14 de agosto de 1889: tem início a greve nas docas em Londres, decisiva para a consolidação do movimento de trabalhadores no Reino Unido

Há 133 anos, iniciava a greve nas docas em Londres, decisiva para a consolidação do movimento de trabalhadores no Reino Unido.

Greve nas docas de Londres, 1889. Fotografia: Bridgeman Images

Igor Natusch

Associada com a ação coordenada e estratégica de sindicatos, as greves nem sempre são resultado de assembleias e convocatórias. Uma das mais importantes paralisações de fins do século XIX na Inglaterra, a greve dos trabalhadores das docas de Londres surgiu de forma espontânea, iniciada por homens maltrapilhos sem vínculo trabalhista formal e que, ao menos de início, não dispunham de apoio sindical para sua mobilização. Iniciada em 14 de agosto de 1889, a paralisação congelou as transações comerciais no porto de Londres por mais de duas semanas, e tornou-se um evento histórico para a classe trabalhadora do Reino Unido.

O trabalho nas docas inglesas era precário, mal remunerado e, muitas vezes, desumano. A chegada de mercadorias era sazonal e inconstante, podendo ocorrer vários desembarques ao mesmo tempo e, na sequência, dias se passarem sem que aparecesse um navio sequer. As empresas tinham poucos contratados em tempo integral, geralmente em funções estratégicas, e pagava por auxiliares para embarque e desembarque apenas quando necessário. A informalidade era regra, e a natureza incerta da demanda fazia com que os trabalhadores e suas famílias nunca tivessem certeza de quando teriam algum dinheiro em mãos. As convocatórias para o serviço, chamadas “call-on”, não tinham periodicidade e ocorriam de forma degradante: espremidos em galpões cercados por barras de ferro, os candidatos eram escolhidos aleatoriamente por agenciadores, enquanto se empurravam e brigavam entre si pela chance de um dia de trabalho precário.

Em um cenário de angústia e insatisfação, a decisão da East and West India Docks Company de não mais pagar o esperado bônus para quem completasse rapidamente o trabalho foi a gota d’água. A ideia da companhia era garantir que mais navios escolhessem seus atracadouros em detrimento da concorrência, mas a consequência foi outra: indignados, os homens que desembarcavam itens do navio Lady Armstrong cruzaram os braços, determinados a não mais trabalhar até que os pagamentos feitos pelas empresas fossem melhorados substancialmente. 

Iniciado de forma espontânea pelos trabalhadores temporários do porto, o movimento ganhou força a partir da adesão dos estivadores, que exerciam atividades fundamentais para a rotina nos atracadouros. O até então inexpressivo sindicato dos trabalhadores das docas, liderado por Ben Tillett, assumiu a luta dos precarizados e logo tornou-se o principal articulador das manifestações, além de coordenar esforços para obter mantimentos para os grevistas e suas famílias. Outras categorias se uniram à greve, e o porto de Londres ficou completamente paralisado a partir do dia 21 de agosto daquele ano. 

Sensibilizada pelas grandes caminhadas promovidas de forma pacífica pelos grevistas, a opinião pública mostrou-se favorável ao movimento, e a mediação do cardeal Henry Edward Manning, figura muito respeitada pela sociedade londrina, fez com que as negociações finalmente avançassem. No dia 16 de setembro, após uma última grande manifestação no dia anterior, os trabalhos foram retomados e a greve, encerrada. Além de receber mais pelo trabalho e pelas horas extras, ficou acertado que nenhum convocado voltaria para casa sem um pagamento mínimo e que os “call-on” não seriam mais intermediados por agenciadores.

Ao lado de mobilizações semelhantes, como a greve das trabalhadoras das indústrias de fósforos em 1888, a indignação dos homens simples das docas foi de grande significado para o desenvolvimento do sindicalismo britânico. Nos anos seguintes, acelerou-se uma mudança no caráter das associações, que passaram a incorporar trabalhadores e trabalhadoras com pouco ou nenhum conhecimento específico – um contraste considerável com o modelo sindical então vigente na Inglaterra, inclinado a privilegiar categorias com grau elevado de especialização. Outra consequência foi de caráter social: uma vez evidenciadas as péssimas condições de vida dos grevistas, a questão da pobreza entrou de vez nas discussões da sociedade vitoriana de então, disparando movimentos crescentes contra os aspectos mais predatórios e desumanos do modelo capitalista.

2 Responses

  • Olá! Estou fazendo um trabalho para um seminário da faculdade sobre esse período histórico e gostaria de mais informações sobre as greves ocorridas no sec XIX, por preferência. Poderia, por gentileza, entrar em contato para me passar fontes (por exemplo as quais foram utilizadas para produzir essa matéria). Desde já agradeço.

    • Olá, Luan. Entre em contato com nosso jornalista responsável pela seção “O Trabalho na História”, ele ofereceu-se para lhe auxiliar com o tema. Igor Natusch – igornatusch@gmail.com

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