EUA) e em Filosofia pela University of Technology (AUS). Professora do Departamento de Educação de Adultos da Universidade St. Francis Xavier, Canadá.

Peter Mayo tem doutorado em Sociologia da Educação pela Universidade de Toronto (CA). Professor do Departamento de Estudos Educacionais da Universidade de Malta, Malta.

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