19 de agosto de 1962: é criado o CGT, organização sindical de grande influência política nos anos pré-golpe de 1964

Há 59 anos, era criado o CGT, organização sindical de grande influência política nos anos pré-golpe de 1964.

Manifestação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). Rio de Janeiro, 1962. Fotografia: AEL – Fundo Voz da Unidade/PCB

Igor Natusch

Fundado em 19 de agosto de 1962, como um dos encaminhamentos do IV Congresso Sindical Nacional dos Trabalhadores, em São Paulo, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) foi uma entidade intersindical de enorme importância nas tensões políticas da primeira metade dos anos 1960. De fato, coube ao CGT promover as primeiras greves de caráter declaradamente político da história brasileira, além de inserir as discussões sobre as reformas de base no coração da esfera pública nacional – algo que não chegou a concretizar-se, interrompido de forma rude pelas movimentações do golpe de 1964.

O CGT é fruto de movimentações bem anteriores à sua fundação, e surge num cenário de incertezas e divergências. Durante o III Congresso Sindical Nacional, ocorrido em agosto de 1960, verificou-se uma ruptura entre as correntes trabalhistas e comunistas, que propunham a formação de uma central sindical, e os chamados “ministerialistas”, alinhados aos esforços de organização sindical promovidos pelo então Ministério do Trabalho. Em protesto, algumas confederações se retiraram do congresso, denunciando uma suposta manobra do Partido Comunista Brasileiro (PCB) para sequestrar o movimento sindical. Mesmo assim, o encontro seguiu até o final, e foi eleita uma comissão executiva nacional, que coordenaria os esforços das entidades em pautas mais amplas. 

Desta forma, o setor influenciado pelo PCB e pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) passou a ganhar maior influência nos acontecimentos políticos de então, relegando os “ministerialistas” a segundo plano. Isso consolidou-se a partir da luta para garantir que João Goulart assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros, no que ficou conhecido como movimento da Legalidade. Inicialmente, encontrou-se uma solução institucional na instalação de um regime parlamentarista – mas o primeiro-ministro inicialmente escolhido, Tancredo Neves, renunciaria em seguida, gerando grande disputa política em torno de seu substituto. Nesse confuso quadro político, efetivou-se o Comando Geral de Greve (CGG), que pressionava o novo governo para encaminhar as chamadas reformas de base. 

A força do CGG cristalizou-se a partir do 4º Congresso Nacional, em agosto de 1962, que contou com 3.500 delegados, representantes de 586 sindicatos, federações e associações de trabalhadores. Ao final do encontro, o comando de greves virou o Comando Geral dos Trabalhadores, com o objetivo de lutar pela volta do regime presidencialista, desde que Goulart atendesse reivindicações como a revogação da Lei de Segurança Nacional, o aumento do salário mínimo, a promulgação do direito de greve e as reformas agrária e bancária, entre outros pontos. Já em setembro, o CGT promoveu uma greve geral, exigindo um plebiscito para dar fim ao regime parlamentarista.

Os conflitos entre a entidade e o governo de Jango, porém, logo se fizeram sentir. Embora nunca tenha assumido caráter francamente de oposição, o CGT criticava a postura supostamente moderada do presidente. Pressionando por mudanças, a organização promoveu uma série de mobilizações, colocando os anseios sindicais no centro do acirrado debate político de então. Em paralelo, os setores mais conservadores rotularam o CGT, pejorativamente, de “Quarto Poder”, acusando João Goulart de querer instaurar uma “república sindicalista” no Brasil. As manifestações de associações empresariais iam na mesma linha, e o encaminhamento das reformas de base de Jango ao Congresso, em março de 1964, disparou a reação da oposição. O CGT chegou a denunciar, em nota divulgada no dia 30 daquele mês, a articulação de um golpe, e movimentou os dispositivos de greve para uma grande paralisação. No entanto, a madrugada de 1º de abril marcou a derrubada de Goulart, com intervenção nas entidades sindicais e o desmantelamento do CGT, além da perseguição a seus líderes.

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