21 de julho de 1980: é assassinado o sindicalista Wilson Pinheiro, uma das principais lideranças sindicais dos trabalhadores da floresta nos anos 1970 e 1980

Há 43 anos, era assassinado o sindicalista Wilson Pinheiro, uma das principais lideranças sindicais dos trabalhadores da floresta nos anos 1970 e 1980

Fotografia: Reprodução/O Alto Acre

Igor Natusch

No que se refere à preservação da memória de suas lideranças sindicais, o Brasil ainda tem bastante a melhorar. Nomes importantes, como o seringueiro e sindicalista Wilson de Souza Pinheiro (assassinado aos 47 anos, no dia 21 de julho de 1980), acabaram muitas vezes relegados aos cantos de páginas da história – pelo menos até recentemente, quando esforços mais sistemáticos têm sido feitos para dar nome, sobrenome e trajetória a quem lutou por trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.

Ainda hoje, poucos detalhes da vida pessoal de Wilson Pinheiro são conhecidos com segurança. Nasceu em 1933, na cidade de Caieiro (AM), mas passou a maior parte da vida em Brasiléia, no Acre. Com o passar dos anos, foi se tornando conhecido como uma importante liderança local, tornando-se presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia e integrante da Comissão Municipal do Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo pessoas que com ele conviveram, o sindicalista defendia o direito dos povos da floresta, dentro de uma convivência pacífica e não-predatória com a natureza, e atuava incansavelmente para impedir as derrubadas promovidas por latifundiários.

Em 1979, Pinheiro foi o principal líder do Mutirão contra a Jagunçada, movimento contra os capangas armados que ameaçavam posseiros na região amazônica. Chegando a reunir centenas de trabalhadores, o Mutirão conseguiu tomar mais de 20 rifles automáticos das mãos dos jagunços, entregando-os na sede do Exército, em Rio Branco (AC). Chamados de “empates”, os conflitos com os latifundiários renderam seguidas ameaças de morte ao sindicalista – que acabaram sendo tragicamente concretizadas em 1980, quando Pinheiro foi morto pelas costas, na sede do Sindicato pelo qual lutou e que havia se tornado um refúgio em tempos difíceis.

“No dicionário de meu pai não existia a palavra covardia. O pistoleiro que assassinou meu pai, sim, era covarde porque atirou pelas costas. Com certeza que se ele tivesse chegado frente à frente meu pai não teria corrido. Ele teria morrido do mesmo jeito, mas não teria corrido”, afirmou Hiamar de Paiva Pinheiro, um dos oito filhos do sindicalista, em entrevista concedida a pesquisadores em 2000.

Na semana seguinte ao crime, um ato público aconteceu em Brasiléia, exigindo justiça pela morte de Wilson Pinheiro. Então presidente nacional do PT e futuro Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva compareceu ao protesto e declarou, durante seu discurso, que estava “chegando a hora da onça beber água”. No dia seguinte ao ato, um grupo de trabalhadores assassinou o capataz Nilo Sérgio de Oliveira, o Nilão, considerado por eles como responsável direto pela morte do sindicalista uma semana antes. A Federação da Agricultura do Estado do Acre denunciou Lula como incitador da morte de Nilão, dentro da Lei de Segurança Nacional então vigente. O petista foi absolvido, assim como os seringueiros acusados do crime contra Nilão, e os mandantes da morte de Wilson Pinheiro nunca foram denunciados às autoridades.

Os crimes na Amazônia, infelizmente, seguiram ocorrendo: em 1988, o sindicalista Chico Mendes, amigo pessoal e discípulo de Pinheiro, foi assassinado em circunstâncias tristemente semelhantes. Em 1981, o PT criou a Fundação Wilson Pinheiro, voltada a atividades de pesquisa e formação política – posteriormente extinta, a entidade se desdobraria na atual Fundação Perseu Abramo (FPA). Em 2010, o Centro Sérgio Buarque de Holanda da FPA publicou um dossiê, no qual resgata uma série de documentos relativos à vida de Wilson Pinheiro. O sindicalista também dá nome a uma ponte binacional, que liga Brasiléia à cidade de Cobija, na Bolívia e foi inaugurada em 2006.

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