29 de junho de 1928: trabalhadores ferroviários da South Indian Railway Company iniciam greve, que causou colapso de transportes no sul da Índia

Há 95 anos, trabalhadores ferroviários da South Indian Railway Company iniciavam greve, causando o colapso de transportes no sul da Índia.

Trem em Bombaim, Índia, década de 1920. Fotografia: News18/Divulgação

Igor Natusch

A história de disputas trabalhistas na Índia é longa, complexa e marcada, na maior parte das vezes, por tensão. Diante da exploração por parte dos empregadores, e contando com o desprezo e truculência do imperialismo britânico, os trabalhadores indianos muitas vezes recorreram à revolta para tentar alcançar condições menos degradantes de trabalho e de vida.

Uma dessas instâncias teve início no dia 29 de junho de 1928, quando o sindicato dos trabalhadores ligados à South Indian Railway Company resolveu cruzar os braços, em um movimento que afetou seriamente o transporte de pessoas e mercadorias em toda a metade sul do território indiano.

A tensão no setor ferroviário da Índia vinha pelo menos desde o ano anterior, quando as empresas do setor decidiram por uma redução conjunta em suas equipes, como forma de reduzir custos. Diante da perspectiva de demissões em massa, uma série de movimentos grevistas começou a ocorrer em diferentes pontos do país. Em paralelo, trabalhadores da South Indian vinham descontentes com a baixa remuneração pelas longas horas de trabalho, além dos inúmeros atos de discriminação contra nativos indianos dentro da empresa.

A tensão dentro da companhia chegou ao auge com o anúncio, no começo de junho de 1928, de que mais de 3 mil trabalhadores seriam dispensados. A alegação da South Indian era de que as demissões eram necessárias para equilibrar custos depois de pesados investimentos em maquinário, além de atender exigências governamentais em termos de equilíbrio fiscal. Representantes dos operários, porém, acusaram a empresa de direcionar a escolha dos afastados de forma arbitrária, vitimizando trabalhadores ligados à atividade sindical. Uma lista de demandas do sindicato, entregue no dia 16 daquele mês, não recebeu resposta efetiva por parte dos patrões, o que acabou disparando a greve.

No dia 29 de junho, trabalhadores das plantas de Negapatam, Trichinopoly e Podanur cruzaram os braços, exigindo aumento salarial de 25% e a suspensão das demissões. A South Indian respondeu com um locaute, impedindo que os trabalhadores acessassem os locais de trabalho e, assim, dificultando o andamento de negociações. Parte das lideranças sindicais da Índia (como o Madras, primeiro sindicato de amplo alcance do país) se posicionou contrária à greve, o que dificultou ainda mais a ação organizada dos trabalhadores. Ainda assim, a paralisação chegou ao auge entre os dias 6 e 9 de julho de 1928, com mais de 5 mil grevistas forçando a completa suspensão do comércio nas cidades de Trichinopoly e Podanur, respectivamente. 

A partir do dia 20 de julho, a greve tornou-se mais violenta, na medida em que a negociação entre trabalhadores e patrões seguia em um impasse. Em Trichinopoly , a colisão de uma locomotiva com um ônibus causou um número indeterminado de vítimas – incluindo o condutor do trem, que foi linchado por revoltosos. A partir do acirramento dos ânimos, a violenta repressão do governo causou pelo menos doze mortes, e a prisão dos principais líderes acabou enfraquecendo a capacidade de manutenção do movimento. 

Ainda assim, paralisações continuaram ocorrendo vários dias depois do fim oficial da greve, no dia 27 de julho. Os últimos núcleos grevistas se desfizeram no começo de agosto daquele ano, quando o sindicato dos trabalhadores da South Indian foi declarado ilegal pelo governo indiano. Apesar de toda a mobilização, a greve acabou não trazendo efeitos positivos aos trabalhadores nesta oportunidade: os dias parados não foram pagos, a política de demissões foi mantida, e mais de cem participantes foram condenados a penas de até seis meses de prisão.

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