11 de setembro de 1867: é publicado o primeiro volume de “O Capital”, obra seminal de Karl Marx e um dos maiores tratados econômicos de todos os tempos

Há 156 anos, era publicado o primeiro volume de “O Capital”, obra seminal de Karl Marx e um dos maiores tratados econômicos de todos os tempos.

Igor Natusch

Setores fundamentais do pensamento acadêmico, como a teoria política, a economia e a sociologia, seriam profundamente diferentes sem a obra do filósofo alemão Karl Marx. Além de socialista revolucionário e um dos pensadores inaugurais do comunismo (ao lado do amigo e colega Friedrich Engels), Marx contribuiu decisivamente para o debate crítico em torno das relações de trabalho no mundo capitalista, em especial com sua colossal (e volumosa) obra “O Capital”. Apenas a primeira parte foi publicado pelo pensador ainda em vida, com a primeira edição começando a circular na Alemanha no dia 11 de setembro de 1867. 

Chegar a esse volume foi, para Marx, a concretização de um longo processo intelectual. A partir de sua estadia em Paris, entre 1843 e 1845, o pensador mergulhou em um exaustivo estudo das obras econômicas de autores como Adam Smith e David Ricardo, dando início ao que se transformou em sua maior obsessão intelectual. Mesmo com suas intensas atividades políticas, Marx nunca deixou totalmente de lado seu esforço em entender as engrenagens do capitalismo, movendo-se nessa direção em obras como “Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844” e “Contribuição para a Crítica da Economia Política” (1859), importantes etapas antes de seu trabalho mais influente e ambicioso.

O primeiro tomo de “O Capital” é dividido em oito partes, somando 33 capítulos ao todo. Nele, o autor estabelece um conceito central: o capitalismo é movido pela exploração do trabalho, em busca de um percentual que exceda os custos de produção e de remuneração e gere a chamada mais-valia. A partir dessa base teórica, Marx desenvolve uma exaustiva análise das relações econômicas entre os trabalhadores e os proprietários dos meios de produção, tanto do ponto de vista histórico quanto no que se refere a seus mecanismos definidores.

Nesse percurso, é de grande importância a compreensão da chamada dialética marxista, que diverge do conceito idealista hegeliano ao apontar que o ambiente, a sociedade e os fenômenos físicos não apenas modelam os seres vivos como são, de volta, modelados por suas criações e reações. Em suma, no pensamento marxista, são as ações e condições materiais concretas, e não as ideias, que  mudam o mundo. Com esse conceito em mente, o capitalismo surge em “O Capital” como um modelo inerentemente contraditório, já que seu modo de produção demanda mudanças tecnológicas e novos métodos de produção, mas essas mesmas inovações geram, de forma inevitável, constantes conflitos e crises. 

Apesar de numerosas notas e versões manuscritas, Karl Marx não conseguiu concluir o restante de “O Capital” em vida, vindo a falecer em 1883. Após sua morte, Friedrich Engels encarregou-se de dar forma definitiva ao material deixado pelo colega, completando os volumes II e III em 1885 e 1894, respectivamente. Um quarto volume, “Teorias Sobre a Mais-Valia”, teve sua publicação indicada por comentários de Engels, mas só surgiria a partir de 1905, dez anos após sua morte. Obra discutida de forma apaixonada tanto por admiradores quanto por detratores, “O Capital” é um dos pilares do pensamento econômico moderno, sendo inimaginável qualquer debate nesse campo que não leve em conta pelo menos parte de seu conteúdo.

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